O Desfecho – Panorama do NT

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20/07/2016
O Cântico De Salomão – Esboços Bíblicos
21/07/2016

O Desfecho – Panorama do NT

Perguntas Normativas:

 

‑ Quais foram os motivos imediatos da conspiração contra Je­sus e da barganha para traí‑Lo?

‑ Quais foram os atos e as palavras de Jesus, na semana imedia­tamente anterior à Sua morte ‑ para as multidões e para os líderes judaicos, em público, e para os Seus discípulos, em particular?

‑ De que maneira a Ceia do Senhor se relacionava à refeição da Páscoa, e qual era a sua significação?

‑ Como foi levado a efeito o julgamento de Jesus, e sob qual ou quais acusações Ele foi crucificado?

‑ Quais são as evidências históricas e o significado teológico da ressurreição de Jesus?

‑ Quais foram as variegadas reações dos discípulos à marcha acelerada dos eventos, que variavam de hora para outra violenta­mente, durante a última semana do ministério público de Jesus?

 

A SEMANA DA PAIXÃO

 

Os peregrinos continuavam chegando em Jerusalém, prove­nientes da Galiléia e de outras regiões, para a festa da Páscoa. O Sinédrio, por isso mesmo, baixou um decreto que buscava infor­mações sobre o paradeiro de Jesus, a fim de que pudesse Ele ser detido e executado. E também conspiraram acerca da morte de Lázaro, devido à força de convicção exercida pelo fato de que ele fora trazido de volta à vida por Jesus. Ler João 11:55 ‑ 12:1,9‑11 (§ 128 a).

 

Jesus ungido por Maria.

Em sua harmonia, Archibald T. Robertson adia a unção de Je­sus, por Maria, até a terça‑feira da semana da paixão, em apa­rente concórdia com Marcos e Mateus. As observações cronoló­gicas do evangelho de João, entretanto, requerem que tal evento seja situado na noite de sábado, antes do domingo de Ramos, imediatamente após o fim de sábado, ao pôr‑do‑sol (vide João 12:1,12). Marcos e Mateus demoram em narrar o episódio a fim de demonstrar a relação entre esse incidente e a barganha feita por Judas, para trair a Jesus. As muitas diferenças quanto aos detalhes, entre essa unção e uma unção similar, feita por uma mulher pecadora, segundo o registro de Lucas 7:36‑50 (§ 59), impedem que confundamos os dois incidentes. Ler Marcos 14:3‑9; Mateus 26 :6‑13 e João 12:2‑8 (§ 141).

Se porventura esteve presente a essa refeição, Simão deve ter sido um leproso curado. De outro modo, devido à impureza cerimonial, ele estava ausente, e a casa é meramente identificada como sua. Talvez ele fosse o pai de Lázaro, Marta e Maria. João complementa a narrativa de Marcos e Mateus, adicionando o detalhe que o perfume foi derramado sobre os pés de Jesus, tanto quanto sobre a Sua cabeça. O perfume custara, no mínimo, trezentos denários, ou seja, o eqüivalente ao salário de um ano inteiro de trabalho de um operário comum, porquanto um denário (cerca de quarenta cruzeiros, ou pouco menos) constituía o pagamento por um dia de trabalho. Judas Iscariotes expressou a idéia de alguns dos discípulos, e sobretudo dele mesmo, de que o perfume deveria antes ter sido vendido para ser arrecadado o dinheiro. O apóstolo João ajunta uma nota editorial, dizendo que Judas Iscariotes não se interessava em distribuir esmolas entre os pobres, mas antes, queria furtar o que fosse posto no tesouro comum dos apóstolos, do qual estava encarregado. Jesus replicou a Judas que aquele ato de terna adoração não fora um desperdício, sob hipótese nenhuma, porquanto Maria havia começado a embalsamar o Seu corpo, em antecipação a Seu sepultamento. Talvez Maria tivesse realmente entendido que Jesus estava prestes a morrer. Por outro lado, ela pode ter tencionado que aquela fosse a unção de um rei governante. Nesse caso, Jesus desejou que se entendesse que, quer ela o houvesse compreendido quer não, ela O tinha ungido para o Seu sepultamento. O fato que Judas ficou embaraçado, ante a reprimenda pública a que Jesus o submeteu, o amargurou até o ponto que, poucos dias mais tardes, ele se ofereceu para trair a Jesus em troca de certo preço.

 

Entrada triunfal.

Ler Marcos 11:1‑11: Mateus 21:1‑11. 14‑17; Lucas 19:29‑44 e João 12:12‑19 (§ 128b). Diversos aspectos da entrada triunfal de Jesus, em Jerusalém, no domingo de Ramos, excitaram as esperanças messiânicas dos judeus. A recente ressurreição de Lázaro reativara as esperanças deles de que Jesus, afinal, mostraria ser um Messias exibidor de poder. Uma vez mais, tal como quando Jesus multiplicou pães para os cinco mil homens, era o período da Páscoa, exatamente a época do ano em que os judeus esperavam que o Messias se daria a conhecer. E Jesus iniciou a Sua entrada triunfal em Jerusalém partindo do monte das Oliveiras, o lugar de onde Zacarias predissera que o reino messiânico seria estabelecido (vide Zacarias 14).

Jesus veio montado em um jumentinho destreinado, o qual jamais fora usado antes com esse ou outro propósito, e, por isso mesmo, apropriado para esse uso sagrado. Podemos inferir, do relato de Mateus, que para manter na linha o jumentinho destreinado, sua mãe era mantida a seu lado. Os ramos de palmeiras, que as multidões espalharam pelo caminho, simbolizavam o nacionalismo judaico, conforme fica demonstrado nas moedas cunhadas com palmeiras, emitidas pelos judeus daquele período. A utilização de ramos de palmeiras, nesta oportunidade, demonstrou que as multidões ainda tinham em mente o aparecimento de um Messias nacionalista e político. Porém, ao invés de entrar a galope na cidade, em um cavalo de guerra, de conformidade com as idéias do povo, Jesus entrou em um jumentinho, como se fora um manso e pacífico monarca espiritual (um sinal positivo de seu caráter messiânico, contudo, consoante a declaração profética que se acha em Zacarias 9:9). A exclamação “Hosana!” era mais ou menos equivalente ao moderno “Deus salve o rei!” E quando os fariseus pediram de Jesus que fizesse silenciar os gritos de Seus discípulos, Ele retrucou que se Seus discípulos não proclamassem Sua missão messiânica, as próprias pedras o fariam. Jesus pode ter querido dar a entender que, do ano 70 D. C. em diante, as pedras derrubadas de Jerusalém e seu templo haveriam de testificar com eloqüência de Seu caráter messiânico. Por certo, Jesus não estava mais procurando manter esse fato como um segredo; pois a crise já chegara. E tal como agiu durante a maior parte dos dias da semana da paixão, Jesus regressou a Betânia, para ali passar a noite, a fim de retornar a Jerusalém no dia imediato.

 

A figueira amaldiçoada e o templo purificado.

Ler Marcos 11:12‑18; Mateus 21:18,19,12,13 e Lucas 19:45‑48 (§ 129). O fato que Jesus amaldiçoou a figueira estéril, a caminho de Jerusalém, não significa que Ele estava mau humorado, porquanto isso foi um ato simbólico (ver abaixo). Poderíamos indagar por qual razão Jesus esperava encontrar figos, quando a estação não era própria para os mesmos. As figueiras da Palestina, entretanto, normalmente retinham alguns figos verdes (ou de inverno), que não haviam amadurecido durante os meses de outono. E quando Jesus uma vez mais purificou o templo, depois de entrar na cidade, o Sinédrio ficou indignado. Não obstante, não ousaram deter a Jesus, na presença de multidões vindas da Galiléia, que eram simpáticas para com Ele.

 

Os gregos.

No templo, alguns gregos, evidentemente prosélitos gentios ou tementes a Deus, que tinham feito uma peregrinação para participar das festividades pascais, solicitaram de Filipe (um nome grego) que lhes fosse concedida uma audiência por Jesus. Filipe transmitiu o pedido a André (outro nome grego) e, juntos, aproximaram‑se de Jesus. Ler João 12.20‑50 (§ 130). Jesus respondeu ‑ embora não tenha sido esclarecido se aos gregos ou se a Filipe e André ‑ que a hora de Seu sofrimento e exaltação finalmente havia chegado. Comparou Ele a Sua morte, sepultamento e ressurreição, e a vida eterna resultante em prol de todos quantos cressem, a uma semente que cai por terra, germina e medra na forma de uma vida multiplicada. Ora, quando Jesus aludiu à Sua morte, os judeus objetaram, dizendo que, nesse caso, Ele não poderia mesmo ser o Messias, conforme o conceito dos judeus, o Messias não morreria. Daí, portanto, concluíram que o moribundo Filho do homem, de quem Jesus falava, necessariamente tinha de ser diferente do Messias imortal, e que Jesus por certo se estava afirmando ser o Filho do homem, e não o Messias.

 

A figueira se resseca.

Na manhã seguinte, a caminho de volta a Jerusalém, os discípulos notaram que a figueira que fora amaldiçoada por Jesus se tinha secado. Como noutros trechos, Mateus abreviou a sua narrativa, de tal modo que, em seu evangelho, a impressão que se tem é que o incidente inteiro ocorreu em um único dia. Mas Mateus esperava que seus leitores entendessem a história, com maiores detalhes, no evangelho de Marcos; pois o confronto com Marcos demonstra que o termo “imediatamente”, em Mateus 21:19, deve ser tomado em sentido lato, como uma referência ao dia seguinte. Ler Marcos 11:19‑25; Mateus 21:19‑22 e Lucas 21:37,38 (§ 131). Muitos estudiosos acreditam que a maldição contra a figueira estéril simboliza o julgamento divino contra Israel (comparar com Lucas 13:1‑9). Porém, tudo o que o próprio Jesus extraiu do incidente foi uma lição a respeito da fé, provavelmente a fim de fortalecer a Seus discípulos, por causa de Sua morte iminente e de Seu retorno aos céus.

 

Debate teológico.

Visto que a presença de multidões simpáticas a Jesus, formadas por peregrinos provenientes da Galiléia, impedia que Ele fosse detido em público, pelos membros do Sinédrio, os líderes judaicos procuraram destruir a Sua influência, lançando‑O no descrédito através de um debate teológico. Foi assim que uma batalha de espirituosidade se desenrolou nos átrios do templo. Ler Marcos 11.27‑12:12; Mateus 21.23 ‑ 22:14 e Lucas 20:1‑19 (§ 132).

 

A autoridade de Jesus.

Quando os judeus indagaram com que autoridade Jesus fazia. “estas cousas”, referiam‑se especificamente a Seus atos de purificação do templo. Jesus contra‑atacou, perguntando se eles eram da opinião que o ministério de João Batista se revestira de autoridade divina (“do céu” eqüivale a “de Deus”), ou se meramente se escudara sobre a autoridade humana. Os representantes do Sinédrio reconheceram o dilema no qual Jesus os apanhara. Pois se declarassem que a autoridade de João Batista viera dos céus, Jesus poderia então indagar deles por que não tinham dado crédito ao testemunho de João Batista acerca do caráter messiânico de Jesus. No outro extremo do dilema, se declarassem que a autoridade de João Batista provinha meramente de homens, perderiam a sua influência sobre as multidões, pois as massas judaicas reconheciam ter sido João Batista um autêntico profeta. Os líderes judeus, por conseguinte, recusaram‑se a responder à pergunta de Jesus.

 

Os dois filhos.

Passou para Jesus a iniciativa no debate teológico. Contou Ele três parábolas. Em cada uma delas, o tema é o desprazer divino com os representantes oficiais da nação judaica. Na primeira dessas parábolas, o pai representa Deus. O filho, que dissera que não obedeceria a seu pai (a ausência do tratamento “senhor”, em sua desavergonhada recusa, é berrante), mas que posteriormente se arrependeu e obedeceu, representa os judeus irreligiosos que estavam se arrependendo e entrando no reino de Deus, em resultado do ministério de Jesus. E o filho que dissera que obedeceria (e que polidamente se dirigira a seu pai com o tratamento de “senhor”), mas não obedeceu, simboliza os líderes judeus, justos a seus próprios olhos, que se recusavam por aceitar o governo de Deus na pessoa de Jesus o Messias.

 

A vinha.

A segunda das três parábolas tem por pano‑de‑fundo as muitas grandes propriedades agrícolas que estavam nas mãos de estrangeiros que viviam na Palestina, tendo‑as arrendado a pobres agricultores judeus. Os períodos de depressão tentavam aqueles agricultores locatários a reter o pagamento que ficavam devendo a seus senhores proprietários das terras. Na parábola, pois, o proprietário da vinha representa Deus. A própria vinha é a nação judaica (comparar com Isaías 5:1,2). E os “lavradores”, a quem a vinha fora arrendada, representam os líderes do judaísmo. Essa nação‑vinha, segundo se esperava, deveria produzir frutos agradáveis a Deus. Os servos, que foram espancados ou mortos pelos lavradores, representam os profetas do Antigo Testamento. E o filho que foi morto, é o próprio Jesus. A destruição dos lavradores prefigura a derrocada da hierarquia judaica, quando da destruição de Jerusalém, no ano 70 D. C. A outorga da vinha aos cuidados de outros representa a transferência do reino de Deus para o novel povo de Deus, a Igreja internacional. A citação extraída de Salmos 118, a respeito da pedra angular, frisa a vindicação do Messias rejeitado, por parte de Deus.

 

As bodas.

Na parábola das bodas, os primeiros a serem convidados representam os judeus, que repeliram a Jesus. A destruição da cidade deles retrata, novamente, os acontecimentos do ano 70 D. C. Aqueles que, finalmente, foram conduzidos ao banquete, são os publicanos, os pecadores e os gentios. Essa terceira parábola, sem embargo, termina com um apêndice que fala acerca de um homem que estava no banquete, mas que não trazia a veste nupcial. Alguns têm suposto que os hospedeiros proviam vestes especiais para essas ocasiões, pelo que também aquele homem não tinha justificativa alguma. O mais provável, todavia, é que a veste nupcial consistia simplesmente de uma roupa recentemente lavada. Vestes sujas e surradas constituíam um insulto para o hospedeiro. O indivíduo sem vestes lavadas, que figura nessa parábola, portanto, representa os falsos discípulos, como, por exemplo, Judas Iscariotes. O termo, “amigo”, mediante o qual o rei se dirigiu àquele homem, é o mesmo que Jesus usou, ao dirigir‑se a Judas Iscariotes, no horto do Getsêmani, ao ser Ele detido por causa da traição de que foi vítima. A observação conclusiva da parábola: “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos”, significa que muitos (freqüentemente eqüivalente a “todos”, no linguajar dos judeus) são convidados a entrar no reino de Deus, mas somente aqueles cujos corações são realmente penitentes são selecionados para participar da mesa do banquete messiânico.

 

O imposto pago a César.

Os herodianos (saduceus que davam apoio à família dos Herodes no poder político) e os anti‑herodianos fariseus, uma vez mais se aliaram contra Jesus, a despeito de suas antipatias mútuas, nos campos da religião e da política. A fim de apanharem a Jesus em uma armadilha, levando‑O a dizer algo de que pudessem acusá‑Lo, enviaram alguns de seus homens mais jovens, os quais mais facilmente poderiam fingir sinceridade do que outros, mais idosos. Iniciando suas propostas com lisonjas indisfarçáveis, perguntaram a Jesus se os judeus deveriam pagar a taxa anual

que os romanos começaram a impor a partir do ano 6 D.C. Quando foi determinada pela primeira vez, tal taxa provocou uma rebelião sob a liderança de Judas, o Galileu (vide Atos 5:37). O pagamento dessa taxa continuava sendo antagonizada por muitos judeus com uma moeda de prata, estampada com a efígie do imperador, o que era contrário aos escrúpulos dos judeus contra as imagens. (Para a circulação geral de dinheiro, na Palestina, os romanos cunhavam moedas de cobre sem a efígie do imperador.). Ler Marcos 12:13‑17; Mateus 12:15‑22 e Lucas 20:20‑26 (§ 133).

O dilema no qual os questionadores tentaram envolver a Jesus, era o seguinte: se Jesus respondesse que os judeus deviam pagar a taxa, haveria de perder Sua popularidade diante das multidões, que odiavam tal taxa. Mas, se Ele aconselhasse a que tal taxa não fosse paga, os oficiais judeus poderiam acusá‑Lo perante os romanos de subversão política, e talvez até mesmo de ser um zelote. Porém, a verdade é que só existiria tal dilema se o reino de Cristo fosse de natureza política, solapando assim a autoridade política de César. Na realidade, porém, a natureza espiritual do reino de Cristo não entrava em choque com a autoridade que César tinha de cobrar uma taxa. Quando Jesus pediu que Lhe entregassem uma moeda daquelas com que era paga tal taxa, isso embaraçou aos judeus: pois, ao apresentar‑Lha eles demonstravam sua tácita aceitação do domínio de César, porquanto era geralmente reconhecido na antigüidade que os domínios de um monarca se extendiam até onde circulavam as moedas por ele cunhadas. Então Jesus indicou que tanto César quanto Deus têm seus respectivos direitos; e o que é pago a eles não é pago como um presente, e, sim, como uma dívida.

 

A ressurreição.

Os saduceus, que não acreditavam que haverá uma futura ressurreição física, foram os próximos a tentar desconcertar a Jesus, ao mostrarem o que sentiam ser um absurdo, naquela doutrina. O caso hipotético por eles expostos, tinha a ver com a lei do casamento levirato, de acordo com o qual um irmão sobrevivente e solteiro de um homem casado que morrera e deixara viúva, deveria casar‑se com a viúva a fim de deixar herdeiro para seu irmão (vide Deuteronômio 25:5,6). Os saduceus, pois, apresentaram a situação de determinada mulher que ter‑se‑ia casado com sete irmãos sucessivos, sob a lei do casamente levirato, sem que deles tivesse tido qualquer filho. Então, triunfalmente, perguntaram de qual daqueles homens ela seria esposa, por ocasião da ressurreição. Ler Marcos 12:18‑27; Mateus 22:23‑33 e Lucas 20:27‑40 (§ 134).

Jesus ridicularizou os saduceus, por não compreenderem eles nem as Escrituras e nem o poder de Deus. Porque a ressurreição não restaurará meramente a vida física. Também alterará o modo de vida, de tal modo que não mais existirá então a instituição do matrimônio. E a razão disso é que a abolição da morte eliminará a necessidade de propagar a raça humana mediante a procriação. Os saduceus, portanto, laboravam em erro, ao imaginarem que a ressurreição simplesmente perpetuaria a vida terrena. Livros posteriores do Antigo Testamento contêm diversos claros textos de prova em favor da doutrina da ressurreição, mas os saduceus aceitavam exclusivamente o Pentateuco como Escrituras plenamente autoritativas. Jesus, assim sendo, valeu‑se da declaração feita por Deus a Moisés, na sarça ardente: “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó”. O argumento de Jesus é que o tempo presente do verbo, “Eu Sou”, (O tempo presente do verbo ser, na declaração “Eu sou” não figura em Marcos e nem no texto hebraico de Êxodo 3:6, mas é subentendido em ambos os lugares, sendo necessário para o fluxo do argumento de Jesus.) dá a entender que Abraão, Isaque e Jacó continuavam relacionados com Deus, e, portanto, continuavam vivos em espírito, pelo menos até os dias de Moisés. Outrossim, visto que originalmente o homem foi criado por Deus como uma unidade de corpo e alma, é inconcebível uma eterna meia existência, apenas da forma espiritual. Ora, pois, se Deus conserva vivos aos mortos, em forma espiritual, sem dúvida pretende reajuntar seus corpos e seus espíritos, quando da ressurreição.

 

Os mais importantes mandamentos.

Um fariseu, então, pediu a Jesus que identificasse o mais importante mandamento do Antigo Testamento, e Jesus lhe respondeu que amar a Deus inteiramente e amar ao próximo como a nós mesmos são o primeiro e o segundo mandamentos, em ordem de prioridade. A sinceridade daquele fariseu serviu de dramático contraste para destacar a falta de sinceridade dos anteriores questionadores de Jesus. Ler Marcos 12:28‑34; Mateus 22:34-40 (§ 135).

 

O Messias divino e davídico.

A iniciativa no debate teológico, passou novamente para Jesus. Ler Marcos 12:35‑37; Mateus 22:41‑46 e Lucas 20:41‑44 (§ 136). Salmos 110:1 é o texto vetero‑testamentário mais constantemente citado no Novo Testamento. Tanto Jesus quanto os fariseus reconheciam tratar‑se de uma profecia messiânica, proferida por Davi, sob a influência do Espírito Santo. Os judeus não criam, de modo geral, que o Messias, haveria de ser um ente divino. Mas, ao indagar por que Davi ter‑se‑ia referido ao Messias como “meu Senhor”, Jesus está deixando entendido que o Messias deveria ser divino, tanto quanto humano.

 

A denúncia contra os escribas e fariseus.

Ler Marcos 12:38‑40; Mateus 23:1‑39 e Lucas 20:45‑47 (§ 137). A versão de Mateus sobre a mordaz denúncia de Jesus contra os escribas e fariseus é, em muito, a mais detalhada de todas. No segundo versículo dessa narrativa, a cadeira de Moisés alude à cadeira, nas plataformas existentes nas sinagogas, onde os rabinos entre os fariseus interpretavam a lei mosaica para as congregações. Jesus recomendou a Seus ouvintes que obedecessem à lei mosaica, quando ensinada pelos fariseus, mas que não seguissem o exemplo destes últimos. E passou a comparar os rabinos, que adicionavam suas próprias regras à legislação mosaica, a um guia de camelos sem compaixão, que sobrecarrega os seus animais, mas em seguida não move um dedo sequer para ajustar a carga, a fim de que haja equitativa distribuição de peso para ambos os lados. Os “filactérios” (versículo 5) são alusivos às bolsinhas de couro que continham cópias de porções da lei, e que eram fixadas ao braço esquerdo e à testa do indivíduo. Os fariseus mandavam fazê‑las notoriamente grandes, a fim de exibirem a sua piedade. Tal exibicionismo também incluía o prolongamento das borlas azuis, nos cantos de suas vestes, usadas em consonância com o trecho de Números 15:37-41.

O versículo nove, na versão de Mateus, não proíbe o uso do termo “pai”, pelos membros de uma família, mas veda seu uso religioso de modo que confira aos homens uma autoridade que pertence exclusivamente a Deus. Nos versículos dezesseis e seguintes, Jesus censura os fariseus por terem perdido a perspectiva certa, pois não davam prioridade às porções mais importantes da lei. Ao invés disso, magnificavam detalhes minúsculos, a fim de darem a impressão de uma mais profunda espiritualidade. Hortelã, endro e cominho eram ervas minúsculas, usadas como tempero ou medicamento. O mosquito era um pequeno inseto imundo, e o camelo era um volumoso animal imundo. Os fariseus coavam o vinho em pedaço de pano ou em uma peneira fina, procurando assegurar‑se de que não engoliriam algum inseto imundo, ao beberem o vinho. Essa passagem termina com um lamento, expresso por Jesus, devido à vindoura destruição de Jerusalém.

 

A oferta da viúva.

A história do “quadrante da viúva” (na verdade, ela deu duas pequenas moedas correspondentes àquele valor) teve lugar no gazofilácio ou tesouro, um lugar, na área do templo, onde os judeus depositavam suas ofertas em dinheiro. Ler Marcos 12:41‑44 e Lucas 21:1‑4 (§ 138).

 

O discurso do monte das Oliveiras.

Ante a exclamação que alguém fez, relativamente à beleza e aos ornatos do templo, Jesus retrucou fazendo negra predição sobre sua futura destruição. Alguns dos discípulos, diante disso, indagaram quando isso ocorreria e como poderiam saber que se aproximava o fim da nossa era e a parousia. (Parousia é termo grego comumente usado para indicar o segundo advento de Cristo, e significa presença, chegada, vinda especialmente a chegada de um rei ou imperador, ou uma visita real; portanto, palavra mui apropriada para indicar a vinda de Cristo em glória real.) A longa resposta de Jesus é conhecida como “o Pequeno Apocalipse”, ou o “Discurso do Monte das Oliveiras”, por causa do monte desse nome, onde ele foi proferido. Jesus previu doutrinas falsas, guerras, terremotos, fomes, pragas e perseguições. Porém, em meio a todas essas calamidades, o evangelho, finalmente chegará a todas as nações. A angústia chegará a seu ponto culminante de intensidade durante a tribulação, os últimos e poucos anos, antes do retorno de Cristo em poder e majestade.

 

A abominação da desolação.

As instruções de Jesus a Seus seguidores parece ter visado sobretudo àqueles que estarão vivendo na Palestina durante a tribulação. Esses deverão aguardar “a abominação desoladora”, predita por Daniel (9:27; 11:31 e 12:11). Essa expressão se refere à contaminação do templo, o que fará com que o mesmo venha a ser olvidado por judeus piedosos, tal como no período dos Macabeus, quando Antíoco Epifânio ordenou que fosse erigido um altar dedicado a Zeus, no templo, e um animal imundo foi sacrificado sobre esse altar, com o resultado que os judeus ortodoxos se recusaram a adorar ali até que Judas Macabeus purificou e reconsagrou o templo. Alguns sustentam que Jesus estava aludindo à futura profanação do templo, mediante a imagem do imperador romano, nas insígnias usadas pelo exército romano que capturou e destruiu a cidade de Jerusalém no ano de 70 D. C. Porém, o confronto com os trechos de Daniel 9:27; II Tessalonicenses 2:4 e Apocalipse 13:11 ss. favorece a idéia que Jesus se referia ao ato de um ímpio governante, chamado “anti‑cristo”, “homem do pecado” ou “besta”, e que será o déspota mundial do período ainda futuro da tribulação. Esse ato romperá um acordo feito com os judeus, forçando‑os então a cessar os sacrifícios oferecidos a Deus em seu templo (reedificado) e exigindo deles que adorem a imagem do anti‑cristo, ali levantada.

Conforme disse Jesus, ao ocorrerem tais acontecimentos, os Seus seguidores de Jerusalém e da Judéia deveriam fugir para as montanhas. Uma vez mais, alguns têm visto o cumprimento dessas palavras na fuga dos judeus cristãos, de Jerusalém para Pela, na Transjordânia, pouco antes do cerco de Jerusalém, no primeiro século cristão. Porém, embora o caminho atravessasse regiões montanhosas, a própria Pela não estava situada em terreno montanhoso. E Jesus ajuntou, sem detença, que “logo em seguida à tribulação daqueles dias “Ele retornaria, com o acompanhamento de certos fenômenos celestes. Não obstante, Jesus não retornou então, e agora o ano 70 D.C. faz parte da história antiga. Os eventos do ano 70 D.C. e proximidades talvez tivessem prefigurado o que Jesus aqui dizia, mas dificilmente cumpriram as Suas predições. Para benefício de seus leitores gentios, Lucas alterou a difícil expressão judaica, “abominação desoladora”, apresentando, em seu lugar, uma descrição sobre o cerco, captura e pilhagem de Jerusalém, por parte de povos gentílicos. Porém, o mais provável é que nem mesmo Lucas se referisse ao ano 70 D.C., e ao prolongado período de controle gentílico sobre Jerusalém, porquanto ele conserva a ordem que ordena a fuga para os montes, em contrário do que os cristãos judeus fizeram naquele tempo. Antes, as referências existentes em Lucas, tal como em Marcos e Mateus, apontam para a futura dominação de Jerusalém pelos gentios, durante a porção final da tribulação.

 

A segunda vinda.

O fim de nossa era terá lugar em meio a perturbações cósmicas. A conflagração de guerra e a fumaça das cidades incendiadas e dos campos de batalha haverão de obscurecer a luz do sol e da lua. Os meteoritos (estrelas cadentes) haverão de riscar o firmamento noturno. Então Jesus retornará a este mundo, na qualidade de Filho do homem. “Essa geração” ‑ isto é, a geração que começar a contemplar os portentos da tribulação (A ambigüidade das palavras “esta geração” deixa em aberto a possibilidade para que cada geração, depois da de Cristo em diante, seja aquela que experimente os acontecimentos finais desta era.) ‑ poderá estar certa de que o fim está verdadeiramente próximo, embora o dia e a hora específicos continuem incertos. Nem mesmo Jesus sabia então qual a ocasião precisa. Isso parece subentender que, embora Jesus sempre tivesse tido a capacidade de valer‑se de Sua onisciência divina (e de Sua onipotência), Ele só o fazia quando isso era parte de Seu ministério messiânico. Assim, por exemplo, Ele teve de aprender como se fora uma criança, e nessa oportunidade preferiu permanecer desinformado, ao mesmo tempo que exibia um conhecimento sobre‑humano, conforme a ocasião o exigisse. Por semelhante modo, Ele se cansava e se sentia sedento, embora exercesse o poder de curar os enfermos e de ressuscitar aos mortos. Ler Marcos 13:1‑37; Mateus 24 e 25 e Lucas 21:5‑36 (§ 139).

Ao salientar quão inesperada será a Sua volta, no que concerne aos iníquos, Jesus estabeleceu certa comparação com a geração de Noé. O dilúvio apanhou aquela gente inteiramente de surpresa, no decurso de atividades humanas normais ‑ “comiam e bebiam, casavam e davam‑se em casamento”, embora de forma alguma estas devam ser entendidas em mau sentido. Assim também o retorno de Cristo, para julgar, surpreenderá aos espiritualmente despreparados, quer sejam incrédulos confessos, quer seja, como no caso do mau servo da parábola contada neste trecho, algum indivíduo que falsamente se professe discípulo. Todos os verdadeiros seguidores de Jesus serão vigilantes, viverão retamente, e, em resultado disso, estarão preparados para a Sua volta.

A parábola das dez virgens é útil para ilustrar melhor ainda o contraste entre os preparados e os despreparados. O noivo e seus amigos se tinham dirigido à casa da noiva, com o fito de escoltá‑la até à casa do noivo, onde as festividades matrimoniais teriam lugar. No entanto, demoraram‑se até à meia‑noite, provavelmente porque a família da noiva insistia em que o noivo e seus familiares brindassem a noiva com um dote mais rico. Isso exibe a relutância da família da noiva em desistir de sua filha, mas também elogia ao noivo por haver escolhido urna jovem tão destacada, que merecia um dote maior. Finalmente, porém, o noivo e seus acompanhantes trouxeram a noiva, em cortejo, até à casa do noivo. (Alternativamente, o noivo já havia conduzido a noiva até a casa, retirara‑se a fim de passar a noite com seus amigos varões, e demorara o seu regresso além de toda a expectativa.)

Entrementes, as dez virgens (a natureza exata do relacionamento entre elas e a noiva ou o noivo é desconhecida) tinham ficado a esperar munidas de lâmpadas, as quais podiam ser ou tochas de trapos enrolados em um pau, que tinham sido mergulhadas por repetidas vezes em azeite, ou então turíbulos de cobre, cheios de piche, azeite e trapos, como combustível, ou mesmo lamparinas de barro, com tubos, pavio e azeite de oliveira, como combustível. As virgens conservavam acesas as suas lâmpadas porque não lhes seria fácil reacendê‑las às pressas, se o cortejo chegasse repentinamente. Cinco das donzelas tolamente negligenciaram a possibilidade de demora, as suas lâmpadas ficaram sem combustível. O suprimento extra de azeite, trazido pelas outras cinco virgens, prudentes que eram, representa o estado de preparação para a volta de Cristo. Ao chegar o noivo, as cinco jovens insensatas se tinham ido, para comprar mais azeite de oliveira. Mas, onde? Era meia‑noite. Esse traço irrealista dramatiza o fato que, chegada a parousia, será tarde demais para alguém preparar‑se.

 

Os talentos.

A parábola dos talentos, por sua vez, ensina que a preparação não consiste apenas de uma atitude mental, mas consiste igualmente do investimento da vida inteira do crente a serviço de Cristo ‑ com os riscos que esse serviço envolve. Um talento valia cerca de 20 mil cruzeiros, em prata, embora tivesse um poder aquisitivo muito maior que isso. Ver também os comentários sobre a parábola lucana das “minas”.

 

As ovelhas e os bodes.

O julgamento das nações, sob os símbolos das ovelhas e dos bodes (vide Mateus 25:31‑46), tem sido alvo de diversas interpretações. Alguns têm reputado a cena como retrato do ato pelo qual ficará determinado quem participará do reino terreno de Cristo, imediatamente após o Seu retorno. A qualificação para a entrada no mesmo, pois, poderia ser encarada como o tratamento apropriado conferido aos judeus, os “irmãos” de Cristo quanto à nacionalidade. Outros, entretanto, interpretam‑na como o bondoso tratamento dispensado aos irmãos de Jesus Cristo, na forma da aceitação das perseguidas testemunhas de Cristo e do evangelho que pregam, ou mesmo na forma de amor por nossos irmãos em Cristo, como um critério demonstrador da salvação, de tal modo que os irmãos seriam as próprias ovelhas, em seu relacionamento para com Cristo e entre elas mesmas. Por último, a cena pode estar retratando o juízo final, no que concerne aos destinos eternos de todos os homens, nada tendo a ver com a entrada em algum reino terreno e temporário.

 

O preço da traição.

Ler Marcos 14:1,2; Mateus 26:1‑5 e Lucas 22:1,2 (§ 140). Jesus predisse Sua detenção e crucificação para dentro de mais dois dias, por ocasião da festa da Páscoa. Os membros do Sinédrio já buscavam oportunidade para detê‑Lo, na ausência de multidões vindas da Galiléia, que O admiravam. O desejo deles e a predição de Jesus tiveram cumprimento quando Judas Iscariotes se ofereceu para ser o traidor, provendo ao Sinédrio a oportunidade de deter a Jesus secretamente, durante as festividades.

Alguns têm procurado justificar os motivos de Judas Isacariotes, dizendo que ele procurava forçar Jesus a uma situação onde o Senhor se visse na contingência de esmagar o poder político de Seus adversários, a fim de estabelecer o Seu próprio reino. Mas o Novo Testamento não retrata a Judas de outra maneira qualquer senão como um homem que, desapontado ante a natureza espiritual da missão messiânica de Jesus, resolveu redimir o que pudesse, do tempo que desperdiçara, seguindo a Jesus. E isso ele fez furtando parte do tesouro apostólico e, por instigação de Satanás, traindo a Jesus em troca de determinado preço. Ler Marcos 14:10.11; Mateus 26:14‑16 e Lucas 22:3‑6 (§ 142).

 

Os preparativos para última ceia.

Ler Marcos 14:12‑16; Mateus 26‑17‑19 e Lucas 22:7‑13 (§ 143). Jesus instruiu a dois de Seus discípulos que entrassem em Jerusalém, procurassem um homem que estivesse carregando um cântaro de água, seguissem‑no até certa casa, e, ali, preparassem a festa da Páscoa. Ordinariamente os homens transportavam odres de água, e mulheres carregavam cântaros. Um homem levando um cântaro de água, portanto, era algo extremamente incomum. A ausência de nomes e o fato que o cenáculo já estava preparado, sugerem‑nos que Jesus fizera arranjos de antemão, com alguma pessoa conhecida, na cidade de Jerusalém. O mais provável é que Jesus não queria que Judas Iscariotes soubesse onde haveriam de celebrar a refeição pascal, a fim de que Judas não informasse às autoridades judaicas antes demais e Jesus não tivesse tempo para participar da refeição da Páscoa, para instituir a Ceia do Senhor e para proferir o Seu discurso do cenáculo, como é chamado.

 

O tempo da páscoa.

Os evangelistas sinópticos declaram sem rebuços que, na noite de quinta‑feira da semana da paixão, Jesus e os doze comeram a refeição pascal (vide Marcos 14:12,17; Mateus 26:17,20 e Lucas 22:7,14). De acordo com muitos eruditos, João contradiz aos demais evangelistas, ao indicar que os judeus não comeram a refeição pascal senão já na sexta‑feira à noite, depois da morte e do sepultamento de Jesus. João 18:28 é trecho que estipula: “Eles [os judeus] não entraram no pretório para não se contaminarem, mas poderem comer a páscoa” ‑ isso depois de João haver‑se referido ao cenáculo, onde os evangelistas sinópticos colocaram a refeição da Páscoa. Superficialmente, parecia que, segundo João, ou Jesus e os doze participaram da Páscoa antes da maioria dos judeus, ou que Jesus e os doze jamais chegaram realmente a comer da mesma. Alhures, no quarto evangelho, no entanto, o vocábulo “Páscoa” refere‑se à festividade que perdurava por uma semana inteira, e não somente à refeição em que era ingerido o cordeiro pascal. João, portanto, pode ter querido dizer que embora os judeus já tivessem comido do cordeiro pascal na noite anterior, ao mesmo tempo em que o fizeram Jesus e Seus discípulos, não queriam tornar‑se cerimonialmente incapazes de participar das demais observâncias festivas da semana.

Também se tem argumentado que a assertiva: “E era a parasceve [ou sexta‑feira] pascal…” (João 19:14), dentro da narrativa sobre o julgamento de Jesus, parece subentender que a Páscoa teria lugar ainda no dia seguinte, porquanto algumas versões, ao invés de “parasceve”, dizem “preparação”. Porém, “preparação” ou “parasceve” era o nome do dia da semana o qual chamamos “sexta‑feira”, e, segundo também já pudemos notar, no evangelho de João, “Páscoa” alude à semana inteira de festividades, sem o intuito de dar a entender que o cordeiro pascal ainda teria de ser morto, assado e ingerido. Um exame mais cuidadoso quanto ao linguajar de João, pois, demonstrará que o quarto evangelho não nega, necessariamente, que Jesus teria comido o cordeiro pascal, juntamente com Seus discípulos, no prazo regulamentar.

Uma explicação alternativa busca reconciliar João e os evangelistas sinópticos, supondo que Jesus e os doze comeram a refeição pascal mais cedo que a maioria dos judeus. Assim sendo, os evangelistas sinópticos estariam corretos ao afirmar que a última ceia foi uma refeição pascal, e João estaria correto ao dar a entender que os outros judeus não comeram da refeição pascal senão na noite da sexta‑feira da paixão. É possível que Jesus e Seus discípulos, à semelhança da comunidade essênia de Qumran, seguissem um calendário levemente diverso do calendário do corpo principal do judaísmo; ou então Jesus pode ter providenciado para que houvesse uma refeição pascal um tanto prematura, porquanto previa que Sua morte ocorreria antes do tempo regulamentar para aquela refeição.

 

Jesus lava os pés dos discípulos.

Ler Marcos 14:17; Mateus 26.20; Lucas 22:14‑16,24‑30 e João 13:1‑20 (§§ 144 e 145). A bulha ambiciosa dos discípulos, cada qual procurando os lugares de maior honra, perto de Jesus, o hospedeiro daquela refeição, contrastou fortemente com o serviço humilde prestado por Jesus, ao lavar os pés de Seus discípulos, o que era trabalho próprio de um escravo. De conformidade com os costumes judaicos, os pupilos de um rabino estavam na obrigação de prestar‑lhe serviços mais harmônicos com os de um escravo, excetuando a lavagem de seus pés, que era serviço por demais braçal e humilde. Neste caso, porém, o rabino fez em favor de Seus discípulos o que nem deles se esperava que fizessem em Seu favor. Jesus deu a Pedro a explanação que a lavagem dos pés representava simbolicamente a purificação diária do pecado. E então ensinou a todos os discípulos que isso também representava a maneira como deveriam prestar serviço humilde uns em favor dos outros.

 

A saída de Judas.

Em seguida, Jesus advertiu que um dos discípulos estava prestes a traí‑Lo. Imediatamente os discípulos começaram a indagar sobre quem seria. Jesus replicou que o traidor estava suficientemente próximo para mergulhar a mão no mesmo prato que Ele.

 

A despeito disso, os discípulos continuaram ignorando o que Jesus queria dizer, exatamente. Nessa pequena confusão, João, estando reclinado em um divã, com as costas voltadas para Jesus, perguntou‑lhe, em particular, quem seria o traidor; e recebeu a resposta de que o traidor seria aquele que agora receberia o pedaço de pão molhado, tradicionalmente dado ao conviva honrado em um banquete. Ato contínuo, Jesus entregou o pedaço de pão molhado a Judas Iscariotes. Com isso, Judas saiu do cenáculo e internou‑se nas trevas da noite. Fazia escuro em mais que um sentido. Ler Marcos 14:18‑21; Mateus 26:21‑25; Lucas 22.2123 e João 13:21‑30 (§ 146).

 

Observações no cenáculo.

Após ter dado o mandamento que os discípulos se amassem mutuamente, Jesus predisse as negações de Pedro, tendo‑o chamado pelo seu antigo nome, Simão, porque então ele não estaria agindo como um forte “homem‑pedra”. Ler João 13:31‑38; Marcos 14:27‑31; Mateus 26:31‑35 e Lucas 22:31‑38 (§ 147). Nos últimos poucos versículos do trecho lucano, Jesus relaxa a urgência envolvida nas missões anteriores, a fim de que agora os discípulos pudessem retornar à vida normal. E quando Jesus recomendou que se comprasse uma espada, os discípulos, imaginando que Jesus queria que eles lutassem, a fim de que Ele mesmo não fosse detido, apresentaram duas espadas. A declaração de Jesus: “Basta”, pôs um triste ponto final ao episódio, porque os discípulos se mostravam uns cabeças‑duras. Duas espadas não teriam sido suficientes para defendê‑Lo! Como poderiam eles imaginar, portanto, que Jesus queria que eles lutassem?

 

A Ceia do Senhor instituída durante a refeição pascal.

A liturgia pascal incluía uma doxologia, vários cálices de vinho distribuídos entre os comensais, a recitação da história do êxodo, pelo hospedeiro, durante a refeição, a ingestão do cordeiro assado, justamente com pão sem fermento e ervas amargosas, tudo concluído com o cântico de salmos.(Vide a citação da Mishna extraída de Pesahim 10.1, 3 ss., em C.K. Barret The New Testament Background, págs. 155‑157.) Em consonância com as expectações judaicas sobre um banquete messiânico, Jesus já havia comparado o reino de Deus com um banquete. Também já havia descrito os Seus sofrimentos com a metáfora de um cálice a ser bebido. Outrossim, a Páscoa comemorava a redenção dada por Deus à nação de Israel, antes escravizada pelos egípcios, em conexão com o sacrifício do cordeiro pascal. Jesus, entretanto, já havia também deixado entendido que Israel agora fora rejeitado como nação. Portanto, instituiu a Ceia do Senhor, a fim de comemorar a redenção de um novel povo de Deus, a Igreja, libertada da servidão espiritual ao pecado, mediante Sua própria morte expiatória sobre a cruz. Ler Marcos 14:22‑25; Mateus 26:26‑29; Lucas 22 17‑20 e I Coríntios 11:23‑26 (§ 148).

Devemos observar que Jesus não abençoou o pão. As palavras “abençoando‑o” são sinônimas da expressão “deu graças”, e significam que Ele louvou a Deus. Os mais antigos manuscritos omitem a palavra “partiu”, nas palavras da instituição da Ceia, no tocante ao corpo de Jesus, simbolizado pelo pão. Assim, pois deveríamos ler: “Isto é o meu corpo oferecido por vós.” Jesus partiu o pão, a fim de que cada discípulo recebesse um pedaço do mesmo; mas não extraiu qualquer significado simbólico desse ato. Na verdade, o corpo de Jesus não foi partido na cruz, conforme mais adiante João deixa bem claro, em sua narrativa sobre a crucificação. O fato que Lucas menciona o cálice tanto antes como depois da distribuição do pão mostra‑nos que sua narrativa não tinha por intuito ser tomada como um relato estritamente cronológico. Na afirmativa de que o sangue de Jesus seria derramado “em favor de muitos”, o vocábulo “muitos” ou é expressão idiomática semítica para “todos”, ou então aponta para a totalidade dos eleitos, conforme se vê igualmente nos escritos sectários entre os Papiros do Mar Morto. Dentro da frase: “Bebei dele todos”, o termo “todos” está vinculado a “vós” (subentendido), não se devendo entender como se Jesus houvesse dito: “Bebei todo o vinho”. O vinho vermelho, no cálice, representava o sangue de Jesus, a base do novo pacto, destoando assim do pacto mosaico, alicerçado sobre o sangue de sacrifícios animais, o que só podia encobrir pecados de maneira provisória e temporária. O sangue de Jesus redime o pecado, ou seja, purifica‑nos totalmente do pecado. Ao concluir a instituição da Ceia, Jesus declarou que haveria de abster‑se de participar novamente do “fruto da videira” até que houvesse o grandioso banquete messiânico, por ocasião da Sua volta.

 

O discurso no cenáculo.

No Seu discurso de despedida, no cenáculo, Jesus prometeu que voltaria algum dia. Durante Sua ausência, os discípulos poderiam orar em Seu nome. Em outras palavras, na qualidade de seguidores Seus, eles deveriam vincular a autoridade de Seu nome às suas orações, porquanto isso lhes garantiria a resposta. Entrementes, o Espírito Santo viria tomar o lugar de Jesus (Jesus chama‑O de “outro Consolador”, em João 14:16) e capacitaria os discípulos a realizarem obras maiores ainda que aquelas realizadas por Jesus ‑ maiores em extensão geográfica, mediante a missão evangelística a todas as nações. O termo “Consolador” (tradução do termo grego Paraclete), aplicado ao Espírito Santo, também significa “ajudador, encorajador, representante e advogado (tanto de defesa quanto de acusação)”. “Mansões” significa “residências”, e provavelmente é palavra que alude não apenas a lugares celestiais, mas também a atuais lugares espirituais permanentes, localizados na pessoa mesma de Cristo, preparados por Sua obra remidora para cada crente. Ler João 14 (§ 149).

Ler João 15 e 16 (§ 150). Nas páginas do Antigo Testamento, a vinha servia de símbolo da nação de Israel. Mas, visto que Deus rejeitara a Israel, a nova e verdadeira vinha passou a ser o próprio Cristo, incluindo todos os que com Ele estiverem unidos, mediante a fé. Cristo não é apenas o tronco, e, sim, a vinha inteira. Na qualidade de ramos, pois, os crentes estão mais do que ligados com Cristo ‑ fazem parte Dele. Jesus exortou aos discípulos para que parmenecessem Nele, isto é, para que vivessem em comunhão com Ele, por meio da obediência aos Seus mandamentos e, particularmente, através do amor mútuo. Jesus também advertiu acerca de futuras perseguições. Porém, em João 16:7 Jesus disse que convinha, ou era vantajoso, para os discípulos, que Ele se fosse e que o Espírito Santo viesse, porquanto o espaço e o tempo não haveriam de limitar as atividades do Espírito, conforme haviam limitado as Suas. Todavia, o Espírito Santo não viria apenas para ministrar consolo, encorajamento e instrução aos discípulos de Jesus. Tal como um advogado de acusação, Ele também imporia convicção aos homens do mundo, a respeito de seu grande pecado de incredulidade para com Cristo, a respeito da vindicação de Cristo da parte de Deus Pai, mediante a exaltação de Cristo de volta aos céus, e a respeito do juízo vindouro deste mundo pecaminoso, conforme já fora previsto pela derrota de Satanás, na cruz. (Vide João 16:8‑11.)

 

A oração sumo-sacerdotal.

Em Sua notável oração intercessória, Jesus rogou acerca da salvaguarda, da santificação e da unidade de Seus discípulos. Ler João 17 (§ 151) .

 

Getsêmani.

O cântico de Salmos 113 ‑ 118, em forma de antifonia, concluía a liturgia da Páscoa. Jesus e Seus discípulos, seguiram então para o jardim do Getsêmani, nas vertentes do monte das Oliveiras, um dos lugares favoritos de Jesus, onde Ele orava. Ler Marcos 14:26,32‑42; Mateus 26.30,36‑46; Lucas 22:39‑46 e João 18:1 (§ 152). Na oração feita por Jesus podemos distinguir claramente a Sua humanidade. Tal como no caso de qualquer ser humano normal, a possibilidade de dor e morte iminentes provocou agitação emocional, e tão intensa para Jesus que Seu suor porejava profusamente, como se fossem gotas de sangue. (Lucas só faz uma comparação; não diz que Jesus suou sangue. Convém notar, entretanto, que a comparação do suor com o sangue é textualmente incerta.) Mas Jesus desejava que fosse cumprida a vontade de Deus mais do que queria escapar da morte. Por conseguinte, resolveu‑se a sorver Sua taça de sofrimentos e de morte.

 

Aprisionamento de Jesus.

Os soldados romanos, a polícia levítica do templo e servos pessoais dos dirigentes judeus, que tinham vindo aprisionar a Jesus no horto do Getsêmani, se tinham preparado para uma possível resistência armada por parte de Seus discípulos. Mas quando Jesus se identificou como aquele a quem queriam, a força atordoadora de Sua personalidade divina temporariamente fê‑los recuar e rolar por terra. Oscular era  a maneira costumeira de saudar a algum venerável rabino, mas, nessa oportunidade, o beijo identificador, dado por Judas, foi uma hipocrisia sem pejo. Na tentativa de defender a Jesus, Pedro decepou a orelha de um servo do sumo sacerdote, de nome Malco. Somente João menciona os nomes de Pedro e Malco. É provável que os evangelhos bem antes de João, se refrearam de citar a Pedro por nome, a fim de protegê‑lo de retaliação enquanto ele estivesse vivo, ao passo que Pedro já tinha falecido quando João escreveu o evangelho que traz o seu nome. João talvez conhecesse pessoalmente ao servo Malco, ou porque mais tarde esse homem se tornara cristão, ou porque o discípulo cujo nome não é dado, mas que era conhecido do sumo sacerdote (vide João 18:15,16), também conhecia pessoalmente a Malco. (É possível que o discípulo cujo nome não é dado, mas que era conhecido pelo sumo sacerdote, fosse o próprio João, porque ele deixa de mencionar seu nome por todo o evangelho Porém, ele também deixa de nomear outros discípulos (vide, por exemplo, 21:1,2). E em João 18:15,16, o conhecido do sumo sacerdote não é identificado com o discípulo amado (João). Outrossim, há algum problema em pensarmos que um jovem pescador galileu, que continuava trabalhando para seu pai, conhecia ao sumo sacerdote, em Jerusalém.)

Lucas exibe seu interesse por questões médicas ao informarnos que Jesus curou a orelha de Malco. Ao submeter‑se à detenção, Jesus insistiu que os Seus discípulos fossem deixados em liberdade. Mas Pedro, com sua impetuosidade, fez a situação ficar tensa, pelo que os discípulos tiveram de fugir. Correndo na fuga, juntamente com eles, um jovem que não pertencia ao círculo dos doze deixou a sua capa nas garras de seus captores em potencial. É perfeitamente possível que esse curioso incidente seja a assinatura sutil de João Marcos, aposta ao evangelho de seu nome. Nesse caso, ele acompanhara a Jesus e aos outros até ao jardim do Getsêmani, provavelmente porque a última ceia tivera lugar em sua casa. De conformidade com Atos 12:12, a casa da mãe de João Marcos veio a tornar‑se local de reuniões da igreja de Jerusalém. Ler Marcos 14:43‑52; Mateus 26.47‑56; Lucas 22:47‑53 e João 18:2‑12 (§ 153).

 

O JULGAMENTO E A CRUCIFICAÇÃO

 

Audições judaica e romana.

O julgamento de Jesus se dividiu em duas partes, a judaica e a romana. Em cada porção houve três audições. A porção judaica do julgamento consistiu de um exame preliminar, por parte de Anás, ex‑sumo sacerdote e figura dominante na liderança judaica; uma audição diante do Sinédrio, à noite ‑ e, portanto, ilegal ‑ durante a qual Jesus foi condenado; e, após a aurora, a formalização do veredito, para encobrir a ilegalidade envolvida no fato que se chegara a tal veredito durante a noite. (Em casos capitais, mais tarde (mas talvez desde antes), as regras forenses judaicas requeriam que os julgamentos tivessem início durante o dia, que fossem suspensos à noite, se porventura não se tivessem concluído, que a maioria de apenas um bastava para a absolvição, mas que a maioria de pelo menos dois era mister para a condenação, que o veredito de absolvição tinha de ser proferido no mesmo dia em que o julgamento começasse, mas que o veredito de condenação teria de esperar até ao dia seguinte, a fim de que os juízes pesassem a decisão condenatória com cuidado, durante a noite, que, por isso mesmo, nenhum julgamento poderia ser iniciado na véspera de um sábado ou dia festivo, e que o acusado não fosse forçado a testificar contra si mesmo, e nem condenado em face de seu próprio testemunho (Talmude Babilônico, Sanhedrin 4:1,3‑5a; 5:1, citado em Barrett, The New Testament Background. págs. 169, 170). Embora houvesse nessas regras algumas falhas, o Sinédrio, ao condenar a Jesus, violou a todas elas. Além disso, esperava‑se que os membros do Sinédrio fossem juízes imparciais, e, no entanto, pelo menos alguns deles tinham participado da detenção de Jesus.) O aspecto romano do julgamento, por sua vez, consistiu de uma audição perante Pôncio Pilatos, governador romano, de uma audição ante Herodes Antipas, e de outra audição perante Pôncio Pilatos novamente.

Perante Anás.

Ler João 18:12‑14, 19‑23 (§ 154), conforme o qual trecho Jesus repeliu a acusação de que Ele encabeçava um movimento subterrâneo de sedição política.

 

Perante Caifás e o Sinédrio.

Ler Marcos 14:53,55‑65; Mateus 26:57,59‑68; Lucas 22:54,63‑65 e João 18:24 (§ 155). Usualmente, o juiz examinador ficava assentado, ao passo que o réu se punha de pé, mas neste caso o juiz procurava intimidar ao acusado, forçando‑o a uma confissão, ao invés de proteger os seus direitos e manter a suposição de sua inocência. Erguendo‑se dramaticamente, Caifás tentou fazer Jesus perder a serenidade, perguntando‑lhe se não tinha uma única palavra de defesa, contra a evidência incriminadora de Sua reivindicação enigmática de que haveria de reedificar o templo no espaço de três dias, se porventura o destruíssem. Os judeus não haviam entendido que Jesus se referira a Seu próprio corpo, como se se tratasse de um santuário. Sabendo, entretanto, que as testemunhas haviam prestado testemunho conflitante contra Ele, Jesus recusou‑se a deixar‑se intimidar. Caifás então espalmou o seu trunfo, perguntando à queima‑roupa se Jesus afirmava ser o Messias e o Filho de Deus. Jesus afirmou que assim era, embora sugerisse ser um Messias diferente do da concepção que Caifás tinha em mente.

Provavelmente a blasfêmia não consistia somente da reivindicação messiânica ‑ evidentemente os judeus sentiam que a história comprovaria a veracidade ou falsidade de qualquer reivindicação de missão messiânica ‑ mas da outra reivindicação de ser Ele o Filho de Deus, a despeito de, no momento, parecer estar despido de poderes divinos. O ato de Caifás, rasgando as próprias vestes, simbolizou dramaticamente o seu horror ante a blasfêmia que acabara de ouvir. O Sinédrio decretou a sentença de morte, mas não foi capaz de executá‑la, porquanto os romanos se arrogavam o direito de impor a pena capital. Na verdade, o próprio Anás fora deposto do ofício sumo sacerdotal por haver executado uma punição capital, durante a ausência de um governador romano. Há alguma dúvida se os judeus podiam executar a alguém por outro meio além da crucificação. Provavelmente os membros do Sinédrio queriam que os romanos crucificassem a Jesus, a fim de evitar o peso total da culpa de haverem morto a Jesus, sob a acusação das populações judaicas, sobretudo as da Galiléia.

 

As negações de Pedro.

Espremida entre as duas audições de Jesus perante o Sinédrio, temos a narrativa da negação de Jesus, por parte de Pedro, por nada menos de três vezes. O Sinédrio se reunia no palácio do sumo sacerdote. Pedro foi capaz de penetrar no palácio devido à influência de um discípulo não designado por nome, mas que era “conhecido do sumo sacerdote”. O sotaque galileu de Pedro levou os circunstantes a suspeitarem que ele também seria discípulo de Jesus, porquanto era de conhecimento geral que Jesus era muito popular na Galiléia. Ler Marcos 14:54,66‑72; 15:1; Mateus 26:58,69‑75; 27:1; Lucas 22:54‑62,66‑71; João 18:15‑18,25‑27 (§§ 156 e 157).

 

Perante o Sinédrio.

A ratificação ao veredito condenatório, o que ocorreu após a alvorada, satisfaz à porção final dos procedimentos legais dos judeus, de acordo com os quais só se poderiam desenrolar julgamentos durante as horas do dia; e isso deu foros de legalidade para os que viam as coisas do lado de fora. No entanto, foi violada a proibição de haver julgamentos em dias festivos, pois corria a semana da Páscoa.

 

O suicídio de Judas.

Judas lamentou‑se do que fizera, mas lhe faltava fé para crer que seria perdoado. As narrações de seu suicídio são um tanto diferentes em Mateus e no livro de Atos. Quiçá o corpo de Judas tivesse caído do lugar onde se enforcara. É irônico que os principais sacerdotes tiveram a cautela de não contaminar o tesouro do templo com o preço do sangue, nos momentos mesmos em que procuravam derramar o sangue de um homem inocente. Ler Mateus 27:3‑10: Atos 1:18,19 (§ 158).

 

Perante Pilatos.

Ler Marcos 15:1‑5; Mateus 27.2, 11‑14; Lucas 23:1‑5 e João 18:28‑38 (§ 159). Uma vez mais é pura ironia que os judeus se preocupassem tanto com a pureza ritual que não quisessem entrar no palácio de um governador gentio, e, no entanto, estavam condenando o seu próprio Messias. A acusação que eles assacaram contra Jesus nada tinha a ver com a suposta blasfêmia, por causa da qual o Sinédrio O condenara. Uma blasfêmia nada teria significado para Pilatos, romano e pagão que ele era. Por conseguinte, as acusações feitas na presença de Pilatos eram acusações de ordem política, forjadas, segundo as quais Jesus seria um rebelde e um imperador rival de Tibério César. Não obstante, o ministério inteiro de Jesus foi desempenhado no esforço constante de ensinar que Seu caráter messiânico não era primariamente político. E quando Pilatos recomendou aos judeus que julgassem a Jesus conforme sua própria lei, ele brincava com o fato que aos judeus faltava autoridade para infligir punição capital. Jesus assegurou a Pilatos de que Seu reino era espiritual, o que ficara comprovado pelo fato que os Seus servos não tinham combatido.

 

Perante Antipas.

Herodes Antipas chegara a Jerusalém a fim de observar as festividades da Páscoa; não porque fosse especialmente piedoso, mas porque desejava manter sua popularidade entre os seus súditos judeus. Pilatos não queria assumir a responsabilidade pela sorte de Jesus. Por essa razão é que enviou Jesus para ser julgado por Herodes. Por ter vindo da Galiléia, Jesus pertencia mesmo à jurisdição de Herodes, afinal. Ler Lucas 23:6‑12 (§ 160). Se porventura Jesus houvesse cumprido o desejo de Herodes de ver a realização de um milagre, provavelmente Herodes teria intercedido em Seu favor. Mas Jesus se recusou ao menos a falar com Herodes, quanto mais realizar um milagre!

 

Perante Pilatos.

Ler Marcos 15:6‑19: Mateus 27:15‑30: Lucas 23:13‑25 e João 18:39 ‑ 19:16 (§§ 161 e 162). Frente a frente com Jesus pela segunda vez, Pilatos deu seu veredito: inocente. Ele sentiu‑se à vontade nessa sua decisão devido ao fato que Herodes Antipas também não encontrara qualquer falta em Jesus. Porém, ao invés de manter de pé sua decisão, Pilatos começou a barganhar com os judeus se preferiam a soltura de Jesus ou a de Barrabás, de confomidade com o costume anual de soltar a um prisioneiro, em sinal de boa vontade. Ironicamente, os judeus mostraram suas preferências por Barrabás, precisamente por ser ele um revolucionário, a acusação mesma que tinham assacado contra Jesus perante Pilatos.

 

A condenação.

O castigo brutal de açoites era, ao ao mesmo tempo um meio de extrair informações e um prelúdio à execução. Também era de hábito que os soldados romanos pudessem divertir‑se a zombar dos condenados. A coroa de espinhos pode ter sido um instrumento de tortura, com o formato de uma coroa de louros imperial, com alguns dos espinhos voltados para dentro, na direção da cabeça de Jesus. O mais provável, entretanto, é que fosse um instrumento de escárnio, e que os espinhos estivessem virados para fora, formando uma coroa radiada, conforme os imperadores da época usavam, imitando os raios do sol. Tendo permitido que Jesus fosse escarnecido e espancado, Pilatos ainda tentou arrancar dos judeus alguma simpatia por Jesus, apresentando‑O naquelas tristes condições, como alguém que já sofrera o bastante. Os judeus, porém, estavam sedentos de sangue. Inadvertidamente, revelaram a razão real pela qual haviam condenado a Jesus: Ele se afirmava Filho de Deus. E visto que tal título pertencia aos imperadores (entre outros), reavivaram‑se os temores de Pilatos no sentido que Jesus poderia ser, realmente, um rival político de César. Mas a possibilidade da divindade de Jesus também pode havê‑lo perturbado. Sem embargo, um novo interrogatório dissipou os seus temores de que Jesus seria uma ameaça política. Mas os judeus puseram‑se a clamar que se Pilatos soltasse a Jesus, então não era amigo de César. Temeroso de perder sua posição de governador, se os judeus apresentassem uma queixa contra ele, em Roma, Pilatos sucumbiu ante as suas ameaças de chantagem. Tentando desvencilhar‑se da responsabilidade, ao lavar simbolicamente as mãos, baixou ordem para que Jesus fosse crucificado.

 

A crucificação.

 

Ora, a crucificação era um método de execução reservado principalmente para criminosos e escravos. Revestia‑se de todas as lúgubres associações da câmara de gás ou da cadeira elétrica hoje em dia. Ler Marcos 15:20‑23; Mateus 27:31‑34; Lucas 23:2633 e João 19:16,17 (§ 163). A cruz que Jesus teve de carregar, mui provavelmente era apenas a barra horizontal, pois a porção vertical da cruz faria porção permanente da armação, já fixada no Gólgota, pois uma cruz inteira teria sido pesada demais para um homem só transportá‑la. Os nomes de Simão o cireneu, de Alexandre e de Rufo eram conhecidos porque, sem dúvida, mais tarde tornaram‑se cristãos. Simão, que carregou a cruz de Cristo uma parte do caminho, era um imigrante judeu vindo de Cirene, cidade da África do Norte. E ao ver mulheres que se lamentavam ao longo do caminho, diante da sorte que esperava a Jesus, Ele as advertiu acerca da vindoura destruição de Jerusalém. Os judeus tinham invocado o sangue Dele sobre suas próprias cabeças e sobre as cabeças de seus filhos. Deus haveria de aceitar a proposta deles. “Bem‑aventuradas as estéreis” foi uma bem-aventurança deveras estranha, porque se pensava que não ter filhos era uma terrível maldição. Quão medonho deve ser o julgamento que faz da própria esterilidade uma bênção! “Porque, se em lenho verde fazem isto, que será no lenho seco?” (Lucas 23:31) foi uma maneira figurada de afirmar que a presente aflição, por causa da qual choravam, tornar‑se‑ia como coisa de nada. As mulheres das altas classes de Jerusalém por costume proviam aos sentenciados à morte uma beberagem narcotizante, que visava a aliviar suas dores. Mas o vinagre oferecido a Jesus, ao que parece foi mais uma peça de zombaria cruel.

 

O título aposto.

Ler Marcos 15:24‑32; Mateus 27:35‑44; Lucas 23:33‑43 e João 19:18‑27 (§ 164). Era usual escrever‑se uma descrição do crime do indivíduo condenado, em uma tabuleta pendurada ao pescoço do crucificado, ou pregada na própria cruz. Pilatos escreveu a acusação contra Jesus como um ato de mofa contra os judeus: Este é o vosso rei, este homem que está sendo crucificado como um criminoso! Jesus ficou pendurado na cruz pelo espaço de três horas, em plena luz do dia (das nove horas da manhã ao meio dia – Usando o método judaico de computar as horas desde o nascer‑do‑sol (e desde o pôr‑do‑sol), Marcos fixa a crucificação na “hora terceita” (15:25), isto é, às nove horas da manhã. Usando o método romano de contar desde a meia‑noite (e desde o meio‑dia), João situa a audição de Jesus perante Pilatos em “cerca da hora sexta” (19:14), isto é, quando ainda era bem cedo pela manhã. O emprego de diferentes cômputos explica a aparente contradição. Ver nota de rodapé, à pág. 142. Outros pensam que a “hora sexta” de João fixa a crucificação ao meio‑dia, e que “hora terceira” são palavras que não faziam parte do texto original de Marcos, porquanto estão ausentes em Mateus e Lucas.), e então, por mais três horas, à meia luz (do meio‑dia às três horas da tarde).

 

As sete últimas palavras.

Os evangelistas registram sete declarações feitas por Cristo, estando Ele encravado na cruz, e que por isso mesmo são conhecidas por “Sete últimas Palavras”.

(1) A primeira foi uma oração solicitando perdão para os Seus inimigos: “Pai, perdoa‑lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lucas 23:34.)

(2) A segunda assegurou ao assaltante penitente de que ele estaria em companhia de Jesus naquele mesmo dia: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.” (Lucas 23:43). A ênfase recai sobre o vocábulo “hoje”, pois o ladrão falara como se o reino ainda estivesse no futuro distante.

(3) A terceira é a entrega da mãe de Jesus aos cuidados do apóstolo João. Ao manter‑se perto da cruz, com alguns dos discípulos, Maria confessava sua lealdade a Jesus. Visto que os meio‑irmãos de Jesus ainda não criam Nele, Maria estava se separando de seus outros filhos, dos quais ela haveria de depender em sua idade avançada. À guisa de última vontade e testamento, pois, Jesus entregou a responsabilidade de cuidar de Sua mãe desolada e solitária a João: “Mulher, eis aí o teu filho… Eis aí a tua mãe.” (João 19:26,27.)

(4) O grito de desamparo: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”, expressou um senso de abandono por parte de Deus (vide Marcos 15:34 e Mateus 27:46, com derivação de Salmos 22:1 ). Não obstante, a fé de Jesus não se abalara, pois Ele disse: “Meu Deus…” O abandono à morte foi motivado pelo fato que Jesus estava levando nossos pecados sobre Si mesmo.

(5) “Tenho sede!” teve origem na angústia física (João 19:28).

(6) “Está consumado!” (João 19:30) foi um brado de vitória. O original grego traz aqui uma única palavra, que algumas vezes era usada em recibos, significando “Pago”. Jesus não estava apenas morrendo. Mas, ao morrer, Ele também realizou a nossa redenção. Ele pagou a nossa dívida pelo pecado.

(7) O brado final dado na cruz antecipou a restauração da comunhão com Deus, imediatamente após Jesus expirar: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!” (Lucas 23:46.) Ler Marcos 15:33‑37; Mateus 27.45‑50; Lucas 23.44‑46 e João 19.28‑30 (§ 165).

 

 

O véu se rasga de alto a baixo.

A cortina do templo, estamos informados, tinha dezoito metros por nove metros de dimensões, e sua grossura era eqüivalente à largura da mão de um homem (cerca de doze centímetros). o rasgar do véu, de alto a baixo, representou um ato divino. Seu significado simbólico é que a morte de Jesus abriu o caminho até à santa presença do Senhor. Ler Marcos 15:38‑41; Mateus 27:51‑56; Lucas 23:45,47‑49 (§ 166).

 

Sepultamento de Jesus.

Ler Marcos 15:42‑46; Mateus 27:57‑60; Lucas 23:50‑54 e João 19:31‑42 (§ 167). Uma vez mais é irônico que os judeus se ocupassem de observâncias pormenorizadas da lei, ao solicitarem que os corpos dos homens crucificados não fossem deixados nas cruzes durante o dia de sábado, que começava ao pôr‑do‑sol da sexta‑feira. A rápida aproximação do pôr‑do‑sol forçou um sepultamento necessariamente apressado e temporário do corpo de Jesus. O túmulo de José de Arimatéia era especialmente próprio para uso sagrado, porquanto nunca antes fora utilizado. Ler Marcos 15.47; Mateus 27:61‑66; Lucas 23:55,56 (§ 168).

 

RESSURREIÇÃO, MINISTÉRIO PÓS‑RESSURREIÇÃO E ASCENSÃO

 

O túmulo vazio.

Ler Marcos 16:1 ; Mateus 28:1‑4 (§ 169 e 170). Chegado o domingo de madrugada, as mulheres chegaram ao túmulo com o intuito de preparar o corpo de Jesus para um sepultamento permanente. Porém, Ele havia ressuscitado! Um anjo rolara para um lado a pedra que fora posta para tapar a entrada do túmulo, não a fim de que Jesus pudesse sair ‑ pois Ele já partira dali ‑ mas a fim de que as mulheres, e, mais tarde, Seus discípulos, pudessem verificar que o sepulcro estava vazio.

 

As mulheres.

Ler Marcos 16:2‑8; Mateus 28.5‑8; Lucas 24:1‑8 e João 10:1 (§ 171). A aparente discrepância entre Marcos e Lucas, que dizem que as mulheres chegaram logo após ter aparecido o sol, por um lado, e João, que diz que Maria Madalena veio quando ainda fazia escuro, por outro lado, é exatamente aquilo que se poderia esperar de narrativas independentes sobre um único acontecimento, além de comprovar que a história sobre a ressurreição de Jesus não é resultado de conivência. Tal discrepância aparente pode ser solucionada se supormos que Maria Madalena chegou um pouco antes das outras mulheres, ou se supormos que, segundo o evangelho de João, as mulheres deram início à sua caminhada quando ainda era escuro, ao passo que, conforme Marcos e Lucas, elas chegaram diante do sepulcro de Jesus quando o dia já despontara. Dois anjos, sob forma humana, anunciaram às mulheres o fato da ressurreição. Marcos e Mateus mencionam apenas o porta‑voz do par de anjos.

 

Pedro e João.

A despeito de tudo, as mulheres continuaram não acreditando que Jesus ressuscitara dentre os mortos, mas pensaram que o Seu corpo fora roubado por alguém. A notícia sobre o sepulcro vazio pareceu conversa tola de mulheres, para os discípulos do sexo masculino. Na corrida que houve para ser feita uma investigação, o discípulo que correu mais do que Pedro e chegou primeiro ao túmulo, foi João. Ler Lucas 24:9‑12; João 20:2‑10 (§ 172).

 

Maria Madalena.

Ler Marcos 16:9‑11; João 20:11‑18 e Mateus 28:9,10 (§§173 e 174). Nesta seção de leitura, a passagem marcana é despida de autenticidade, porquanto os mais antigos e melhores manuscristos omitem o trecho. As palavras de Jesus a Maria: “Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai…”, parecem soar como se fosse errado a Maria tocar em Jesus. No entanto, vê‑se em Mateus 28:9, 10 que outras mulheres crentes tocaram em Jesus, sem Dele receber qualquer reprimenda. E na noite daquele mesmo dia, Jesus convidou aos onze discípulos a que tocassem Nele, para comprovarem a Sua corporalidade. E uma semana mais tarde, Jesus convidou a Tomé para que tocasse Nele. Ao que parece, pois, Maria agarrara‑se a Jesus como que para evitar que Ele jamais se fosse embora novamente. Com isso em mente, a explicação mais simples sobre as palavras de Jesus a Maria jaz no fato que a forma do verbo grego, com sua negativa, significa: “Pára de tocar em mim”. É como se Jesus estivesse dizendo a Maria que ela já recebera provas tangíveis suficientes de Sua ressurreição. E agora chegara o momento dela aprender que, em vista de Ele em breve ter de ascender a Deus Pai, a relação de Maria para com Jesus não mais deveria depender de Sua presença física.

 

O Suborno.

Os membros do Sinédrio subornaram aos soldados que tinham montado guarda ao sepulcro, a fim de espalharem o rumor de que os discípulos de Jesus tinham vindo e roubado o Seu corpo, enquanto eles dormiam. Mas, visto que falhar quando em dever de vigilânvia poderia envolver a pena de morte para soldados romanos, o Sinédrio também prometeu comprar ao governador, para que exercesse tolerância, caso chegasse a ouvir que os soldados tinham, caído no sono quando do cumprimento do dever. Ler Mateus 28:11‑15 (§ 175).

 

Os discípulos de Emaús.

A aldeia de Emaús, na estrada onde Jesus apareceu a dois discípulos, ficava cerca de doze quilômetro a oeste de Jerusalém. Ler Marcos 16:12,13; Lucas 24:13‑35 e 1 Coríntios 15:5a (§§ 176 177).

 

Os Onze.

Naquele primeiro domingo da Páscoa, Jesus apareceu aos onze discípulos (na realidade, eram dez, porquanto Tomé estava ausente e Judas Iscariotes já morrera – “Ante a morte de Judas Iscariotes, “os onze” passou a ser uma designação estereotipada, tal como fora “os doze”; e por isso os evangelhos sinópticos falam de onze, embora, conforme João, Tomé estivesse ausente. Comparar o uso que Paulo faz de “os doze”, em 1 Coríntios 15:5, e similares ocorrências estereotipadas em E. Hennecke, New Testament Apocrypha, editado por W. Scheemelcher e traduzido por R. M. Wilson (Filadélfia: Westminster, 1966), vol. II, pág. :35.) e convidou‑os para que O apalpassem, com o propósito de averiguarem à vontade que o Seu corpo era real, e não mera aparição. A fim de conceder‑lhes uma prova extra, Ele ingeriu alimentos. No domingo seguinte, apareceu‑lhes de novo, desta vez estando Tomé presente, e satisfez às dúvidas expressas por Tomé. Ler Marcos 16:14: Lucas 24:36‑43: João 20:19‑31 e I Coríntios 15:5b (§§ 178 e 179). Quando Jesus soprou sobre os discípulos e disse: “Recebei o Espírito Santo”, Ele estava antecipando o derramamento do Espírito Santo, no dia de Pentecoste. Há certo jogo de palavras envolvendo os vocábulos “soprou” e “Espírito'”, já que ambas retrocedem à mesma raiz grega. O poder de perdoar ou reter pecados envolve ou a autoridade apostólica de estabelecer precedentes na Igreja primitiva, para fins disciplinares, ou a autoridade de todas as testemunhas cristãs de declararem os termos pelos quais os pecados são perdoados, a saber, o arrependimento e a fé em Cristo, e de declararem a razão para a retenção dos pecados, isto é, não quererem os homens arrepender‑se e confiar em Cristo.

 

Os pescadores.

Mar de Tiberíades era outro nome do mar da Galiléia. Tendo regressado à Galiléia, Pedro e seis outros discípulos resolveram pescar uma noite inteira. Mas seus esforços foram vão. Quando, cedo na manhã seguinte, Jesus instruiu‑os para que lançassem suas redes do lado direito do barco, João O reconheceu. De pronto Pedro se vestiu com sua capa exterior, sobre sua túnica interna (pois apresentar‑se somente com esta túnica interna equivalia à nudez), e, atirando‑se à água, nadou cerca de cem metros até à praia. Na praia, Jesus já estava assando peixes sobre algumas brasas, e também dispunha de certo suprimento de pão. Ler João 21 (§ 180).

 

A restauração de Pedro.

Gentilmente, Jesus forçou Pedro a afirmar o seu amor a Ele por três vezes, para contrabalançar a tríplice negação de Pedro. Quando Jesus indagou de Pedro: “Simão, filho de João, amas‑me mais do que estes outros?”, as palavras “estes outros” provavelmente se referiam aos peixes e apetrechos de pesca, por um lado, e aos demais discípulos, por outro lado. Em outras palavras, tu me amas mais que a tua ocupação de pescador? e também me amas mais do que estes outros discípulos me amam? Antes da crucificação, Pedro jactara‑se de que embora todos os outros abandonassem a Jesus, ele morreria com Jesus, se necessário. Em resultado de suas negações, entretanto, Pedro aprendera a humilhar‑se, e, por essa razão, agora já não se ufanava mais de um amor superior ao dos demais discípulos. Pelo contrário, ele simplesmente afirmou: “Tu sabes que te amo”. E Jesus retrucou, comissionando novamente a Pedro como um pastor apostólico, a fim de pastorear a outros discípulos: “Apascenta os meus cordeiros.”

 

A sorte de João.

Quando Jesus predisse que Pedro morreria com idade avançada (nada há nessa predição sobre morte por crucificação de cabeça para baixo, conforme algumas vezes se tem imaginado – “Origenes (segundo diz Eusébio, História Eclesiástica, III, i.2) no século III D. C., foi o primeiro a mencionar esse detalhe provavelmente lendário do martírio de Pedro. Todavia, a predição feita por Jesus, de que Pedro estenderia suas mãos e outro as ligaria e o levaria para onde ele não desejava ir, descreve, eufemisticamente, a preparação de um homem condenado para a crucificação.), Pedro indagou de Jesus qual seria a sorte do apóstolo João. Mas Jesus varreu para um lado a pergunta. Todavia, João indica que a declaração de Jesus fora mal entendida pela Igreja primitiva, como se Jesus tivesse afirmado que João jamais morreria, mas que continuaria vivo até à Segunda Vinda. O versículo 24 parece ser autenticação do quarto evangelho, da parte da igreja onde João escrevera seu evangelho, provavelmente em Éfeso.

 

O final de Marcos.

Ler Marcos 16:15‑20; Mateus 28:16‑20; Lucas 24:44‑53; 1 Corintios 15:6,7; Atos 1:3‑12 (§§ 181‑184). Do trecho de Marcos 16:9 em diante (3§ 173‑184), a coluna da Harmonia da autoria de Robertson, no tocante a Marcos, não pode ser reputada autêntica. Os mais antigos e melhores manuscritos terminam em Marcos 16:8, e os demais discordam das maneiras mais patentes com aquilo que aparece dali por diante no evangelho de Marcos. Mas não sabemos dizer se Marcos tencionava que seu evangelho terminasse em 16:8, ou se o verdadeiro final de seu livro se perdeu.

 

A Grande Comissão.

Na promessa que Jesus faz aos discípulos, de que estaria com eles “até à consumação do século” (Mateus 28:20), a expressão significa, mais exatamente, “até ao fim da era”, e aponta para o segundo advento de Cristo. “Estou convosco” é declaração que nos fez lembrar de “Emanuel… Deus conosco” (Mateus 1:23). A ordem de que fossem evangelizadas as nações veio a ser conhecida por “a Grande Comissão”.

 

Ascenção de Jesus.

Após um ministério pós‑ressurreição de quarenta dias, Jesus ascendeu de volta aos céus, de mãos erguidas, em atitude de bênção sacerdotal.

 

EXCURSO SOBRE A RESSURREIÇÃO DE JESUS

 

A teoria do desmaio.

O fato que Jesus realmente ressuscitou dentre os mortos pode ser averiguado melhor se considerarmos as falhas das alternativas. Uma dessas alternativas é que Jesus apenas aparentou morrer, que caiu em estado de coma e, posteriormente reviveu apenas temporariamente. No entanto, Sua morte é claramente indicada pelo brutal espancamento de que foi vítima, pela seis horas que passou dependurado da cruz, pelo golpe de lança em Seu abdomem, com o resultante esguicho de fluido aquoso e sangue, pelo Seu embalsamamento parcial e por ter sido envolto em mortalhas, e, finalmente, por haver sido fechado o Seu sepulcro. Seria necessária tanta fé para crermos que Jesus não morreu como é mister para crermos que Ele ressuscitou dentre os mortos.

 

Furto.

Outros têm sugerido que os discípulos de Jesus Lhe roubaram o corpo. Mas, para tanto, teriam sido obrigados a dominar os guardas romanos, um feito muito difícil, ou a suborná‑los, outro feito igualmente improvável, porquanto, nesse caso, os guardas estariam sujeitos à punição capital, por não haverem impedido o furto do corpo de Jesus. O fato que as mortalhas jaziam imperturbadas (nem ao menos haviam sido desenroladas!) e que o turbante continua enrolado, posto de um lado, milita contra qualquer precipitada remoção do cadáver, através de roubo. Os ladrões usualmente não empregam tempo em desfazer amarras e pacotes. Nesta contingência, provavelmente teriam levado o corpo com seus envoltórios.

A surpresa, e mesmo a incredulidade dos discípulos, ante a ressurreição de Jesus, servem de outras tantas provas de que eles não furtaram o corpo de Jesus, a menos que a surpresa e incredulidade deles tivessem sido uma fabricação, para dar à narrativa um aspecto mais convincente. Mas isso teria refletido astúcia demasiada por parte daqueles primitivos cristãos. Além disso, é improvável que tivessem sido inventadas lendas, nas quais os apóstolos fossem pintados como incrédulos na ressurreição de Cristo, porque a Igreja primitiva não tardou em reverenciá‑los.

 

Alucinação.

Ainda, alguns têm pensado que os discípulos tiveram alucinações. Porém, o Novo Testamento dá evidências de que Jesus apareceu em diferentes lugares, em oportunidades diversas e para diferentes pessoas, que eram em número de uma a quinhentas pessoas. No décimo quinto capítulo de I Coríntios, Paulo desafia aos incrédulos para que indagassem as testemunhas oculares! As aparições de Cristo foram em número grande demais, e por demais variadas, para que tivessem sido meras alucinações. Outrossim, os discípulos estavam psicologicamente despreparados para ter alucinações, porquanto não esperavam que Jesus ressuscitasse, e, na verdade, chegaram mesmo a descrer dos primeiros testemunhos que O declararam ressurrecto. Tudo quanto os judeus incrédulos precisavam fazer, quando as notícias sobre a ressurreição de Jesus começaram a circular, era apresentar o Seu corpo. Mas nunca o fizeram!

 

O túmulo errado.

Essa mesma objeção milita contra a sugestão que os discípulos vieram ver Jesus no sepulcro errado. Pois, nesse caso, por que os judeus não apresentaram o corpo de Jesus, no sepulcro certo? Sem dúvida sabiam qual era tal sepulcro, pois haviam induzido Pilatos a montar guarda diante do mesmo.

 

Paralelos mitológicos.

Ainda existem aqueles que asseveram que os discípulos moldaram a narrativa evangélica da ressurreição de Jesus segundo os padrões das divindades mortas e revividas da mitologia pagã. Porém, as diferenças são bem maiores que as similaridades. O arcabouço de tais mitos de forma alguma está firmado na história séria, conforme se dá com o arcabouço dos relatos sobre a ressurreição, nas páginas do Novo Testamento. No Novo Testamento não há qualquer conexão com a morte e reavivamento anuais da natureza, segundo se vê nos mitos pagãos da fertilidade. O estilo realista das narrativas evangélicas contrasta violentamente com as fantasias que abundam nos mitos. Acresça‑se que narrativas da ressurreição, perfeitamente completas, figuram imediatamente na Igreja primitiva, sem aquele período intermediário e extenso que se requer para a evolução de mitos detalhados. A triunfal declaração de Paulo de que a maioria das quinhentas pessoas que tinham contemplado a Jesus ressurreto, numa só ocasião e lugar, continuava em vida, as quais, portanto, podiam ser interrogadas a respeito, seria uma declaração incrivelmente audaciosa, se a história toda não passasse de uma criação mitológica.

 

Historicidade.

Alguma coisa ímpar deve ter feito aqueles primeiros discípulos judeus alterarem seu dia de adoração do sábado para o domingo. Ou estavam equivocados ‑ e então os judeus incrédulos poderiam ter esmigalhado o movimento cristão, apresentando o cadáver de Jesus ‑ ou então pespegaram um embuste no mundo ‑ o que é psicologicamente inacreditável, porquanto se dispuseram a sofrer voluntariamente torturas e até a morte, em defesa daquilo que sabiam ser falso. Também seria algo inconcebível, para o mundo antigo, que os fabricantes de tal mito tivessem feito algumas mulheres serem as primeiras testemunhas do Cristo ressuscitado. Não é preciso que consideremos o Novo Testamento uma obra inspirada por Deus para sentirmos a força das evidências históricas em prol da ressurreição de Jesus. As narrativas dos evangelhos precisam ser explicadas mesmo quando não são tidas por divinamente autoritativas. Mas fixar a mente, a priori, sobre a idéia de que tal coisa nunca poderia ter sucedido, é o real obstáculo à crença na ressurreição de Jesus Cristo. (Quanto à historicidade da ressurreição e uma crítica sobre as teorias alternativas, vide J. N. D. Anderson, “The Resurrection of Jesus Christ”, Christianity Today,. XII, 13 (29 de março de 1968), págs. 4[628] – 9[633], com o diálogo e o comentário a respeito no número seguinte (14 [12 de abril de 1968]), págs. 5[677] – 12[684]; F. Morison, Who Moved the Stone? (Londres: Faber & Faber, 1944); J. Orr, The Resurrection of Jesus (Londres: Hodeer & Stoughton, 1908); D. P. Fuller, Easter Faith and History, (Grand Rapids: Eerdmans, 1965).)

 

Conseqüências.

Mas, visto que Jesus deveras ressuscitou, agora existe nos céus um homem que intercede em favor daqueles que Nele crêem, como seu substituto expiatório. E a Sua ressurreição também é garantia de que Ele voltará a este mundo, e de que os que Nele confiam viverão com Ele para sempre.

 

Para discussão posterior.

 

‑ No discurso do monte das Oliveiras, Jesus pareceu ter deixado implícita uma curta ou uma longa demora, antes de Seu retorno à terra?

‑ Com base no discurso de despedida, no cenáculo, e também na Sua oração sumo sacerdotal, ao que parece, o que era mais importante para Jesus, em relação a Seus discípulos, durante Sua futura ausência?

‑ Como explicar que Jesus foi aclamado pelas multidões no domingo de Ramos, mas incorreu no “Crucifica‑o!”, menos de uma semana depois?

‑ Quem foi o responsável pela morte injusta de Jesus?

‑ A narrativa do julgamento e da crucificação de Jesus tem reverberações anti‑semíticas?

‑ Quais grupos desempenhariam quais papéis, se a história da paixão fosse novamente desenrolada em nossos próprios dias?

‑ Por que Jesus apareceu, após a Sua ressurreição, exclusivamente a Seus discípulos? Ou Ele apareceu, realmente, só a Seus discípulos?

 

Para investigação posterior:

 

Vide as obras alistadas às págs. 124s, bem como aquelas que figuram nos rodapés deste capítulo, além das alistadas abaixo:

 

 

Isaías 53, com os comentários de G. L. Archer, In the Shadow of the Cross (Grand Rapids: Zondervan, 1957); E. J. Young Isaiah 33 (Grand Rapids: Eerdmans, 1952); e D. Baron, The Servant of  Jehovah (Londres: Marshall, Morgan & Scott, 1922).

Salmos 22 e 69.

Morris, Leon. The Cross in lhe New Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1965.

‑‑‑ The Apostolic Preaching of the Cross. 3ª edição. Londres: Tyndale, 1965.

Kunneth, W. The Theology of the Resurrection. St. Louis: Concordia, 1965.

 

 

ESBOÇO SUMÁRIO DE UM ESTUDO HARMONÍSTICO DOS EVANGELHOS

 

INTRODUÇÃO

  1. Prólogo lucano (Lucas 1:1‑4)
  2. Prólogo joanino (João 1:1‑18)
  3. As genealogias (Mateus 1:1‑17 e Lucas 3:23‑38)

 

I NATIVIDADE E INFÂNCIA DE JESUS

  1. Anunciação a Zacarias, do nascimento de João Batista (Lucas 1:5‑25)
  2. Anunciação a Maria, do nascimento de Jesus, e a visita de Maria a Isabel com o Magnificat (Lucas 1:26‑56)
  3. Nascimento, outorga do nome e infância de João Batista, com o Benedictus de Zacarias (Lucas 1:57‑80)
  4. Anunciação, a José, do nascimento de Jesus (Mateus 1:18‑25)
  5. Nascimento de Jesus e visita dos pastores (Lucas 2:8‑20)
  6. Circuncisão, outorga do nome e apresentação de Jesus no templo, com a homenagem de Simeão e Ana, incluindo o Nunc Dimittis de Simeão (Lucas 2:21‑38)
  7. Adoração dos Magos, fuga da santa família para o Egito, o retorno e residência em Nazaré (Mateus 2:1‑23)
  8. A visita ao templo (Lucas 2:40‑52)

 

  1. PRIMÓRDIOS DO MINISTÉRIO DE JESUS PELA PALESTINA
  2. Ministério de João Batista (Marcos 1:1‑8; Mateus 3:1‑12 e Lucas 3:1‑18)
  3. O batismo de Jesus (Marcos 1:9‑11; Mateus 3:13‑17 e Lucas 3:21‑33)
  4. A tentação de Jesus (Marcos 1:12,13; Mateus 4:1‑11 e Lucas 4:1‑13)
  5. Testemunho de João Batista sobre Jesus (João 1:19‑34)
  6. Os primeiros discípulos (João 1:35‑51)
  7. Primeiro milagre: transformação de água em vinho, em um casamento em Caná da Galiléia (João 2:1‑12)
  8. A purificação do templo (João 2:.13‑22)
  9. Nicodemos e o novo nascimento (João 2:23 ‑3:21)
  10. Ministérios batizadores paralelos de João Batista e Jesus, com outro testemunho de João (João 3:22‑36)
  11. Encarceramento de João Batista e retirada de Jesus para a Galiléia (João 4:1‑4; Lucas 3:19,20; Marcos]: 14; Mateus 4:12 e Lucas 4:14)
  12. A mulher samaritana (João 4:5‑42)

 

III. O GRANDE MINISTÉRIO GALILEU

  1. Chegada na Galiléia, descrição geral do ministério de pregação e curas de Jesus, cura do filho do nobre e nova residência de Jesus , em Cafarnaum (Marcos 1:14,15; Mateus 4:13,17; Lucas 4:14,15 e João 4:43‑54)
  2. Chamamento posterior dos primeiros discípulos (Marcos 1:16‑20; Mateus 4:18‑22 e Lucas 5:1‑11)
  3. Doutrinamento, curas e exorcismos, incluindo o livramento do endemoninhado na sinagoga de Cafarnaum e a cura da sogra de Pedro (Marcos 1:21‑39; Lucas 4:31‑44 e Mateus 8:14‑17,23‑25)
  4. Purificação de um leproso (Marcos 1:40‑45; Mateus 8:2‑4; Lucas 5:12-16)
  5. Perdão e cura de um paralítico (Marcos 2:1‑12; Mateus 9:1‑8 e Lucas 5:17‑26)
  6. Chamamento de Mateus‑Levi (Marcos 2:13‑17; Mateus 9:9‑13 e Lucas 5:27‑32)
  7. Questão sobre o jejum (Marcos 2:18‑22; Mateus 9:14‑17 e Lucas 5:33-39).
  8. Cura, em dia de sábado, de um aleijado, à beira do tanque de Betesda, com defesa da autoridade de Jesus (João 5:1‑47)
  9. Os discípulos colhem espigas e as comem em dia de sábado (Marcos 2:23‑28: Mateus 12:1‑8 e Lucas 6:1‑5)
  10. Cura do homem da mão mirrada, em dia de Sábado (Marcos 3:1-6; Mateus 12:9‑14 e Lucas 6:6‑11)
  11. Jesus afasta‑se das multidões (Marcos 3:7‑12 e Mateus 12:15‑21)
  12. A escolha dos Doze (Marcos 3:13‑19 e Lucas 6:12‑16)
  13. O Sermão da Montanha (Mateus 5:1 ‑ 8:1 e Lucas 6:17‑49)
  14. A fé do centurião e a cura do seu criado (Mateus 8:5‑13 e Lucas 7:1-10)
  15. Ressurreição do filho único da viúva de Naim (Lucas 7:11‑17)
  16. João Batista e suas dúvidas (Mateus 11:2‑19 e Lucas 7:18‑35)
  17. Ais contra as “cidades privilegiadas” da Galiléia e um convite (Ma­teus 11:20‑30)
  18. Jesus é ungido por uma meretriz (Lucas 7:36‑50)
  19. As mulheres que sustentavam a Jesus e Seus discípulos (Lucas 8:1‑3)
  20. Defesa de Jesus contra a acusação de ser capacitado por Satanás, incluindo o ensino sobre o pecado imperdoável (Marcos 3:19‑30; Mateus 12:22‑37)
  21. O sinal de Jonas (Mateus 12:38‑45)
  22. Os parentes espirituais de Jesus (Marcos 3:31‑35; Mateus 12:46‑50 e Lucas 8:19‑21)
  23. Parábolas do reino: a semente e os solos (mais comumente intitulada do semeador), a semente em desenvolvimento, a semente de mos­tarda, o fermento, o tesouro, a pérola, o joio e o trigo, os peixes bons e maus, e o dono de casa (Marcos 4:1‑34; Mateus 13:1‑53 e Lucas 8:4-18)
  24. Jesus acalma a tempestade (Marcos 4:35‑41; Mateus 8:18,23‑27 e Lucas 8:22‑25)
  25. Os endemoninhados gerasenos (ou gadarenos) (Marcos 5:1‑20; Mateus 8:28‑34 e Lucas 8:26‑39)
  26. Cura da mulher hemorrágica e ressurreição da filha de Jairo (Marcos 5:21‑43; Mateus 9:18‑26 e Lucas 8:40‑56)
  27. Cura dos dois cegos e do endemoninhado mudo (Mateus 9:27‑34)
  28. Rejeição de Jesus em Nazaré (Marcos 6:1‑6; Mateus 13:54‑58 e Lucas 4:16‑31)
  29. A missão dos Doze (Marcos 6:6‑13; Mateus 9:35 ‑ 11:1 e Lucas 9:1‑6)
  30. Decapitação de João Batista e temor culposo de Herodes Antipas (Marcos 6:14‑29; Mateus 14:1‑12 e Lucas 9:7‑9)
  31. Multiplicação dos pães para os cinco mil homens (Marcos 6:30‑46; Mateus 14:13‑23; Lucas 9:10‑17 e João 6:1‑15)
  32. Jesus anda por sobre as águas (Marcos 6:47‑56; Mateus 14:24‑36 e João 6:16‑21)
  33. Discurso sobre o pão da vida (João 6:22‑71)
  34. Pureza ritual e pureza real (Marcos 7:1‑23; Mateus 15:1‑20 e João 7:1)
  35. A fé da mulher siro‑fenícia e a cura de sua filha (Marcos 7:24‑30 e Mateus 15:21‑28)
  36. Multiplicação dos pães para os quatro mil homens (Marcos 7:31 ‑ 8:9; Mateus 15:29‑38)
  37. Discussão sobre os sinais messiânicos (Marcos 8:10‑12 e Mateus 15:39 ‑ 16:4)
  38. O fermento dos saduceus e dos fariseus (Marcos 8:13‑26 e Mateus 16:5‑12)
  39. Confissão de Pedro sobre a missão messiânica de Jesus, a bem-aventurança de Pedro, o alicerce rochoso da Igreja, as chaves do reino, a liberação e a retenção de pecados (Marcos 8:27‑30; Mateus 16:13‑20 e Lucas 9:18‑21)
  40. Predição da paixão, reprimenda a Pedro e palavras sobre a necessidade de levar a cruz, para haver discipulado (Marcos 8:31‑37; Mateus 16:21‑26 e Lucas 9:22‑25)
  41. Transfiguração de Jesus (Marcos 8:38 ‑ 9:8; Mateus 16:27 ‑ 17:8 e Lucas 9:26‑36)
  42. João Batista e Elias (Marcos 9:9‑13; Mateus 17:9‑13 e Lucas 9:36)
  43. Livramento de um menino endemoninhado e observações sobre a fé (Marcos 9:14‑29; Mateus 17:14‑20 e Lucas 9:37‑42)
  44. Predição sobre a paixão (Marcos 9:30‑32; Mateus 17:22,23 e Lucas 9:43‑45)
  45. A taxa do templo (Mateus 17:24‑27)
  46. O espírito de criança e o discipulado (Marcos 9:33‑50; Mateus 18:1‑14 e Lucas 9:46‑50)

AAA. Reconciliação e perdão, incluindo a parábola do servo sem compaixão (Mateus 18:15‑35)

BBB. Natureza do discipulado, em resposta a voluntários (Mateus 8:19‑22  e Lucas 9:57‑62)

CCC. Jornada para atender à festa dos Tabernáculos (João 7:2‑10; Lucas  9:51‑56)

 

 

  1. MINISTÉRIO POSTERIOR NA JUDÉIA E PERÉIA
  2. Debate durante a festa dos Tabernáculos, incluindo a reivindicação de Jesus de ser aquele que dá a água da vida e a luz do mundo, e discussão sobre a descendência de Abraão (João 7:11‑52; 8:12‑59)
  3. Cura e exclusão do cego de nascença (João 9:1‑41)
  4. Discurso sobre o Bom Pastor (João 10:1‑21)
  5. A missão dos setenta (Lucas 10:1‑24)
  6. A parábola do bom samaritano (Lucas 10:25‑37)
  7. Maria e Marta (Lucas 10:38‑42)
  8. A oração do Pai Nosso e a parábola do amigo importuno (Lucas 11: 1 13)
  9. Defesa de Jesus contra a acusação de ser capacitado por Satanás, incluindo a parábola da casa vazia, o sinal de Jonas e observações sobre uma higida visão espiritual (Lucas 11:14‑36)
  10. O farisaísmo (Lucas 11:37‑54)
  11. Observações sobre a hipocrisia, a confiança em Deus, a cobiça (Incluindo a parábola do rico insensato), a vigilância (Incluindo a parábola dos servos sábios e insensato) e a crise messiânica (Lucas 12:159)
  12. O arrependimento e a parábola da figueira estéril (Lucas 13:1‑9)
  13. Cura da mulher corcunda, em dia de sábado, com as parábolas da semente de mostarda e do fermento (Lucas 13:10‑211
  14. Jesus afirma sua deidade (João 10:22‑42)
  15. O número dos salvos e a morte próxima de Jesus, em Jerusalém (Lucas 13:22‑35)
  16. Cura do hidrópico, em dia de sábado, observações sobre a humildade e a parábola do banquete messiânico (Lucas 14:1‑24)
  17. Observações sobre o discipulado (Lucas 14:25‑35)
  18. Parábolas da ovelha perdida, da moeda perdida e dos filhos: o pródigo e o mais velho, em defesa do ministério de Jesus para com os pecadores Lucas 15:1‑32)
  19. Parabolas do administrador injusto e de Lázaro e o rico, sobre os usos correto e errôneo do dinheiro (Lucas 16:1‑31)
  20. Observações sobre as ofensas, o perdão, a fé e a obediência (Lucas 17:1‑10)
  21. A ressurreição de Lázaro (João 11:1‑44)
  22. Conspiração do Sinédrio contra Jesus (João 11:45‑54)
  23. A cura dos dez leprosos (Lucas 17:11‑19)
  24. A presença e a vinda do reino (Lucas 17:20‑37)
  25. Duas parábolas sobre a oração, a viúva e o juiz injusto, e o fariseu e o publicano (Lucas 18:1‑14)
  26. Doutrinamento sobre o divórcio e o casamento (Marcos 10:1‑12; Mateus 19:1‑12)
  27. As crianças e o reino de Deus (Marcos 10:13‑16; Mateus 19:13‑15 e Lucas 18:15‑17)
  28. O jovem rico (Marcos 10:17‑31; Mateus 19:16‑30 e Lucas 18:18‑30)
  29. A parábola dos trabalhadores da vinha (Mateus 20:1‑16)
  30. Predição da paixão, com o pedido de Tiago, João e a mãe deles, quanto a lugares de honra no reino (Marcos 10:32‑45; Mateus 20:1728 e Lucas 18:31‑34)
  31. Cura do cego Bartimeu e seu companheiro (Marcos 10:46‑52; Mateus 20:29‑34 e Lucas 18:35‑43)
  32. Zaqueu (Lucas 19:1‑10)
  33. Parábola das minas (Lucas 19:11‑28)

 

  1. A SEMANA DA PAIXÃO
  2. Chegada dos peregrinos da Páscoa em Jerusalém e conspiração do Sinédrio contra Jesus e Lázaro (João 11:55 ‑12:1,9‑11)
  3. Unção de Jesus por Maria de Betânia (Marcos 14:3‑9; Mateus 26:6‑13 e João 12:2‑8)

C, Entrada triunfal em Jerusalém (Marcos 11:1‑11; Mateus 21:1‑11, 1417; Lucas 19:29‑44 e João 12:12‑19)

  1. A figueira é amaldiçoada e o templo é purificado (Marcos 11:12‑18; Mateus 21:12,13,18,19 e Lucas 19:45‑48)
  2. Gregos pedem entrevista com Jesus, e reação de Jesus ante Sua morte e sua significação (João 12:20‑50)
  3. A figueira estéril se seca (Marcos 11:19‑25; Mateus 21:19‑22 e Lucas 21:37,38)
  4. Debate sobre a autoridade de Jesus (Marcos 11:27-33; Mateus 21:23 27 e Lucas 20:1‑8)
  5. A parábola dos filhos obediente e desobediente (Mateus 21;28‑32)
  6. Parábola da vinha (Marcos 12:1‑12; Mateus 21:33‑46 e Lucas 20:9‑19)
  7. A parábola das bodas (Mateus 22:1‑14)
  8. Questão do pagamento de taxas a César (Marcos 12:13‑17; Mateus 22:15‑22 e Lucas 20:20‑26)
  9. A dúvida dos saduceus sobre a ressurreição (Marcos 12:18‑27; Mateus 22:23‑33 e Lucas 20:27‑40)
  10. Os mais importantes mandamentos (Marcos 12:28‑34; Mateus 22:34-40)
  11. O Messias divino e davídico (Marcos 12:35‑37; Mateus 22:41‑46 e Lucas 20:41‑44)
  12. Denúncia contra os escribas e os fariseus (Marcos 12:38‑40: Mateus 23:1‑39 e Lucas 20:45‑47)
  13. A oferta da viúva pobre (Marcos 12:41‑44 e Lucas 21:1‑4)
  14. Discurso do Monte das Oliveiras, incluindo a tribulação, a abominável desolação, a parousia, as parábolas do dono da casa, do servo fiel e do infiel, das dez virgens dos talentos e do julgamento das ovelhas e dos bodes (Marcos 13:1‑37; Mateus 24 e 25 e Lucas 21:5‑36)
  15. A barganha da traição entre Judas Iscariotes e o Sinédrio (Marcos 14:1,2,10,11; Mateus 26:1‑5, 14‑16 e Lucas 22:1‑6)
  16. Preparativos para a última Ceia (Marcos 14:12‑16; Mateus 26:17‑19 e Lucas 22:7‑13)
  17. A última Ceia:
  18. Jesus lava os pés dos discípulos (Marcos 14:17; Mateus 26:20; Lucas 22:14‑16, 24‑30 e João 13:1‑20)
  19. A retirada de Judas Iscariotes (Marcos 14:18‑21; Mateus 26:21‑25; Lucas 22:21‑23 e João 13:21‑30)
  20. Observações sobre o amor mútuo, as vindouras negações de Pedro e a volta à vida normal (João 13:31‑38; Marcos 14:27‑31; Mateus 26:31‑35 e Lucas 22:31‑38)
  21. Instituição da Ceia do Senhor durante a refeição pascal (Marcos 14:22‑25; Mateus 26:26‑29; Lucas 22:17‑20; I Coríntios 11:23‑26)
  22. O discurso do cenáculo (João 14 ‑ 16)
  23. Oração sumo sacerdotal de Jesus (João 17)
  24. Jesus ora, no horto do Getsêmani (Marcos 14:26,32‑42; Mateus 26:30,36‑46; Lucas 22:39‑46 e João (18:1)
  25. Detenção de Jesus (Marcos 14:43‑52; Mateus 26:47‑56; Lucas 22:47-53 e João 18:2‑12)

 

  1. O JULGAMENTO E A CRUCIFICAÇÃO
  2. Aspecto judaico do julgamento de Jesus:
  3. Audição perante Anás (João 18:12‑14,19‑23)
  4. Audição perante Caifás e o Sinédrio (Marcos 14:53,55‑65; Mateus 26:57,59‑68; Lucas 22:54,63‑65 e João 18:24)
  5. Interlúdio: as negações de Pedro (Marcos 14:54,66‑72, Mateus 26:58,69‑75; Lucas 22:54‑62 e João 18:15‑18,25‑27)
  6. Condenação formal de Jesus, pelo Sinédrio, depois da alvorada (Marcos 15:1; Mateus 27:1 e Lucas 2266‑71)
  7. Suicídio de Judas Iscariotes (Mateus 27:3‑10; Atos 1:18,19)
  8. Aspecto romano do julgamento de Jesus:
  9. Primeira audição perante Pilatos (Marcos 15:1‑5; Mateus 27:2,11 14; Lucas 23:1‑5 e João 18:28‑38)
  10. Audição perante Herodes Antipas (Lucas 23:6‑12)
  11. Segunda audição perante Pilatos e condenação de Jesus (Marcos 15:6‑19; Mateus 27:15‑30; Lucas 23:13‑25 e João 18:39 ‑ 19:16)
  12. A crucificação (Marcos 15:20‑25; Mateus 27:31‑36; Lucas 23:26‑33 e João 19:16‑18)
  13. Divisão das Vestes de Jesus, o título condenatório, os dois criminosos, os escárnios, o vinagre e as sete últimas palavras de Jesus (Marcos 15:26‑37; Mateus 27:37‑50; Lucas 23:34‑46 e João 19:19‑30)
  14. O véu se rasga de alto a baixo, além de outros fenômenos (Marcos 15:38‑41; Mateus 27:51‑56 e Lucas 23:45,47‑49)
  15. O sepultamento de Jesus (Marcos 15:42‑47; Mateus 27:57‑66; Lucas 23:50‑56 e João 19:31‑42)

 

VII. A RESSURREIÇÃO, O MINISTÉRIO PÓ‑RESSURREIÇÃO E ASCENSÃO

  1. O túmulo vazio (Marcos 16:1 e Mateus 28:1‑4)
  2. As mulheres no túmulo (Marcos 16:2‑8; Mateus 28:5‑8; Lucas 24:1‑8 e João 20:1)
  3. Pedro e João no túmulo (Lucas 24:9‑12 e João 20:2‑10)
  4. Jesus aparece a Maria Madalena, no jardim (João 20:11‑18)

 

  1. Jesus aparece a outras mulheres (Mateus 28:9‑10)
  2. O Sinédrio suborna os soldados romanos que tinham guardado o sepulcro de Jesus (Mateus 28:11‑15)
  3. Jesus aparece a dois discípulos (incluindo Cléopas) na estrada de Emaús, além de aparecer a Pedro (Lucas 24‑13‑35; I Coríntios 15:5a)
  4. Jesus aparece aos onze, com a ausência de Tomé (Lucas 24:36‑43; João 20:19‑25 e I Coríntios 15:5)
  5. Jesus aparece, uma semana mais tarde, estando Tomé presente (João 20:26‑31)
  6. Jesus aparece, às margens do mar da Galiléia, a alguns discípulos pescadores, e a restauração de Pedro (João 21).
  7. Outras aparições de Jesus aos onze, aos quinhentos irmãos, a Tiago, e a outorga da Grande Comissão (Mateus 28:16‑20 e I Coríntios 15:6‑7)
  8. Ascensão de Jesus (Lucas 24:44‑53 e Atos 1:3‑12)
Pr.Raul
Pr.Raul
Pastor do Ministério Nascido de Novo e coordenador do Seminário Teológico Nascido de Novo, Youtuber e marido da Irmã Vanessa Ângelo.

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