Neemias Pt.2 – Ânimo em Tempos de Crise

Neemias pt.1 – Quando a Crise Mostra sua Face
01/11/2013
Neemias pt.3 – A Construção em Tempos de Crise
03/11/2013

Então, lhes respondi e disse: O Deus dos céus é o que nos fará pros­perar; e nós, seus servos, nos levantaremos e edificaremos; mas vós não tendes parte, nem justiça, nem memória em Jerusalém. (Ne 2.20).

Na edificação da Casa do Senhor, o líder deve ter prudência e entusiasmo para incentivar a cooperação dos liderados. Neemias era um líder que possuía elevado senso de equi­líbrio. Ao chegar a Jerusalém, não se precipitou em tomar decisões apressadas. Antes de tudo, fez um levantamento da situação em que se encontrava a cidade. Não declarou sequer às pessoas que acom­panhavam os detalhes de sua missão. Só depois, ao estar ciente do que ocorrera, reuniu os líderes da cidade e lhes expôs o que Deus colocara em seu coração, e os convidou a enfrentar a grande obra da restauração. É um dos maiores exemplos de boa administração na Bíblia.

É de vital importância administrar com prudência. Muitos obreiros do Senhor que lideravam ministérios profícuos e reconhecidos, nacional e internacionalmente, são hoje sombras do passado. Vivem no ostracismo eclesiástico porque não foram prudentes. Seus minis­térios desabaram sob o peso dos escândalos ou envolvimentos com práticas desabonadoras para a liderança cristã. Neemias é um exemplo notável de como um homem de Deus deve agir diante das crises que surgem no ministério.

Além da prudência, Neemias soube motivar seus liderados. Mo­tivação é o combustível que a maioria dos obreiros precisa para atuar na liderança de uma igreja ou atuar em cargos ou funções ministe­riais. A chamada de Deus é o primeiro passo, certamente é o ponto de partida que incentiva o obreiro, contudo somente a chamada não move aquele que é chamado. E necessário que, no seu dia a dia, sinta-se entusiasmado para atender ao chamado de Deus. O persona­gem desse comentário era um homem cheio de motivação, não era individualista, pois procurou motivar seus liderados.

No meio eclesiástico já se conhecem vários casos de obrei­ros cônscios do chamado de Deus, que, depois de algum tempo, perdem a motivação diante das lutas e oposições ao seu trabalho. Perder a motivação é perder energia, e sem ela torna-se difícil in­centivar os outros a cooperar com o líder. Ao acompanharmos os passos de Neemias, veremos como deve ser um líder eficaz à frente da obra do Senhor, principalmente em tempos de crise.

As Portas se Abrem com a Oração

Parecia tudo tão difícil. Notícias tão perturbadoras a respeito do que acontecia com o povo de Deus. Um simples copeiro, ainda que honrado, preocupou-se em agir. O que fazer? Neemias orou e Deus entrou em ação. O rei percebeu a preocupação de Neemias (Ne 2.1,2) e indagou o motivo de sua tristeza. A partir desse momento, as ora­ções estavam sendo respondidas. Neemias explicou o porquê de sua tristeza, e Deus tocou no coração do rei para enviá-lo a Jerusalém a fim de reconstruir dos muros (Ne 2.3).

Neemias foi agiu com sabedoria ao interceder por seu povo (Ne 2.4-8). Não quis viajar clandestinamente. Pediu cartas que dessem respaldo legal à sua arriscada viagem. Muitas vezes, sob o pretexto de que a obra é de Deus, há crentes que abusam no descumprimento das leis, e por isso são punidos. As autoridades representam a Lei, e, como cidadãos, precisamos dar exemplo na obediência às leis do país. Desde que elas não confrontem com a “Lei Maior”, que é a Pa­lavra de Deus, o cristão deve ser cumpridor das leis de seu país.

Um Líder Prudente

O sigilo necessário (Ne 2.12). No ano 444 a.C, houve o terceiro re­torno dos judeus da Babilônia sob a liderança de Neemias, com a missão de reconstruir e concluir os muros de Jerusalém (Ne 2.1). Neemias tinha todo o apoio do rei para iniciar e prosseguir com a obra da restauração dos muros de Jerusalém. Com aquela delegação, estava na condição de governador, nomeado pelo Império Persa. No entanto, não se aprovei­tou disso, antes, como homem de fé e oração, soube agir com prudência. Durante três dias rodeou os diversos recantos da cidade, e constatou pessoalmente que as informações que lhe chegaram acerca da ruína da terra de seus pais eram verdadeiras e até mais dramáticas.

Pessoas de confiança. Em sua prudência, não se fez acompa­nhar de grande séquito, e, sendo assim, iniciou sua verificação à noi­te, provavelmente em uma noite enluarada. Apenas convidou poucos homens para acompanhá-lo em sua viagem de inspeção. Na obra do Senhor é sempre interessante desfrutarmos da companhia de pessoas de confiança, a fim de nos acompanhar “à noite”, quando as coisas não estão muito claras. Ainda assim Neemias não declarou a nin­guém o que estava em seu coração “para realizar em Jerusalém”.

Em nossos dias é comum o obreiro sentir os efeitos da presença de pessoas desleais que tentam minar o seu ministério. E preferível trabalhar com pessoas de menos competência técnica, mas que sejam sinceras, a ter em volta de si “sumidades” que possuem o espírito de Judas. O obreiro precisa trabalhar com “homens tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza…” (Ex 18.21).

Se Neemias desfrutasse da companhia de homens desonestos e traidores, todos os seus planos seriam prejudicados e os inimigos prevaleceriam. Devemos pedir a Deus que envie homens honestos, a fim de que atendam o que Paulo ensinou ao jovem discípulo Timó­teo: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15).

Um Convite para a Edificação

Revelando os planos no tempo certo. A prudência e a sabedo­ria de Neemias deram-lhe condições para enfrentar a crise. Sua discrição, silêncio, cuidado e paciência eram qualidades notáveis para que ele obtivesse êxito, naquela situação de instabilidade crítica. Ele só revelou os planos aos demais líderes e aos que trabalhavam na reconstrução da cidade quando já estava ciente acerca da situação crítica da cidade, bem como sobre o que pretendia fazer. Ou seja, soube dizer a coisa certa, no tempo certo e para as pessoas certas. A palavra dita no tempo certo é como “… maçãs de ouro em salvas de prata…” (Pv 25.11).

A exposição do problema. Era gravíssima a situação de Jerusa­lém. O segundo Templo já estava concluído, mas não havia alegria entre o povo. O culto a Deus fora prejudicado. Pessoas estranhas tinham acesso ao lugar sagrado, pois a cidade estava desprotegida. A segurança das cidades naquela época eram os fortes muros e as portas de madeira maciça, que impediam o avanço dos inimigos.

Reunindo os magistrados e outros líderes, Neemias lhes expôs o que vira em sua inspeção: “Então, lhes disse: Bem vedes vós a miséria em que estamos, que Jerusalém está assolada e que as suas portas têm sido queimadas” (Ne 2.17a). Era uma situação de miséria espiritual, moral, social, econômica e financeira. Tudo isso era resul­tado da desobediência e rebeldia contra Deus.

Em muitas igrejas a situação é de miséria, tal como em Jeru­salém quando Neemias a visitou. Os líderes vivem no pecado, e os liderados, por sua vez, não se portam conforme a Palavra de Deus. Logo, o resultado é catastrófico. São “Laodiceias” espirituais e mi­nisteriais. Jesus mandou dizer à Igreja em Laodiceia: “Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente. Tomara que foras frio ou quente! Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu)” (Ap 3.15-17).

O convite para o trabalho. “… vinde, pois, e reedifiquemos o muro de Jerusalém e não estejamos mais em opróbrio” (Ne 2.17). Aqui, vemos uma lição extraordinária de um líder que tem maturi­dade e competência. Ao reunir os outros líderes, não foi buscar as razões da situação crítica da cidade, não foi procurar saber quem eram os culpados. Entre os políticos, quando assumem cargos administrativos,a primeira medida é procurar os erros de administrações anteriores para lazer acusações e buscar punições. Dentro das igre­jas, infelizmente, isso também acontece, pois os obreiros procuram as falhas dos antecessores a fim de se promoverem no ministério.

Neemias agiu de forma competente, cheio da unção de Deus. Expôs a situação da cidade e propôs a solução: “… vinde, pois, e reedifiquemos o muro de Jerusalém e não estejamos mais em opróbrio”. Há pessoas que têm muitos planos, muitas idéias, mas não conse­guem colocá-las em prática. Outros só sabem criticar, murmurar e provocar dissensões entre os membros da igreja, gerando conten­das e divisões. Esquecem-se de que Deus abomina os contenciosos (Pv 6.16,19).

Uma Direção Sábia

De acordo com Megginson, “a função de direção compreende guiar e orientar os subordinados para que desempenhem os deveres e responsabilidades que lhes foram atribuídos, de modo a serem conseguidos os resultados desejados”.1 Uma boa direção mostra a existência de elementos fundamentais na organização.

A motivação dos liderados. Motivação é a capacidade de in­centivar as pessoas a realizar seu trabalho, visando atingir os objeti­vos desejados. Neemias soube motivar os liderados. Para animar os outros líderes e os liderados a participarem do seu projeto, falou-lhes sobre a chamada de Deus em sua vida. Contou-lhes que orou duran­te quatro meses e como Deus abrira as portas tocando no coração do rei, e como obteve apoio oficial para a sua missão. Mas acima de tudo, demonstrou como Deus lhe dirigira: “Então, lhes declarei como a mão do meu Deus me fora favorável, como também as pala­vras do rei, que ele me tinha dito. Então, disseram: Levantemo-nos e edifiquemos. E esforçaram as suas mãos para o bem” (Ne 2.18).

Tudo indica, pelos textos bíblicos, que a reconstrução de Je­rusalém na época de Neemias voltava-se primordialmente para os muros que estavam fendidos. Decerto, na época de Esdras, os mu­ros tiveram sua construção iniciada, mas fora paralisada à força pelos inimigos (cf. Ed 4.12,13). Agora, com Neemias, o desafio era completar a construção da cidade de Jerusalém e a restauração de seus elevados muros, que serviriam de proteção contra eventuais invasores, de povos vizinhos ou distantes que se constituíam inimi­gos do povo hebreu. A visão das ruínas era desoladora. Talvez mui­tos tenham dito que não haveria mais solução, contudo Neemias soube usar sua liderança para influenciar os seus compatriotas a se lançarem à obra da reconstrução. Eles disseram: “Levantemo-nos e edifiquemos…”.

Liderança. E a capacidade de conduzir pessoas a desenvolver e atingir os objetivos da organização. Neemias era um verdadeiro lí­der. Um administrador nato. Não era um líder autocrático. Não disse “vão”, “façam”, enquanto observo e oro, mas incluiu-se na solução. “Vinde” e “edifiquemos”! Quando o líder dá o exemplo na ação, no interesse, e participa da obra, o povo percebe e se estimula a segui-lo. Líder não é o que manda, mas o que comanda. Líder não é o que diz “façam”, mas o que diz, “façamos”. O líder fraco diz: “Aqui quem manda sou eu!” Não é um líder, mas um “chefe”.

O homem de Deus deve ser líder, ou seja, aquele que orienta as pessoas a quem lidera. O bom líder cristão não deve ser autocrático, do tipo que diz “aqui quem manda sou eu”, nem do tipo permissivo ou “bonzinho”, que deixa os liderados fazerem o que bem entenderem. O bom líder é participativo. Esse líder é almejado nas igrejas, pois sabe envolver os servos de Deus na missão da Igreja de Cristo Jesus.

Assim como Neemias, gostam de envolver os outros nas deci­sões; estimulam a participação dos liderados; confiam nas pessoas que trabalham com eles; gostam de delegar; preferem ser amigos dos subordinados; gostam de dizer: “Nós precisamos fazer”, “Gos­taria de ouvir a opinião de vocês”. O próprio Deus é participativo. Na criação do homem, disse: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. (Gn 1.26). “Somos cooperadores de Deus” (1 Co 3.9; Fp 4.3; 3 Jo 8; 2 Pe 1.4).

Comunicação com os liderados. Comunicação é o processo pelo qual se cria compreensão entre os dirigentes e os subordina­dos. Neemias soube comunicar-se com seus liderados. Ele não falou antes do tempo. Na cidade, já havia algumas autoridades que se en­carregavam de administrar a vida comunitária dentro das condições e possibilidades de que dispunham. Neemias podia ter-lhes trans­mitido suas intenções e seus objetivos ao chegar à cidade, mas não o fez. Após um périplo de inspeção, voltou ao lugar de partida, mas manteve o sigilo sobre suas observações. “E não souberam os magis­trados aonde cu fui nem o que eu fazia; porque ainda até então nem aos judeus, nem aos nobres, nem aos magistrados, nem aos mais que faziam a obra tinha declarado coisa alguma” (Ne 2.16).

Há líderes que se prejudicam, nas igrejas, porque falam demais. O escritor de Eclesiastes declara: “Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de

Deus; porque Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra; pelo que sejam poucas as tuas palavras” (Ec 5.2).

Em se tratando de planos, mesmo na obra do Senhor, só devem ser divulgados quando todos os detalhes estiverem definidos no que diz respeito a objetivos, metas, pessoas envolvidas, recursos neces­sários e resultados esperados. O exemplo de Neemias nos fala bem sobre a prudência que deve ser adotada na obra do Senhor, especial­mente, em tempos de crise, para não despertar os adversários.

Os Inimigos se Levantam

Inimigos da edificação. E uma realidade a ser encarada por qualquer servo de Deus, sobretudo, pelos líderes. Sempre haverá ini­migos contra aqueles que querem servir na edificação do Reino de Deus. Um líder jamais satisfará a todos, mesmo na obra do Senhor. Nem mesmo Jesus agradou a todos. O próprio Deus teve de confron­tar seu inimigo, o querubim Lúcifer, que tentou usurpar-lhe o trono. Jesus teve tantos inimigos que sentiu de perto a sua opressão, princi­palmente, no dia de seu julgamento (Mt 26.54-68).

Paulo, o grande apóstolo dos gentios, sofreu oposição de inimi­gos dentro das igrejas que foram abertas por ele. Teve que alertar o jovem obreiro Timóteo quanto aos inimigos do ministério. Den­tre esses, surgiram Alexandre e Himeneu, que viviam blasfemando no meio da igreja local. O principal era “Alexandre latoeiro”, que perturbava o homem de Deus. Na primeira carta, Paulo diz que os entregou a Satanás (1 Tm 1.20); na segunda carta, o apóstolo diz: “Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras. Tu guarda-te também dele, porque resistiu muito às nossas palavras” (2 Tm 4.14,15). Não é difícil, nas igrejas locais, encontrarmos os “latoeiros” que vivem perturbando os ho­mens de Deus.

Neemias encara os inimigos. Eles não tardaram em aparecer. Enquanto Jerusalém estava em ruínas, e ninguém se interessava por sua reedificação, os inimigos estavam quietos. Certamente, tiravam proveito pessoal da situação. Eram bajuladores do rei, mas inimigos do povo de Deus. Diante do caos, imaginavam que o Deus de Israel nada faria. Mas o Senhor levantou um homem de bem, de dentro da própria corte real, para agir em favor de seu povo. Deus sempre tem um homem para cumprir seus desígnios. Quando Elias pensava que era o único profeta que sobrevivera, Deus lhe disse que ainda tinha sete mil que não se dobraram diante de Baal (1 Rs 19.18).

Ao tomarem conhecimento de que Neemias estava trabalhando pela reedificação dos muros, os inimigos se manifestaram. Ao que pa­rece, eram influentes e tinham relações com o palácio do rei. Diz o tex­to: “O que ouvindo Sambalate, o horonita, e Tobias, o servo amonita, e Gesém, o arábio, zombaram de nós, e desprezaram-nos, e disseram: Que é isso que fazeis? Quereis rebelar-vos contra o rei?” (Ne 2.19).

Quem eram esses inimigos? Certamente, eram os líderes da oposição aberta contra o homem de Deus.

Sambalate, o horonita. “Era nome babilônico. Ao que tudo in­dica, teria habitado na região de Bete-Horon, ao sul de Efraim (Js 10.10; 2 Cr 8.5), sua cidade natal. A única cosa que sabemos com certeza é de que ele tinha algum tipo de poder civil ou militar em Samaria, no serviço ao rei Artarxexes (Ne 4.2)”.2

Tobias, o servo amonita. “Provavelmente um oficial do gover­no persa”… “era altamente favorecido pelo sacerdote Eliasibe, que lhe concedeu uma sala para ocupar nas dependências do Templo em Jerusalém”.3 Aqui, vemos como certos relacionamentos, no meio do povo de Deus, podem prejudicar sua obra. Um opositor da edificação tinha apoio do sacerdote do Templo.

Gesém, o arábio. “Seu nome figura exclusivamente no livro de Neemias (2.19; 6.1,2,6). Era um árabe, inimigo dos judeus que voltaram do cativeiro babilônico para a Terra Santa. Opunha-se aos desíg­nios do governo judaico, tomando-o como sedicioso e sujeitando-o ao ridículo. Por essa razão, foi que Gesém participou ativamente do conluio de Tobias contra a segurança de Neemias”.

Eles usaram a tática da intimidação, insinuando que Neemias estaria á frente de uma rebelião contra o rei. Essa mesma tática já fora usada pelos inimigos contra o sacerdote Esdras, que antecedera Nee­mias quando da reconstrução do Templo. A edificação foi perturbada pelo “povo da terra” (Ed 4.4,5); escreveram cartas ao rei, acusando os judeus de estarem se revoltando contra o reino (Ed 4.7 e ss.).

E a obra da construção do templo foi paralisada (Ed 4.24). Cer­tamente, em muitas ocasiões, a obra do Senhor é perturbada e até prejudicada a ponto de não poder prosseguir. Dirá alguém: “Deus não é onipotente? Como não impede a ação dos inimigos?”. De fato, Deus tudo pode fazer, mas segundo seus propósitos. Nem Ele sem­pre quer realizar tudo o que pode. Se os inimigos prosperam é por sua permissão.

Não é difícil encontrar nos dias atuais esses “Sambalates, To­bias e Geséns” no meio das igrejas locais. São pessoas insatisfeitas com a liderança, com os pastores, dirigentes de congregação ou de departamentos. Elas têm ambições ministeriais, desejo de poder e de liderança. Muitos querem consagrações antes do tempo, e por isso se deixam levar pela carne na busca de posições. E se unem, reunindo pessoas ou grupos para fazerem oposição aos líderes, contudo freqüentemente não prosperam. Mas há casos em que fazem grandes estragos, causando inquietação, dissensão e até divisões. Não é raro saírem dessa ou daquela igreja local levando os seus simpatizantes, e fundam outras igrejas ou ministérios. Infeliz é a igreja local que é fundada sobre o espírito de dissensão, de soberba e rebeldia.

Resposta aos inimigos. Neemias estava consciente de que a ação intimidativa dos adversários já tivera êxito no tempo de Esdras. Entretanto, estava certo de que Deus ouvira suas orações e as orações dos que amavam Jerusalém (Sl 122) e desejavam a sua reconstrução.

A sua resposta foi incisiva, clara e objetiva, demonstrando que não estava ali para se deixar levar pela intimidação dos adversários. Ve­jamos a resposta do líder da restauração de Jerusalém:

“Então, lhes respondi e disse: O Deus dos céus é o que nos fará prosperar; e nós, seus servos, nos levantaremos e edificaremos; mas vós não tendes parte, nem justiça, nem memória em Jerusalém” (Ne 2.20). Que exemplo de confiança em Deus! Neemias, em sua res­posta, revelou fé, mas também demonstrou ser homem equilibrado e possuidor de grande senso de humildade. Ele não disse aos ad­versários que usaria sua capacidade administrativa ou técnica para vencê-los.

Ele usou a fé em primeiro lugar ao dizer: “O Deus dos céus é o que nos fará prosperar”. O verdadeiro líder cristão, antes de confiar em si, em sua competência ministerial, confia em Deus. Ele deu a primazia ao “Deus dos céus”. A Palavra de Deus nos declara: “Con­fia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento” (Pv 3.5). Muitos ministérios, de fama nacional, e até internacional têm sido destruídos por causa do orgulho de seus li­deres. Em vez de darem glória e honra ao “Deus dos céus”, buscam as honrarias para si e para suas igrejas. Isso é caminho certo para o desastre. Pois o Senhor diz: “… Portanto, diz: Deus resiste aos sober­bos, dá, porém, graça aos humildes” (Tg 4.6). Contudo, Neemias não ficou apenas no âmbito da fé teórica ou subjetiva. Demonstrou sua disposição em agir e trabalhar. Fé sem ação é fé morta (Tg 2.17). É a fé dos orientais, contemplativa, sem ação, na “meditação transcen­dental”. Não é a fé que agrada a Deus. Neemias, além de reconhecer o poder de Deus para lhe fazer prosperar, disse: “e nós, seus servos, nos levantaremos e edificaremos”. Ou seja, Neemias tinha consciên­cia de que Deus faria a sua parte, aquilo que ele e seus cooperadores não poderiam fazer. Entretanto, deveriam fazer a sua parte, isto é, teriam que colocar as “mãos à obra”. Precisariam se levantar da ora­ção e entrar em ação, a fim de executar a edificação dos muros que estavam em ruínas.

A resposta de Neemias aos inimigos não ficou pela metade. Além de mostrar sua fé em seu Deus, e sua disposição firme de trabalhar, fez com que seus adversários os reconhecesse como dignos de participar da grande empreitada na reconstrução da Cidade Santa. Foi tu me e incisivo contra os inimigos da obra: “mas vós não tendes par­te, nem justiça, nem memória em Jerusalém”. Ele sabia que não se deixando intimidar estaria incitando ainda mais ira e oposição contra si. Mas era homem de fé e de coragem. O líder, homem de Deus, não pode ser pusilânime. Diz a Bíblia: “Se te mostrares frouxo no dia da angústia, a tua força será pequena” (Pv 24.10).

Não é fácil ser líder, e muito menos em tempo de crise. Não é fácil realizar a obra do Senhor quando na igreja local levantam-se homens com o espírito de Sambalate, Tobias ou Gesém, ou quando existem os Himeneus e Alexandre latoeiros. No entanto, quando o homem de Deus está no centro de sua vontade, Deus está ao seu lado e diz: “Não temas porque eu sou contigo… Eis que envergonhados e confundidos serão todos os que se irritaram contra ti; tornar-se-ão nada; e os que contenderem contigo perecerão. Buscá-los-ás, mas não os acharás; e os que pelejarem contigo tomar-se-ão nada, e como coisa que não é nada, os que guerrearem contigo. Porque eu, o Se­nhor, teu Deus, te tomo pela tua mão direita e te digo: não temas, que eu te ajudo” (Is 41.10-13).

Reflexão

1.   Qual a função de Neemias, no reino de Artarxexes? Ele tinha prestígio no reino?

2.   Quantos dias durou a inspeção da cidade antes de Neemias agir? Como você avalia a atitude de Neemias?

3.   Como estava Jerusalém na inspeção de Neemias? Será que há paralelo com a situação de certos povos que se dizem cris­tãos nos dias de hoje?

4.   Qual o resultado da motivação de Neemias sobre os lidera­dos? Você acha importante a motivação dos liderados?

5.   Qual a sua opinião sobre a ação de Neemias? Ele soube se conduzir diante da crise?

Pr.Raul
Pr.Raul
Pastor do Ministério Nascido de Novo e coordenador do Seminário Teológico Nascido de Novo, Youtuber e marido da Irmã Vanessa Ângelo.

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