Daniel – Amado no Céu – A oração que move o céu
(Daniel 9.20-27)
No capítulo 9, Daniel fez uma grande descoberta ao examinar Jeremias 29.10-14. Ele descobre que o cativeiro babilônico teve a duração de setenta anos. Também no capítulo 9, Daniel faz uma grande oração, em que adorou a Deus, faz confissão do seu pecado e dos pecados do povo e pede a Deus a restauração de sua cidade.
Finalmente, Daniel, no capítulo 9, recebe uma grande revelação, acerca das setenta semanas que haveriam de vir sobre seu povo. Examinaremos o texto de Daniel 9.20-27 e veremos alguns aspectos importantes da oração que move o céu.
É uma oração respondida prontamente pelo céu (Dn 9.20-23)
A resposta de Deus a Daniel foi pronta e imediata (v. 20,21). Ele pediu urgência na resposta a sua oração (Dn 9.19) e somos informados que enquanto Daniel orava, a resposta chegou (Dn 9.20,21). Esta é a promessa de Deus: “E acontecerá que, antes de clamarem eles, eu responderei; e estando eles ainda falando, eu os ouvirei” (Is 65.24). Gabriel informou a Daniel que logo que ele começou a orar, Deus já despachou seu pedido.
A resposta de Deus veio por intermédio de um anjo (v. 21). O anjo Gabriel é o mensageiro de Deus55 que assiste diante de Deus. Os anjos são espíritos ministradores em favor dos salvos.56 Eles confortaram a Jesus no deserto e no Getsêmani.57 Ezequias orou e um anjo derrotou os exércitos da Assíria.98 Cornélio orou e um anjo o orientou para enviar um mensageiro a Pedro.99 A igreja de Jerusalém orou e um anjo foi enviado à prisão para libertar Pedro.100 Eliseu orou para que Deus abrisse os olhos do seu moço a fim de ver a hoste de anjos que estava acampada ao seu redor.101
A resposta de Deus transcendeu o pedido de Daniel (v.20). Ele pediu pela cidade e Deus em resposta, revelou acerca do próprio Messias que viria, trazendo gloriosos benefícios (Dn 9.24,25). Deus dá mais do que pedimos. Ele pode fazer infinitamente mais do que pedimos ou pensamos.102 Daniel orava apenas pela restauração da cidade de Jerusalém (Dn 9.20), mas a resposta de Deus tratou de coisas mais profundas: não apenas da restauração física da cidade, mas da salvação eterna do Seu povo.
É uma oração feita por alguém amado no céu (Dn 9.23)
Porque Daniel era amado no céu, foi ouvido rapidamente. A resposta é dada de pronto porque Daniel é um homem muito amado (v. 23). Sabemos que Deus responde nossas orações por causa de Suas muitas misericórdias e não por nossos méritos (Dn 9.18). Entretanto, a Bíblia diz que o sacrifício dos perversos é abominação ao Senhor, mas a oração dos retos é seu contentamento.103 O altar está ligado ao trono. Se há iniqüidade no coração, Deus não nos ouve.104 Daniel era amado no céu e na terra, por isso, sua oração foi prontamente ouvida. Sua piedade moveu rapidamente o céu. A graça de Deus nos torna amados no céu.
Daniel era amado no céu, porque viveu piedosamente desde sua juventude. Ele enfrentou os perigos e desafios da vida, mantendo-se íntegro ao seu Deus. Ele andou com Deus na juventude e na velhice, como jovem escravo e como primeiro ministro da Babilônia. Ele foi fiel a Deus na pobreza e na riqueza, na humilhação e na promoção.
Daniel era amado no céu porque tinha intimidade com Deus. Ele era um homem de oração: orava sistematicamente e também nas horas em que estava ameaçado de morte. Orou confessando os pecados de seu povo e também pedindo livramento para ele. Porque tinha intimidade com Deus, prevaleceu na oração.
É uma oração que recebe uma grande revelação do céu (Dn 9.24-27)
Daniel recebe várias revelações estupendas e maravilhosas da parte de Deus. As janelas do futuro foram abertas para ele. Que tipo de revelação ele recebeu?
Em primeiro lugar, revelação sobre a Pessoa do Messias prometido (v. 25). O Messias é descrito como o Ungido e como o Príncipe. A palavra ungido é a mesma utilizada para Messias. Jesus é o Ungido de Deus. Ele é o Profeta, o Sacerdote e o Rei, o cumprimento da Lei e dos Profetas. Como Príncipe, Jesus é o Rei dos judeus, o Príncipe da Paz, o Rei dos reis, o Rei da glória, o Salvador do mundo. Seu nascimento foi prometido no Éden105, a Abraão106, por meio de Jacó107 e de Moisés.108 Ele é o Filho de Davi, o Deus forte, apontado por Isaías, que nasceria em Belém, segundo a profecia de Miquéias.
Em segundo lugar, Daniel recebe revelação sobre a obra do Messias (v. 24). O Messias veio trazer a solução definitiva para o problema do pecado. “Fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, e para expiar a iniqüidade” revelam apenas uma coisa. A morte de Cristo na cruz em nosso lugar, em nosso favor, nos justifica diante de Deus. Somos reconciliados com Deus e declarados justos diante dEle. Agora temos perdão dos pecados. O sacrifício de Cristo satisfez plenamente a justiça divina.
O Messias veio trazer justiça eterna para o povo de Deus. O evangelho traz mais que perdão de pecados, ele nos deixa limpos e aceitáveis diante de Deus. A justiça perfeita do Messias foi imputada a nós. Fomos justificados. Temos aqui a justiça imputada e a justiça implantada.
O Messias veio trazer o cumprimento da profecia. No nascimento, vida, morte, ressurreição, governo e segunda vinda de Cristo as visões e as profecias se cumprem. Tudo o que os profetas apontaram, cumpre-se nEle. Cristo é o fim da lei.109
O Messias veio trazer o sacerdócio universal dos crentes. Agora, todos temos acesso à presença de Deus. O santo
dos santos é ungido e o véu do templo rasgado e todos os crentes tornam-se sacerdotes reais. Nós somos o santo dos santos em que Deus habita. Somos o santuário de Deus, ungido por Deus, para o serviço de Deus.
Em terceiro lugar, Daniel recebe revelação sobre a rejeição do Messias (v. 26). O Messias será morto (v. 26). Ele veio para morrer. Ele é o Messias sofredor antes de ser o Messias vencedor. Ele é o mais rejeitado entre os homens. Ele é homem de dores. Ele foi transpassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades. Ele morreu pelos nossos pecados. Ele foi rejeitado pelos homens, desamparado pelo céu. Ele se fez pecado e maldição por nós. Ele bebeu o cálice da ira de Deus por nós.
Daniel recebe uma clara revelação acerca da destruição da cidade de Jerusalém (v. 26). Jesus chorou sobre a cidade de Jerusalém, porque ela não reconheceu o tempo da sua visitação (Lc 19.41-44). Tito Vespasiano cercou a cidade, destruiu o templo e dispersou o povo. Tudo isso porque o povo rejeitou o Messias. Mais graves conseqüências terão aqueles que hoje ainda rejeitam o Messias, eles serão banidos para sempre da face do Senhor. Quantas desolações o povo judeu sofreu durante a história por ter rejeitado o Messias! A rejeição trouxe e traz conseqüências muito amargas no presente e na eternidade.
Daniel recebe revelação sobre o triunfo do Messias (v. 27). O pacto é confirmado. Jesus selou essa aliança eterna com seu sangue: “Pois isto é o meu sangue, o sangue do pacto, o qual é derramado por muitos para remissão dos pecados” (Mt 26.28). Chega o fim dos sacrifícios cerimoniais. Jesus é o fim da lei. Os sacrifícios levíticos eram sombras do sacrifício perfeito e cabal de Cristo na cruz.
Ele foi sacrificado uma vez por todas (Hb 7.27). Agora não há mais necessidade de rituais e oblações do Antigo Testamento. Tudo isso se consumou no evangelho.
Vem, então, a derrota final do anticristo. Daniel 9.27 revela as terríveis conseqüências do abuso dos privilégios. Os judeus receberam a lei, os profetas, o pacto, o Messias e rejeitaram todos esses privilégios. Esse mesmo povo, como todos aqueles que rejeitam os privilégios da graça, sofreram e sofrerão as conseqüências dessa rejeição. Os que rejeitam o Messias, receberão o anticristo. O livro de Daniel já fez referência ao anticristo escatológico (Dn 7.25) e ao anticristo protótipo (Dn 8.9). Agora, Daniel fala do anticristo como o assolador e também profetiza sua destruição. Paulo diz que o anticristo, o homem da iniqüidade, será morto pela manifestação da vinda de Cristo (2Ts 2.8).
Em quinto lugar, Daniel recebe revelação sobre o tempo do Messias, as setenta semanas (v. 24-27). Alguns pontos aqui merecem destaque: em primeiro lugar, vejamos acerca da divisão das setenta semanas (v. 25,26). Gabriel fala a Daniel que setenta semanas estão determinadas sobre seu povo (v. 24). As setenta semanas são divididas em três períodos de sete: 1) o primeiro período de sete “setes”; 2) o segundo período de sessenta e dois “setes”; 3) o terceiro período: a septuagésima semana. Assim temos 7 + 62 + 1 = 70. O primeiro período, as sete semanas de anos, compreende o tempo que vai da saída do cativeiro babilônico à reconstrução de Jerusalém. O segundo período, as sessenta e duas semanas, descreve o tempo que vai da reconstrução de Jerusalém até Jesus. O terceiro período, a septuagésima semana, acontece no tempo da morte do Messias.
Em segundo lugar, observemos o início das setenta semanas (v. 25). O marco para o início do primeiro período é a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém. Flávio Josefo diz que quando o rei Ciro leu a profecia de Isaías a seu respeito (Is 44.28; 45.13), ele mandou reconstruir o templo que os babilônios haviam destruído. Contudo, a ordem para reconstruir a cidade se deu em 445 a.C., no reinado de Artaxerxes (Ne 2.58).
Em terceiro lugar, notemos, agora a septuagésima semana propriamente dita. Essa semana é dividida em três períodos: 1) o primeiro período: 445-49 (7 semanas de anos) = 396 a.C. (da ordem de Artaxerxes à restauração de Jerusalém). Essa reconstrução, conforme relato de Neemias, foi angustiante. 2) o segundo período: 396-434 (62 semanas de anos) = 38 d.C. O ano do nascimento de Cristo foi estabelecido, por meio de cálculos, só em 525 d.C., pelo abade Dionísio Exíguo, e passou a valer como o ano 1 da era cristã. Estabeleceram-se, então, os conceitos “antes de Cristo” (a.C.) e “depois de Cristo” (d.C.) na contagem dos anos. A partir do século 17, com os recursos da astronomia, novos cálculos foram feitos e chegou-se à conclusão de que Dionísio havia se enganado por 4 a 7 anos. Assim, a rigor, o nascimento de Cristo deu-se por volta do ano 4 a.C. Dessa forma chegamos ao ministério de Cristo no período de 31 a 34 d.C. Isso está de acordo com o relato bíblico que nos informa que Cristo iniciou seu ministério aos 30 anos (Lc 3.23); e 3) o terceiro período: a septuagésima semana. Como interpretar a septuagésima semana? Duas correntes se destacam nessa interpretação:
Em primeiro lugar, vejamos o entendimento dos pré-milenistas. Eles entendem que essa septuagésima semana é um lapso de tempo entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, o intervalo da igreja, o tempo dos gentios. Portanto, a septuagésima semana é uma lacuna profética. Os dispensacionalistas crêem que a septuagésima semana foi adiada para o fim do mundo. Isso é obviamente impossível. Gabriel indica claramente que o Messias seria morto durante aquela semana. Se a septuagésima semana foi adiada, isso significa que o Salvador ainda não morreu por nós e que ainda estamos em nossos pecados. Os dispensacionalistas acreditam que o príncipe que destruirá a cidade não é Tito, mas o anticristo. Crêem também que o “ele” do versículo 27 é o anticristo, e não Cristo. Assim, eles crêem que o templo de Jerusalém será novamente reconstruído e haverá a volta dos sacrifícios judaicos no período da grande tribulação.
Em segundo lugar, vejamos o entendimento dos amilenistas acerca dessa septuagésima semana de Daniel. Eles entendem que Cristo morreu não na sexagésima nona semana, mas depois dela, ou seja, na septuagésima semana. A corrente amilenista não crê na chamada lacuna profética. Não crê que a igreja é apenas um parêntesis da história. Não crê que o tempo dos gentios (Rm 11.25; Lc 21.24) faça uma distinção entre Israel e igreja. Cristo morreu na septuagésima semana, fazendo a expiação dos nossos pecados (Dn 9.26; Is 53.8). O amilenismo crê que a septuagésima semana está ligada à primeira vinda, e não à segunda vinda, visto que fala da morte do Ungido. Contudo, no versículo 27b vemos que a septuagésima semana estende-se a todo o período da dispensação da graça, visto que vai da morte do Ungido até o aparecimento do assolador, o anticristo.