TERCEIRA REGRA – Hermenêutica
Exemplos: 1. No contexto achamos expressões, versículos ou exemplos que nos esclarecem e definem o significado da palavra obscura. Ao dizer Paulo: “quando lerdes, podeis compreender o meu discernimento no mistério de Cristo” (Ef. 3:4), ficamos um tanto indecisos com respeito ao verdadeiro significado da palavra mistério. Porém, pelos versículos anteriores e posteriores, verificamos que a palavra mistério se aplica aqui à participação dos gentios nos benefícios do Evangelho. Encontra-se a mesma palavra em sentido diferente em outras passagens, sendo necessário, em cada caso, o contexto para determinar o significado exato.
“Quando éramos menores, estávamos servilmente sujeitos aos rudimentos do mundo” (Gál. 4:3, 9-11). Que são os rudimentos do mundo? O que vem depois da palavra nos explica que são práticas de costumes judaicos.
Este vocábulo também é usado noutro sentido, determinando o contexto sua correta interpretação.
“O salário do pecado é a morte“, diz o apóstolo Paulo. O sentido profundo desta expressão faz ressaltar de uma maneira viva a expressão oposta que a segue: “mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna” (Rom. 6:23). Outro tanto sucede em relação à fé, quando João diz: “quem crê no Filho tem a vida eterna“, pintando ao vivo a palavra crer pela expressão oposta: “o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo. 3:36).
Tratando-se do administrador infiel temos indicada sua conduta como digna de imitação; porém, pelo contexto vemos limitado o exemplo à prudência do administrador, com exclusão total de seu procedimento desonesto (Luc. 16:1-133).
Falando Jesus do cego de nascimento, disse: “Nem ele pecou, nem seus pais”, com o que de nenhum modo afirma Jesus que não houvessem pecado; pois existe no contexto uma circunstância que limita o sentido da frase a que não haviam pecado para que sofresse de cegueira como conseqüência, segundo erroneamente pensavam os discípulos. (Jo. 9:3).
Ao ordenar Tiago no cap. 5:14, que o enfermo “chame os presbíteros da igreja, e estes farão oração sobre ele, ungindo-o com óleo”, entendemos pelo contexto que se trata da cura do corpo e não da saúde da alma, como pretendem os romanistas que, deixando de lado o contexto, como de costume, imaginam encontrar aqui apoio para a extrema-unção.
Advertências. Tratando-se do contexto, é preciso advertir que às vezes se rompe o fio do argumento ou narração por um parênteses mais ou menos longo, depois do qual volta ao assunto. Se o parênteses é curto, não há dificuldade; porém se é longo, como sucede seguidamente nas epístolas de Paulo, requer particular atenção.
Em Efésios 3, por exemplo, encontramos um parênteses que vai desde o verso 2 até o último, reatando o fio do assunto no primeiro versículo do cap. 4. Vejam-se outros exemplos em Filip. 1:27 até 2:16; Rom. 2:13 até 16; Efés. 2:14 até 18, etc., e note-se que a palavra porque aqui, em lugar de introduzir, como de costume, uma razão determinada do por quê de alguma cousa, serve para introduzir um parênteses.
Por outra parte, devemos recordar que os originais das Escrituras não têm a divisão em capítulos e versículos; assim é que o contexto não se encontra sempre dentro dos limites do capítulo que meditamos, nem tampouco acaba sempre o fio de um argumento ou de uma narração com o fim do capítulo. É preciso ter isso em conta.
Chamando Jesus ao vinho sangue da aliança, compreendemos pelo contexto que a palavra sangue deve ser tomada em sentido figurado, desde o momento que Jesus, no dito contexto, volta a chamar ao vinho de fruto da videira, embora o tivesse abençoado. Daí vemos, além disso, que não vem de Jesus o ensino da transformação do vinho em sangue verdadeiro de Cristo, como pretendem os que fazem caso omisso do contexto, torcendo as Escrituras para sua perdição. (Mat. 26:27, 29.) Havendo dito Jesus: “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna” e “minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida”, etc., os discípulos ficaram assombrados e começaram a murmurar; dessa circunstância devemos esperar no contexto alguma explicação, se devemos tomar em sentido material ou espiritual estas declarações. Efetivamente lemos: “O espírito (o sentido espiritual das palavras ditas) é o que vivifica; a carne (o sentido carnal) para nada aproveita.” Comer a carne e beber o sangue equivale, pois, a apropriar-se pela fé do sacrifício de Cristo na cruz, do que, como se sabe, resulta a vida eterna do crente. (Jo. 6:48-63.)
Falando Paulo de edificar, “se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha”, vemos pelo contexto que fala do próprio Cristo como o fundamento do edifício, devendo-se tomar estas palavras no sentido espiritual, representando, sem dúvida, doutrinas legítimas e falsas com suas conseqüências. (1 Cor. 3:12.)
A expressão: “Será salvo, todavia, como que através do fogo”, explica-se a si mesma pelo contexto, o qual nos ensina que não se trata de salvar uma alma qualquer, mas a servos de Deus, e que não é fogo que se atiça em suas pessoas, mas em sua infortunada construção de material, qual feno e palha; além disso, que não é um fogo purificador, mas destruidor, a saber, o fogo do escrutínio rigoroso no dia da manifestação de Cristo; estes “cooperadores de Deus” salvar-se-ão, pois, no sentido de um construtor que, na catástrofe do incêndio do edifício que está levantando, pode escapar, sim, porém perdendo tudo, exceto a vida. O que significa a mesma expressão, dizendo: “será salvo”, não mediante a permanência no fogo, mas “como que através do fogo“. Só os cegos ao contexto podem sonhar com o purgatório nesta passagem. (1 Cor. 3:5-15.)
Dizendo Paulo que a união entre Cristo e a Igreja é tão intima, que somos membros de seu corpo, de sua carne e de seus ossos, e que deve reinar união tão estreita como entre marido e esposa, continua: “Grande é este mistério.” Que mistério? O contexto o explica em continuação: “mas eu me refiro a Cristo e à igreja” (Efés. 5:32). A união íntima entre Cristo e sua Igreja é, pois, o mistério, e não a união entre marido e mulher, que, por certo, não é nenhum mistério. Porém, os romanistas não só fazem um arranjo com o contexto, mas ainda traduzem a expressão assim: “Grande é este sacramento”, acrescentando em nota explicativa que “a união do marido com a mulher é um grande sacramento”! Deste modo, traduzindo mal e interpretando pior, encontram aqui o fundamento para o que chamam “o sacramento do matrimônio”.
O que acima foi dito basta para compreender a necessidade de ter em conta o contexto a fim de decidir se determinadas expressões devem ser tomadas ao pé da letra ou em sentido figurado.
PERGUNTAS
Advertimos novamente que para proveito positivo é preciso estudar as lições até ao ponto de poder escrever as respostas às perguntas sem fazer uso do texto.