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3. PROBLEMAS COM VARIANTES TEXTUAIS NO NOVO TESTAMENTO
Sobre esse tópico, precisamos ser honestos: Atualmente, em quase seis mil manuscritos do Novo Testamento existem milhares de variantes textuais, e isso tem levado muitos a abandonarem a fé completa em Deus ou, pelo menos, despertado um agnosticismo em pessoas que, de uma certa forma, não estariam preparadas para se deparar com certas informações no que tange essas variantes.
E não estamos nos referindo a leigos, sem escolaridade, mas à pessoas com currículo acadêmico invejável, porém, as muitas letras, partindo de um estudo ou até mesmo um pressuposto errado, não trará um efeito positivo.
É interessante notar que, praticamente todas as variantes existentes na Bíblia não comprometem diretamente nenhuma doutrina cristã. Porém, no debate sobre a inerrância ou não das Escrituras esse assunto repercuti muito, pois Deus não deixaria que Sua Palavra fosse de uma certa forma corrompida pelo homem (impulsionado pelo Diabo, é claro).
Vamos usar como exemplo a variante de João 5:3, 4:
Nestes jazia grande multidão de enfermos, cegos, mancos e ressecados, esperando o movimento da água. Porquanto um anjo descia em certo tempo ao tanque, e agitava a agua; e o primeiro que ali descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse (ACF).
Olhando assim o texto da ACF não percebemos nenhum problema com a passagem, pois a mesma, em seu Novo Testamento, está baseada no Textus Recptus, texto esse que traz a passagem exatamente como está, assim como outros textos da massa bizantina (Majoritário, Família 35). Mas, em contra partida, ao vermos colchetes ( [ ] ) distribuídos em outras traduções nessa mesma passagem, percebemos que existe uma tendência em desacreditar a passagem em questão. Vejamos a Nova Almeida Atualizada (NAA):
Nestes jazia uma multidão de enfermos, cegos, coxos, paralíticos [esperando que a água se movesse, porque um anjo descia de tempos em tempos, agitando-a; e o primeiro a entrar no tanque, uma vez agitada a água, sarava de qualquer doença que tivesse] (ACF).
Ao inserir os colchetes, a tradução acima aceita o ensinamento de que essa parte dos versículos (3b, 4) não são originais, sendo inserida posteriormente por algum escriba e esse manuscrito passou a ser recopiado várias vezes, levando a variante adiante durante o fluxo de transmissão do texto. Precisamos entender que essa é uma visão eclética mais trabalhada hoje nas grandes faculdades teológicas do mundo, bem como nas Sociedades Bíblicas que atualizam de tempos em tempos o texto grego do Novo Testamento, sendo assim, utilizado em nossas bíblias posteriormente.
Mas vejamos qual a alegação para as sociedades bíblicas e as traduções inseriremos colchetes no versículo trabalhado. Vejamos o que diz Omanson sobre essa variante, em seu livro “Variantes Textuais do Novo Testamento – Análise e Avaliação do Aparato Crítico do Novo Testamento Grego”, distribuído pela Sociedade Bíblica do Brasil:
Depois de ξηρών, o texto ocidental acrescenta πα ραλυτικών (paralíticos), um a leitura que, todavia, não entrou em nenhum texto mais recente que se conheça. Esse acréscimo se deve ao fato de que o homem curado por Jesus parece ter sido um paralítico (uma palavra que não ocorre em nenhum outro lugar, em João). Talvez para explicar a referência, no v. 7, ao fato de a água ser agitada, um a série de testemunhos acrescenta έκδεχομένων την του ϋόατος κίνησιν (esperando ο movimento da água). Entretanto, essas palavras não se encontram nos mais antigos e melhores testemunhos. Além disso, nesse texto aparecem duas palavras (εκδέχεσθαι e κίνησις) que não aparecem em nenhum outro contexto, no Evangelho de João (OMANSON, 2010, p 2010).
Segundo o autor, temos aí então um exemplo de acréscimo, ou, em determinados momentos eles chamam de conflação, que seria um arranjo, um melhoramento do texto vindo da região bizantina.
Gordon Fee, outro autor renomado, de linha também eclética, comenta sobre a mesma passagem em seu livro “Exegese? Para quê?”, lançado pela CPAD:
O fato de que existem evidências antigas e difundidas a favor do texto de João sem João 5:4, entre as testemunhas sem relação textual direta, dá a entender que a “omissão” teria de ter sido feita mais de uma vez – possibilidade que é muitíssimo improvável. Tendo em vista que a passagem é de estilo e linguagem tipicamente não joanino, podemos considerar com confiança que as duas adições não constavam no original joanino (FEE, 2019, p 46).
Basicamente, os dois autores citados acima usam a evidencia interna para defender seus posicionamentos em relação não somente a essa variante, mas também às outras que entram em debates acadêmicos sobre a doutrina da preservação do texto sagrado.
Assim como Fee e Omanson, existem vários escritores ecléticos propagando o entendimento de que a Bíblia não é confiável, mesmo que de forma sutil, como já falamos. Poderíamos citar aqui vários outros exemplos de passagens do Novo testamento com os mesmos problemas de variantes textuais e que, na visão eclética, não eram para estar em nossas bíblias hoje, como podemos perceber nas várias notas de rodapé da Bíblia NVI (Nova Versão Internacional).
Existe um entendimento muito errôneo sobre o estudo da Crítica Textual, tipo “isso é bobagem”, ou “a Bíblia já foi traduzida”, “isso esfria o estudante”, por parte principalmente daqueles que não se aprofundaram ou nunca leram nada sobre essa disciplina, além de outras desculpas. Mas a questão é que essas pessoas não param para observar que essa mesma disciplina, que é usada para atacar a Palavra de Deus, também é usada para provar que essa mesma Palavra é um milagre de Deus e que chegou até nossos dias, depois de séculos de perseguição e tentativas de falsificação da mesma.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fato do Textus Receptus ter sido usado como o texto dos reformadores, no século XVI, evidencia que Deus estava nos dando um sinal de onde estaria o texto, ou redação original do Novo Testamento. O Textus Receptus é um texto bizantino, porém, elaborado ainda com poucos manuscritos gregos (cerca de meia dúzia), pois foram usados os que os tradutores tinham à sua disposição na época.
Diante de tudo que abordamos, temos que levar em consideração uma doutrina muito importante do cristianismo, a inspiração da Palavra. O Dr Pickering mais uma vez nos chama a atenção para a questão do ecletismo não considerar essa doutrina em suas traduções:
O Texto Eclético incorpora erros de fato e contradições tais que qualquer afirmação que o Novo Testamento é divinamente inspirado torna-se relativa, e a doutrina da inerrância se torna virtualmente indefensável. Se a autoridade do Novo Testamento é solapada, todos os seus ensinos são semelhantemente afetados. Por mais de um século, a credibilidade do texto do Novo Testamento tem sido minada, e esta crise de credibilidade tem sido imposta à atenção dos leigos pelas versões modernas, que colocam partes do texto entre colchetes e têm numerosas notas de rodapé de um tipo tal que levantam dúvidas sobre a integridade do Texto. (PICKERING, 2013).
É óbvio que se não tenho um texto bíblico que seja confiável e que traga, espelhadas em notas de rodapé ou através de colchetes, sinais que impõem dúvidas ao leitor das sagradas escrituras, a interpretação desse texto será relativizado. Infelizmente, temos muitas traduções que fazem exatamente isso em seu texto, o que vem a acarretar deduções precipitadas por uma boa parte dos leitores, que antes mesmo de conhecer as outras linhas de pensamentos sobre a preservação do texto bíblico, já aderem a posição eclética, achando que essa seria a única visão a ser seguida.
O que estamos defendendo é que, em algum lugar a palavra de Deus foi preservada, e esse lugar geográfico fica exatamente na região bizantina. Ao analisar o texto bizantino, seja ele o Receptus, Majoritário ou Família 35, percebemos o quanto esse texto é coerente, não trazendo duvidas para o leitor e fazendo-o entender que, Deus foi poderoso para sustentar a Sua palavra através dos séculos.
Paz para todos!
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ALMEIDA, João Ferreira de. A Bíblia Sagrada. Edição Corrigida Fiel ao Texto Original, Sociedade Bíblica Trinitariana, São Paulo;
_____________. Bíblia de Estudo NAA. Barueri, SP; Sociedade Bíblica do Brasil. 3ª Ed. 2017;
EHNNAN, Bart D. O que Jesus disse? O que Jesus não disse? quem mudou a Bíblia e por quê. São Paulo : Prestígio, 2006;
FEE, Gordon D. “Exegese? Para quê?”. Bangu, Rio de Janeiro – RJ. CPAD, 1ª Ed. 2019;
O NOVO TESTAMENTO GREGO (vários autores), 4ª edição revisada, 1993, SBB: 13ª impressão, 2007;
OMANSON, Roger L. Variantes textuais do Novo Testamento. Análise e avaliação do aparato crítico de “O Novo Testamento Grego”; tradução e adaptação de Vilson Scholz. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010;
PICKERING, Wilbur Norman. Oficina Bíblica: As traduções do Novo Testamento em Português e Inglês. Brasília – 2013;
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