Daniel – Amado no Céu – Se Deus já decretou, por que orar?
(Daniel 9.1-19)
Uma das perguntas mais freqüentes que ouço é: se Deus já decretou todas as coisas, se Ele já sabe de antemão tudo que vai acontecer, por que orar?
A Bíblia tem muito a nos ensinar sobre essa questão: Jonas pregou sobre a destruição de Nínive, o povo se converteu e Deus suspendeu o mal e poupou o povo. Abraão orou por Sodoma, e quando Deus estava destruindo a cidade, lembrou-se de Abraão e salvou Ló. O Pentecostes foi prometido, mas os discípulos o aguardaram em unânime e perseverante oração. Jesus prometeu que voltará para buscar à Sua igreja e a Bíblia nos ensina a orar: Vem, Senhor Jesus!
Daniel leu nos livros que o cativeiro do povo duraria setenta anos, mas ele se pôs na brecha da oração em favor do povo.
Essa oração de Daniel é uma das mais importantes da Bíblia. Temos aqui várias lições:
Os pressupostos da oração (Dn 9.1,2)
Em 586 a.C., Nabucodonozor havia levado Judá para o cativeiro. Daniel foi levado para a Babilônia aos 14 anos. Agora ele tem 82 anos. Encontramo-nos no ano 536 a.C., o primeiro de Dario, o medo. Daniel orou quando era adolescente (Dn 1), orou com seus amigos (Dn 2.17,18), orava três vezes ao dia com as janelas abertas para Jerusalém. Daniel aqui, no capítulo 9, ora. O decreto de Deus era que o cativeiro seria de setenta anos, mas a determinação de Deus passaria pela oração de quebrantamento do Seu povo. Aqueles anos de cativeiro ainda não tinham trazido quebrantamento ao povo. O sofrimento não o fizera voltar-se para Deus. Daniel não se sentiu desanimado de orar por causa do decreto, ao contrário, ficou mais encorajado para fazê-lo.
Daniel permaneceu firme naqueles 68 anos de cativeiro. Foi provado, mas nunca sucumbiu ao pecado. Algumas vezes, preferiu a morte a pecar contra Deus, e Deus o honrou. A Babilônia caiu, mas Daniel continuou em pé. Agora, no império medo-persa é o segundo homem mais importante. Nem as provações nem a promoção o corromperam.
Daniel foi um homem dedicado ao estudo da Palavra de Deus. Nesse capítulo vemos Daniel estudando os livros. Daniel tinha visões, mas nunca abandonou a Bíblia. Ele examinava os rolos do Livro de Jeremias, quando descobre o profeta falando do cativeiro e da libertação (Jr 25.8-11;
29.10-14). A vida de Daniel é construída sobre esses dois pilares: a oração e a Palavra.
Ronald Wallace comenta acerca da influência da Palavra de Deus sobre o povo no cativeiro babilônico da seguinte maneira:
“Para toda a comunidade da Babilônia foram os livros que conservaram sua tradição, sua teologia e sua adoração íntegras, vivas e fiéis. Eles não tinham templo algum. Havia, com certeza, algumas vozes proféticas vivas que lhes podiam trazer uma palavra direta e nova da parte do Senhor. Sua principal inspiração, porém, vinha do estudo, leitura e interpretação das Sagradas Escrituras”.93
Foi nesse período do cativeiro que surgiram as sinagogas, locais em que os judeus se reuniam para estudar a lei de Deus. Desde essa época, as sinagogas exercem um papel fundamental na vida religiosa do povo judeu. Jesus e Seus apóstolos freqüentavam as sinagogas, e elas foram estrategicamente fundamentais no processo de evangelização em todo o mundo.
A preparação para a oração (Dn 9.3)
Daniel, em sua preparação para a oração, nos ensina quatro coisas importantes: em primeiro lugar, uma busca intensa. Ele voltou o rosto para o Senhor. Isso demonstra a intensidade de sua oração. Ele tinha vida de oração metódica e regular, mas agora esse homem se concentra em oração.
Em segundo lugar, um clamor fervoroso. Daniel ora e suplica. O decreto de Dario o leva a ser mais enfático em sua oração e clamor.
Em terceiro lugar, uma urgência inadiável. Daniel ora e jejua. Quem jejua tem pressa. Quem jejua não pode
protelar. Daniel tem urgência em seu clamor. Faltam apenas mais dois anos para o cumprimento da profecia e ele não vê em seu povo o quebrantamento necessário. Ele sabe que a profecia passa pelo arrependimento do povo. Por isso, ora com tanta urgência.
Em quarto lugar, um quebrantamento profundo. Ele se humilha. Veste-se com pano de saco e cinza. Ele era um homem do palácio, mas despoja-se de sua posição.
Os atributos da oração (Dn 9.4-19)
A oração feita por Daniel contém os pontos mais importantes de uma oração. Ele começa adorando a Deus (Dn 9.4). Daniel se aproxima de Deus com santa reverência. Sua oração não era daquele tipo que chama Deus de paizinho, tão popular hoje, que descreve intimidade na verbalização, mas distância na comunhão. Daniel tinha intimidade com Deus, mas reconhecia a majestade e a grandeza de Deus diante de quem os serafins cobrem o rosto. Confiança filial não é inconsistente com profunda reverência. Daniel adora a Deus por causa de sua fidelidade ao pacto. Ele pode confiar em Deus por saber que Deus é fiel a Sua Palavra. Daniel adora a Deus também por causa de Sua misericórdia e prontidão em perdoar (Dn 9.4,9).
Daniel, depois de adorar a Deus, é tomado por profunda contrição, faz confissão de seus pecados e dos pecados do povo (Dn 9.5-15). Quais foram as características da sua confissão? Em primeiro lugar, Daniel fez uma confissão coletiva (v. 7,8). Daniel compreendeu que ele, os líderes de seu povo e o povo pecaram contra Deus. Aqui não há justificativa nem transferência de culpa. Todos pecaram. Todos são
culpados: os líderes e o povo. Deus falou, e eles não ouviram. Deus ordenou, e eles não obedeceram. Deus fez grandes maravilhas, e eles não agradeceram.
Em segundo lugar, Daniel faz uma confissão específica (v.5,6). Ele não faz confissões genéricas: Daniel usa vários termos para expressar o pecado do povo: pecado, iniqüidade, procedimento perverso, rebeldia, desvio dos mandamentos e juízos (v. 5), desobediência (v. 10), transgressão da lei (v. 11) e procedimento perverso (v.
15).
Em terceiro lugar, Daniel faz uma confissão sincera (v. 7,14). Daniel está corado de vergonha. Ele sabe que os males que vieram sobre o povo foram provocados pela desobediência e rebeldia do povo. O pecado traz opróbrio, vergonha, dor, humilhação e derrota. Daniel reconhece que as aflições do povo são por causa de seu pecado, e, por isso, Deus é justo em castigar seu povo (v. 11). Daniel entende que o mal veio sobre o povo por causa de seu pecado (v. 11-13). Deus já havia alertado o povo sobre esse perigo. Mas a despeito da maldição vir, do mal chegar, o povo ainda não havia se quebrantado. O povo não tinha atendido nem mesmo à voz do chicote de Deus.
Em último lugar, Daniel, em sua confissão, reconhece a ingratidão do povo (v. 13). Deus tirara Israel do Egito com mão forte e poderosa. Realizara tantos milagres e providências em sua vida e o engrandecera aos olhos das nações. Mas Israel, em vez de agradar a Deus, rebelou-se contra Ele.
Depois de confessar seus pecados e os pecados do povo, Daniel faz súplicas a Deus (Dn 9.16-19). Seus pedidos são específicos (v. 16-18): Daniel pediu por
Jerusalém e pelo monte santo (v. 16). Pediu pelo templo assolado (v. 17) e pela cidade que é chamada pelo nome de Deus (v. 18).
Seus pedidos são urgentes (v. 19). Daniel tem pressa. Ele não pode esperar. Ele pede a Deus urgência na resposta.
Seus pedidos são importunos (v. 15-19). No versículo 15 ele diz: “Já fizeste grandes coisas por este povo, não o farás de novo? Não peço algo novo, mas o que já fizeste no passado”. No versículo 16 Daniel diz: “E a tua cidade. É o teu monte santo. Não deverias, portanto, fazer algo por eles? E o teu povo que está sendo desprezado”. Ficará Deus impassível? No versículo 17 Daniel diz: “O teu santuário é o único lugar que escolheste para tua habitação. Deixarias tu este lugar desolado para sempre?”. No versículo 18 Daniel diz: “E a cidade chamada pelo teu nome”. O apelo de Daniel não é para que Deus simplesmente liberte Seu povo, mas que o faça por amor de Seu nome. E a glória do nome de Deus que está em jogo. Não é simplesmente por causa do povo, ele não o merece. É por causa do nome de Deus! A desolação refletirá no caráter de Deus. As pessoas poderão questionar Seu poder e Sua bondade. Se Deus não agir, Seu nome será blasfemado.94 No versículo 19 a oração alcança seu ápice: “O Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e põe mãos à obra sem tardar, por amor de ti mesmo, ó Deus meu, porque a tua cidade e o teu povo se chamam pelo teu nome”.
Quando foi a última vez que você orou assim? Esse é o tipo de oração que Deus ouve. Precisamos conhecer as promessas de Deus e orar por elas dessa forma. Quando um remanescente ora dessa forma a história é mudada.
Seus pedidos são cheios de clemência (v. 19). Daniel não pede justiça, mas misericórdia. Ele pede perdão. Ele não pede por amor ao povo, mas por amor a Deus.
Seus pedidos são fundamentados na misericórdia (v. 18). A oração verdadeira é sempre marcada por profunda humildade. Nossas orações devem ser fundamentadas não na justiça humana, mas na misericórdia divina. Não nos méritos do homem, mas no nome de Jesus.