Um dos temas mais examinados na crítica textual do Novo testamento, com certeza é o tão chamado “final longo de Marcos”. Vários escritores durante décadas têm comentado a respeito dessa variante textual e a maioria vão dizer que os versículos 9 – 20 são um acréscimo posterior, ou mesmo que os versos teriam sido escritos por Marcos, mas o autógrafo pode ter sido danificado e assim se perdido, tendo vista que alguns documentos antigos não trazem a passagem citada.
Sendo assim, vejamos a passagem como se encontra na bíblia tradução Almeida Revista e Atualizada:
[ 9 Havendo ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana, apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual expelira sete demônios.
10 E, partindo ela, foi anunciá-lo àqueles que, tendo sido companheiros de Jesus, se achavam tristes e choravam.
11 Estes, ouvindo que ele vivia e que fora visto por ela, não acreditaram.
12 Depois disto, manifestou-se em outra forma a dois deles que estavam de caminho para o campo.
13 E, indo, eles o anunciaram aos demais, mas também a estes dois eles não deram crédito.
14 Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, porque não deram crédito aos que o tinham visto já ressuscitado.
15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.
16 Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado.
17 Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas;
18 pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados.
19 De fato, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à destra de Deus.
20 E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam.]
Marcos 16:9-20
Como podemos perceber, são ao todo 11 versículos que são colocados em dúvida pela ala eclética (que adota o texto crítico/egípcio do Novo testamento). Veremos então por que esse argumento é tão defendido.
Quando examinamos materiais de cunho acadêmico que trabalha com a crítica textual do NT, percebemos ali quais são os documentos antigos que não trazem a passagem citada, e assim, notar quais são os manuscritos que são defendidos como os melhores pelos ecléticos.
Por exemplo, para defender que esta passagem não é original, os ecléticos vão se apoiar principalmente nos códices Sinaíticus (א) e no Vaticanus (B), ambos do século IV, além de poucos outros documentos. Também, em relação à citação de pais da igreja (o que também é importante observar), temos Eusébio (sec. IV), Epifânio (sec. V) Jerônimo (sec. V) que também não apoiam.
Então, é baseado principalmente nessas testemunhas citadas acima que muitas bíblias hoje não trazem ou não concordam com esses versículos. Por exemplo, na mesma bíblia ARA, percebe-se os colchetes ([ ]) no verso 9 e, fechando, no verso 20. Os colchetes nas bíblias são exatamente para nos mostrar quais os versículos que esta tradução não concorda em estar ali, como se fossem um acréscimo. Também, em bíblias como a NVI, mesmo trazendo a passagem, você perceberá que não há colchetes, porém, uma nota de rodapé irá trazer a mesma informação, ou seja, que seria um acréscimo posterior ou “esta passagem não conta nos melhores manuscritos”, e isso consequentemente irá gerar dúvidas no leitor, principalmente em relação à inspiração da Palavra.
Vejamos o que nos diz Kurt Aland e Barbara Aland no livro “O Texto do Novo Testamento”, traduzido no Brasil pela SBB:
“Não resta dúvida que 99% dos manuscritos gregos e os resto da tradição trazem o final longo (Mc 16:9 – 20), que no decorrer de muitos séculos teve, por assim dizer, status eclesiástico oficial e estava finalmente enraizada no texto de Marcos. No entanto, em B e א o texto de marcos termina em 16:8” (pg 300).
Os autores, desacreditando na passagem, continuam seus argumentos na página seguinte:
“… um número expressivo de manuscritos gregos – entre eles B e א, os dois mais importantes unciais – se mantém fiel ao texto transmitido na forma mais breve e retém esse texto ao longo dos séculos, pelo menos na forma em que se registra que há dúvidas quanto à originalidade de Mc 16: 9 – 20. Além desses manuscritos, a mesma postura é adotada por traduções antigas e vários pais da Igreja” (pg 301).
Wilson Paroschi, mantendo a mesma posição do casal Aland, escreveu em seu livro “Origem e transmissão do texto do Novo Testamento”, também pela SBB:
“Que a longa conclusão (9 – 20) é antiga, não há nenhuma dúvida, mas isso também não parece ser o bastante para garantir-lhe originalidade. Sua ausência dos grandes maiúsculos do IV século (א e B) não pode ser desprezada…”
Como podemos ver, até o próprio autor reconhece que a passagem é antiga, porém, insiste em afirmar que a mesma não é original. A questão é que os ecléticos sempre irão se apoiar nos códices Sinaíticus e Vaticanus, mesmo eles contendo erros grotescos e discordando entre si, apenas nos quatro evangelhos, mais de 3.000 vezes. Então, por essas e outras torna-se impossível reconhecer a linha eclética como a melhor reconstrução do texto bíblico.
Continua!
No vídeo abaixo comento mais sobre o tema
Referências
Aland, Barbara. O TEXTO DO NOVO TESTAMENTO. Introdução às edições científicas do Novo Testamento Grego bem como a teoria e prática da moderna crítica textual. Barueri, SP : SBB, 2013;
ALMEIDA, João Ferreira. A Bíblia Sagrada Revista e Atualizada, 2ª edição 1993, SBB, São Paulo;
O NOVO TESTAMENTO GREGO (vários autores), 4ª edição revisada, 1993, SBB: 13ª impressão, 2007;
PAROSCHI, Wilson. ORIGEM E TRANSMISSÃO DO NOVO TESTAMENTO. Barueri, SP; SBB, 2012;
PICKERING, Wilbur N. QUAL O TEXTO DO NOVO TESTAMENTO? Papper. Dallas. 1990.
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Me chamo Leydson Oliveira. Sou formado em Pedagogia e pós-graduado em Gestão Escolar. Também tenho Bacharel em Teologia e atualmente sirvo na Igreja Batista da Adoração (IBA) na cidade de Mata Roma - MA.