Orgulho e vergonha. Você nunca teria imaginado que o orgulho e a vergonha são irmãos. Parecem tão diferentes. O orgulho lhe faz estufar o peito. A vergonha lhe faz agachar a cabeça. O orgulho alardeia. A vergonha faz ocultar-se. O orgulho procura ser visto. A vergonha cuida de ser evitada.
Mas não se deixe enganar, as emoções têm o mesmo parentesco e causam o mesmo impacto: o mantêm afastado de seu Pai.
O orgulho diz: «Você é muito bom para Ele».
A vergonha diz: «Você é muito mau para Ele».
O orgulho o afasta.
A vergonha o mantém afastado.
Se o orgulho estiver presente antes de uma queda, a vergonha é o que vai impedi-lo de se levantar depois.
*
Se Madeline sabia fazer algo, era dançar. Seu pai lhe tinha ensinado.
Agora, homens da idade de seu pai a observavam. Ela não prestava atenção nesse detalhe, simplesmente não pensava nisso. Simplesmente fazia seu trabalho e ganhava seus dólares.
E talvez nunca teria pensado nisso, se não fosse pelas cartas que o primo lhe levava. Não uma, nem duas, mas sim uma caixa cheia. Todas dirigidas a ela. Todas de seu pai.
«Seu ex-namorado deve ter delatado você. Chegam duas ou três destas por semana», queixava-se o primo. «Mande seu novo endereço». Ah, mas ela não podia fazer isso. Seria encontrada.
Não se atrevia a abrir as cartas. Sabia o que diziam: que voltasse para casa. Mas se soubesse o que ela estava fazendo não lhe escreveria.
Pareceu-lhe menos doloroso não as ler. De maneira que não o fez. Não nessa semana nem na seguinte quando o primo lhe trouxe mais, e nem na seguinte, quando chegou de novo. Guardou-as no guarda-roupa do clube onde dançava, organizadas de acordo com a data do carimbo do correio. Passava seus dedos por cada uma, mas não se atrevia a abri-las.
Na maior parte do tempo Madeline conseguia controlar suas emoções. Os pensamentos do lar e os pensamentos de sua vergonha se fundiam no mesmo cantinho do seu coração. Mas havia ocasiões em que os pensamentos eram muito fortes para conseguir resistir a eles.
Como aquela vez quando viu um vestido na vitrine de uma loja. Um vestido da mesma cor que o seu pai lhe tinha comprado. Um vestido que tinha achado simples demais para ela. Tinha-o vestido contrariada, e parado em frente ao espelho. «Caramba, está tão alta como eu», seu pai havia lhe dito. E quando ele a tocou, ela se enrijeceu.
Ao ver seu cansado rosto refletido na vitrine da loja, Madeline compreendeu que teria dado mil roupas somente para sentir seus braços outra vez. Saiu da loja e decidiu não passar nunca mais por ali.