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Testemunhas de Jeová – Despersonalizando o Espírito Santo – #3

A falta de identificação pessoal

Outra objeção apresentada pelos testemunhas de Jeová a fim de, inutilmente, comprovar a impersonalidade do Espírito Santo, é o fato de o Espírito Santo não ter identificação pessoal. Esse argumento é apresentado na obra Estudo perspicaz das Escrituras, que diz:

Visto que o próprio Deus é Espírito e é santo, e visto que todos os seus fiéis filhos angélicos são espíritos e são santos, é evidente que, se o “espírito santo” fosse pessoa, as Escrituras deveríam razoavelmente fornecer alguns meios para diferenciar e identificar tal pessoa espiritual dentre todos esses outros “espíritos santos”. Seria de esperar que, pelo menos, se usasse o artigo definido para ele em todos os casos onde não é chamado de “espírito santo de Deus”, ou não é modificado por alguma expressão similar. Isto pelo menos o distinguiria como O Espírito Santo. Mas, ao contrário, em grande número de casos, a expressão “espírito santo” aparece no grego original sem o artigo, indicando ausência de personalidade.3

Ora, se os testemunhas de Jeová têm dificuldade em diferenciar o Espírito Santo de Deus do próprio Pai ou dos anjos, é sinal de que existe alguma coisa errada em sua teologia de modo geral. Seu argumento não revela erudição, mas deficiência e desconhecimento.

Ao designar a terceira pessoa da Trindade por “Espírito Santo”, as Escrituras já o diferenciam dos demais espíritos que são santos, como no caso dos anjos, embora nenhum dos anjos nunca seja designado diretamente pela expressão “espírito santo”. Quando lemos “o Espírito Santo disse” (Atos 13.2), ou “mentiram ao Espírito Santo” (Atos 5.3), ou ainda “todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Romanos 8.14), não nos vem à mente o Pai, o Filho ou os anjos, mas a pessoa divina que conhecemos pelo nome “Espírito Santo”.

Embora as expressões “espírito” e “santo” sejam atributos comuns às pessoas da Trindade, bem como aos anjos, cabe afirmar que, em relação à terceira pessoa da Trindade, os termos aparecem juntos, designando “a Pessoa inefável do Espírito Santo, sem equívoco possível com os outros empregos dos termos espírito e santo” (Catecismo, 1993, p. 172, § 691).

Assim, quando empregados juntamente, os termos “espírito” e “santo” formam o nome daquele que, com o Pai e o Filho, é adorado e glorificado,

o Espírito Santo. A ordem bíblica de batizar “em nome do Espírito Santo” já torna isso plausível (Mateus 28.19).

Os testemunhas de Jeová objetam afirmando que a palavra grega ôvojia (ónoma), traduzida por “nome”, pode significar algo diferente de um nome pessoal, como quando se diz em nome da lei ou em nome do bom senso. “Nome”, nesses casos, indicaria o que tais coisas representam. Para corroborar sua linha de argumentação, elas citam a obra Word Pictures in the New Testament [Quadros verbais do Novo Testamento], de uma grande autoridade no idioma grego, o dr. Archibald Thomas Robertson: “0 uso do nome (ónoma) que se faz aqui [em Mateus 28.19] é comum na Septuaginta e nos papiros para simbolizar poder ou autoridade”. Desse modo, os testemunhas de Jeová argumentam: “Portanto, o batismo ‘em nome do espírito santo’ subentende o reconhecimento deste espírito como tendo por fonte a Deus e como exercendo sua função segundo a vontade divina”.4

A conclusão extraída das palavras do dr. Robertson não é válida pela seguinte razão: Robertson cria na doutrina bíblica da Trindade, e não estaria ensinando o contrário disso em sua obra. De fato, comentando Mateus 28.19, ele afirma que o batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo é o batismo “em nome da Trindade” (1988, p. 254). Quando ele afirmou que “o uso do nome (ónoma) que se faz aqui é comum na LXX [Septuaginta] e nos papiros para simbolizar poder ou autoridade”, estava, na realidade, argumentando contra a espécie de batismo efetuado pela Igreja ortodoxa grega, que pratica a tríplice imersão: o batismo em nome do Pai, em seguida em nome do Filho e depois em nome do Espírito Santo. A disputa gira em torno da preposição elç (eis), que para a Igreja ortodoxa grega significa “para dentro”; enquanto Robertson explica que aqui, em Mateus 28.19, significa simplesmente “em nome”, e não “para dentro”. Daí, então, sua conclusão (extraída indevidamente do contexto na literatura dos testemunhas de Jeová): “0 uso do nome (ónoma) que se faz aqui é comum na LXX [Septuaginta] e nos papiros para simbolizar poder

ou autoridade” (ibid.). A sua conclusão é óbvia: não está em questão o tríplice batismo, mas batizar em nome ou no poder/autoridade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Assim, ao contrário de concordar com a conclusão dos testemunhas de Jeová — como eles indevidamente fazem parecer —, Robertson associa poder ou autoridade à Trindade: ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, em cujo nome os cristãos são batizados. Dessa forma, o Pai, o Filho e o Espírito Santo têm o mesmo poder ou autoridade, pois são o mesmo Deus. Uma “força ativa” não tem “poder” e “autoridade”, nem mesmo figurada-mente, pois em nenhum lugar das Escrituras tal coisa é ensinada.

Quanto ao uso do artigo definido, os testemunhas de Jeová afirmam que a expressão “Espírito Santo”,“em grande número de casos […] aparece no grego original sem o artigo, indicando ausência de personalidade”.

Respondemos, em primeiro lugar, que os testemunhas de Jeová tomaram o cuidado de dizer em grande número de casos, pois, se dissessem em todos os casos, seriam rapidamente desmascarados, pois o termo “Espírito Santo” também é acompanhado de artigo definido em muitos outros lugares. Nesse caso, o argumento dos testemunhas de Jeová se desfaz pelo seu contrário, pois se “Espírito Santo”, sem artigo, indica ausência de personalidade, então o uso do artigo definido indicaria a personalidade do Espírito Santo. E é justamente o que acontece.

Contudo, recorrer à ausência ou ao uso do artigo definido para provar ou deixar de provar a personalidade de alguém não é correto à luz das particularidades do idioma grego. 0 grego do Novo Testamento conta com três gêneros: masculino, feminino e neutro (em português, só há os dois primeiros). A palavra grega traduzida por “espírito”, Jtveüjxa {pneuma), é neutra, que exige o artigo neutro, quando o autor julgar necessário. 0 artigo pode ser usado ou não, sem que isso detraia a personalidade do Espírito Santo. As Escrituras designam a terceira pessoa da Trindade de diversas formas: 1
1. Espírito (sem artigo: João 3.5 etc.) ou o Espírito (com artigo: Marcos 1.10,12; Atos 2.4 etc.).

2. Espírito Santo (sem artigo: Lucas 4.1; 11.13 etc.) ou o Espírito Santo (com artigo: Mateus 28.19; 2Coríntios 13.13 [v. 14 na NM] etc.).

3. 0Espírito,o Santo (ambos com o artigo: Atos 1.16; 5.3; 28.25 etc.).

Vê-se que não há uniformidade nas Escrituras em relação ao uso do artigo neutro toda vez que se fala do Espírito Santo. Há casos em que o artigo é usado, como há casos em que não é. Isso não deve constituir nenhum obstáculo para a personalidade do Espírito Santo. Sobre essa questão, convém citar o comentário de William Carey Taylor (1986, p. 594, § 539) acerca do uso do artigo na língua grega:

Quando se emprega o artigo, o substantivo é definido; quando não se emprega, o substantivo pode ser definido ou indefinido. […] É essencial esforçarmo-nos para alcançar o ponto de vista grego. Nunca devemos falar de “omissão do artigo”. 0 grego não omitiu o que é diferente no nosso idioma, mas escreveu segundo a sua própria índole. Se não há artigo, é porque não lhe era natural usá-lo.

Assim, a ausência do artigo não indica necessariamente falta de personalidade. 0 argumento dos testemunhas de Jeová, portanto, carece de base sólida, e não subsiste ao grego do Novo Testamento.

Conclusão

Os heresiarcas dos testemunhas de Jeová correm o sério risco de, ao defender com unhas e dentes enunciados doutrinais desprovidos de piedade e base bíblica, pecar contra o Espírito Santo. E contra esse pecado Jesus foi categórico: “Quem falar contra o Espírito Santo não será perdoado, nem nesta era nem na era que há de vir” (Mateus 12.32). Que Deus se apiede dos tais, abrindo-lhes a mente antes que seja muito tarde.

A fé no Espírito Santo como Ser pessoal e Deus verdadeiro, assim como o Pai e o Filho, é uma convicção que ultrapassa um simples enunciado doutrinai. Como afirmou Luigi Padovese (1999, p. 84), “Trata-se de uma profissão de esperança e de confiança no Deus trinitário”.

Para finalizar, queremos voltar à introdução deste capítulo, na qual vimos uma das razões pelas quais Macedônio, bispo de Constantinopla, negava a divindade e a personalidade do Espírito Santo: a ausência de quaisquer referências à divindade do Espírito Santo no Concilio de Ni-ceia (325 d.C.), no qual foi ressaltada a divindade de Cristo e sua igualdade de essência com o Pai. A fé trinitária parecia, para o bispo apóstata, muito tardia (o mesmo argumento é empregado pelos testemunhas de Jeová). Sobre o Espírito Santo, o Credo niceno originariamente dizia: “Cremos no Espírito Santo”, sem explicações adicionais. Mas é na pena de Gregório de Nazianzo (330-390), “O Teólogo”, que encontramos o porquê de o Espírito Santo ser o último na revelação das pessoas da Santíssima Trindade. Trata-se do que ele chamou de “pedagogia progressiva da condescendência divina” (apud Catecismo, 1993, p. 170, § 684):

O Antigo Testamento proclamava manifestamente o Pai, mas obscuramente o Filho. O Novo manifestou o Filho, fez entrever a divindade do Espírito. Agora o Espírito tem direito de cidadania entre nós e nos concede uma visão mais clara de si mesmo. Com efeito, não era prudente, quando ainda não se confessava a divindade do Pai, proclamar abertamente o Filho e, quando a divindade do Filho ainda não era admitida, acrescentar o Espírito Santo como um peso suplementar, para usarmos uma expressão um tanto ousada. […] É através de avanços e de progressões “de glória em glória”, que a luz da Trindade resplandecerá em claridades mais brilhantes.

Pr.Raul
Pr.Raul
Pastor do Ministério Nascido de Novo e coordenador do Seminário Teológico Nascido de Novo, Youtuber e marido da Irmã Vanessa Ângelo.

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