QUINTA REGRA – 1ª PARTE – Hermenêutica

SALMO 3 – Esboços de Salmos
19/09/2016
SALMO 4 – Esboços de Salmos
20/09/2016

QUINTA  REGRA  –  1ª PARTE – Hermenêutica

É necessário consultar as passagens paralelas, “explicando cousas espirituais pelas espirituais” (1 Cor. 2:13, original).

  1. Com passagens paralelas entendemos aqui as que fazem referência uma à outra, que tenham entre si alguma relação, ou tratem de um modo ou outro de um mesmo assunto.
  2. Não só é preciso apelar para tais paralelos a fim de aclarar determinadas passagens obscuras, mas ao tratar-se de adquirir conhecimentos bíblicos exatos quanto a doutrinas e práticas cristãs. Porque, como já dissemos, uma doutrina que pretende ser bíblica, não pode ser considerada no todo como tal, sem resumir e expressar com fidelidade tudo o que estabelece e excetua a Bíblia em suas diferentes partes em relação ao particular. Se sempre se houvesse tido isto presente, não se propagariam hoje tantos erros com a pretensão de serem doutrinas bíblicas.
  3. Neste estudo importante convém observar que há paralelos de palavras paralelos de idéias e paralelos de ensinos gerais.

 

  1. Paralelos de palavras

 

Quanto a estes paralelos, quando o conjunto da frase ou o contexto não bastam para explicar uma palavra duvidosa, procura-se às vezes adquirir seu verdadeiro significado consultando outros textos em que ela ocorre; e outras vezes, tratando-se de nomes próprios, apela-se para o mesmo procedimento a fim de fazer ressaltar fatos e verdades que de outro modo perderiam sua importância e significado.

Exemplos: 1° – Em Gálatas 6:17, diz Paulo: “Trago no corpo as marcas de Jesus.” Que eram essas marcas? Nem o conjunto da frase, nem o contexto no-lo explica. Iremos, pois, às passagens paralelas. Em 2 Cor. 4:10, encontramos em primeiro lugar, que Paulo usa a expressão “levando sempre no corpo o morrer de Jesus”, falando da cruel perseguição que continuamente Cristo padecia, o que nos indica que essas marcas se relacionam com a perseguição que sofria. Porém ainda mais luz alcançamos mediante 2 Cor. 11:23, 25, onde o apóstolo afirma que foi açoitado cinco vezes (com golpes de couro) e três vezes com varas; suplícios tão cruéis que, se não deixavam o paciente morto, causavam marcas no corpo que duravam por toda a vida. Consultando, assim, os paralelos, aprendemos que as marcas que Paulo trazia no corpo não eram chagas ou sinais da cruz milagrosa ou artificialmente produzidas, como alguns pretendem, porém marcas ou sinais dos suplícios sofridos pelo Evangelho de Cristo.

2° – Na carta aos Gálatas 3:27, diz o apóstolo dos batizados: “de Cristo vos revestistes”. Em que consiste estar revestido de Cristo? Pelas passagens paralelas em Rom. 13:13,14 e Col. 3:12,14, tudo se esclarece. O estar revestido de Cristo, por um lado consiste em ter deixado as práticas carnais, como a luxúria, dissoluções, contendas e ciúmes; e por outro em haver adotado como vestido decoroso, a prática de uma vida nova, como a misericórdia, benignidade, humildade, mansidão, tolerância e sobretudo o amor cujos atos os cristãos primitivos simbolizavam no seu batismo, deixando-se sepultar e levantar em sinal de haverem morrido para essas práticas mundanas e de haverem ressuscitado em novidade de vida, com suas correspondentes práticas novas. Assim é que, consultando os paralelos, aprendemos que o estar revestido de Cristo não consiste em haver adotado tal ou qual túnica ou vestido “sagrado”, mas em adornos espirituais ou morais próprios do Cristianismo simples, santo e puro (1 Pedro 3:3-6).

3° – Segundo Atos 13:22, Davi foi um “homem segundo o coração de Deus”. Quererá a Escritura com esta expressão apresentar-nos a Davi como modelo de perfeição? Não, porque não cala suas muitas e graves faltas, nem seus correspondentes castigos. Como e em que sentido, pois, foi homem conforme o coração de Deus? Busquemos os paralelos. Em 1 Samuel 2:35, disse Deus: “Suscitarei para mim um sacerdote fiel, que procederá segundo o que tenha no coração” do que resulta, tomando toda a passagem em consideração, que Davi, especialmente em sua qualidade de sacerdote-rei, procederia segundo o coração ou a vontade de Deus, Esta idéia se encontra plenamente confirmada na passagem paralela do cap. 13, verso 14, onde também verificamos que era em vista do rebelde Saul, e contrário à sua má conduta como rei, que Davi seria homem segundo o coração de Deus.

Se bem que Davi, como vemos pela história e pelos seus Salmos, de modo geral foi homem piedoso, em muitos casos digno de imitação, não nos autorizam de nenhum modo os paralelos de nossa passagem a considerá-lo como modelo de perfeição, sendo seu significado primitivo, como temos visto, que Davi, em sua qualidade oficial, o contrário do rebelde rei Saul, seria homem que procederia segundo o coração ou a vontade de Deus.

4° – Um exemplo da utilidade de consultar os paralelos em relação aos nomes próprios, temo-lo no relato de Balaão, em Números, capítulos 22 e 24, deixando-nos em duvida quanto ao verdadeiro caráter e de sua pessoa. Foi ele realmente profeta? E, em tal caso, qual foi a causa de sua queda? Consultando os paralelos do Novo Testamento, verificamos por 2 Pedro 2:15,16 e Judas 11, que ele foi um pretenso profeta que atuava levado pela paixão da cobiça, e por Apocalipse 2:14, que por suas instigações Balaque fez os israelitas caírem em pecado tão grande que lhes custou a destruição de 23.000 pessoas.

5° – Convém observar também que por este estudo de paralelos se aclaram aparentes contradições. Segundo 1 Crônicas 21:11, por exemplo, Gade oferece a Davi, da parte de Deus, o castigo de três anos de fome, e segundo 2 Samuel 24:13, lhe pergunta Gade se quer sete anos de fome. Como pôde perguntar-lhe se queria sete e ao mesmo tempo lhe oferece três? Simplesmente porque pelo paralelo de 2 Samuel 21:1, na pergunta de Gade compreendemos que toma em conta os três anos de fome passados já, com o que estão passando, enquanto no oferecimento dos três anos só se refere ao porvir.

6° – Atenção. Ao consultar-se este tipo de paralelos convém proceder como segue: primeiramente buscar o paralelo, ou seja, a aclaração da palavra obscura no mesmo livro ou autor em que se encontra, depois nos demais da mesma época e, finalmente em qualquer livro da Escritura. Isto d necessário porque, às vezes, varia o sentido de uma palavra, conforme o autor que a usa, segundo a época em que se emprega, e ainda, como já temos dito, segundo o texto em que ocorre no mesmo livro.

Exemplos: 1° – Um exemplo de como diferentes autores empregam uma mesma palavra em sentido diferente, encontramo-lo nas cartas de Paulo e Tiago. A palavra obras, quando ocorre só, nas cartas aos Romanos e aos Gálatas, significa o oposto à fé, a saber: as práticas da lei antiga como fundamento para a salvação. Na carta de Tiago se usa a mesma palavra, sempre no sentido da obediência e santidade que a verdadeira fé em Cristo produz. Neste caso, e em casos parecidos, não se aclara, pois, uma pela outra palavra; daí compreendemos a necessidade de buscar paralelos com preferência no mesmo livro ou nos livros do autor que se estuda. Notemos, todavia, que um mesmo autor emprega, às vezes, uma palavra em sentido diferente, em cujo caso também uma expressão explica a outra. Lemos em Atos 9:7, que os companheiros de Saulo, no caminho de Damasco ouviram a voz do Senhor, e no capítulo 22:9 do mesmo livro, que “não perceberam o sentido da voz” ou, como diz outra versão, “não ouviram a voz”. É porque entre os gregos, como entre nós, a palavra ouvir se usava no sentido de entender. Ouviram, pois, a voz e não a ouviram, significando: ouviram o ruído, porém não entenderam as palavras. Do mesmo modo distinguimos entre ver e ver, como o faziam os hebreus, usando a palavra em sentido diferente. Assim lemos em Gênesis 48:8, 10, que Israel “viu” os filhos de José, e em seguida, “os olhos de Israel já se tinham escurecido por causa da velhice, de modo que não podia ver bem”. Significa que os viu confusamente, porém não os podia ver com clareza, sendo necessário colocá-los perto, como também diz o contexto. Busquem-se, pois, os paralelos, com preferência e em primeiro lugar num mesmo autor, porém não se espere, mesmo assim, que sirvam de paralelos sempre todas as expressões iguais.

2° – Prova de como pode mudar o significado de uma palavra segundo a época em que se emprega, temo-la na palavra arrepender-se. Novo Testamento é usada constantemente no sentido de mudar de mente o pecador, isto é, no sentido de mudar de opinião, de convicção íntima, de sentimento, enquanto no Antigo Testamento tem significados tão diferentes que unicamente o contexto, em cada caso, os pode aclarar. Tanto é assim, que no Antigo se diz do próprio Deus que se arrependeu, expressão que nunca é empregada pelos escritores do Novo ao falarem de Deus, exceto no caso de citarem o Antigo Testamento. Daí ser evidente que ao dizer que Deus se arrepende, não devemos de nenhum modo tomar no mesmo sentido do que nós compreendemos por arrependimento de um homem. Devem-se, pois, buscar os paralelos, em segundo lugar, nos escritos que datam de uma mesma época de preferência aos que se puder encontrar em outras partes das Escrituras.

 

PERGUNTAS

  1. Qual é a quinta regra, e que se entende por paralelos?
  2. Por que se devem consultar os paralelos?
  3. Que tipos de paralelos existem?
  4. Que se entende por paralelos de palavras?
  5. Como se explica a palavra marcas em Gál. 6:17?
  6. Por que não significa revestidos em Gál. 3:27, estar coberto com a túnica batismal?
  7. Como se obtém o sentido verdadeiro da expressão de que Davi foi “um homem segundo o coração de Deus”?
  8. Para que servem os paralelos no caso de nomes próprios?
  9. Como se aclaram as aparentes contradições pelos paralelos?
  10. Como se deve proceder ao consultar os paralelos de palavras?
  11. Que exemplos se podem apresentar que demonstrem a necessidade de buscar paralelos num mesmo autor e uma mesma época?

 

Pr.Raul
Pr.Raul
Pastor do Ministério Nascido de Novo e coordenador do Seminário Teológico Nascido de Novo, Youtuber e marido da Irmã Vanessa Ângelo.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *