Daniel – Amado no Céu – íntegro no meio da corrupção
(Daniel 6.1-28)
A INTEGRIDADE PARECE SER Uma virtude em extinção. Vivemos uma crise de integridade sem precedentes no mundo. Mudam os governos, mudam os partidos, mudam as leis, mas a corrupção continua instalada em todos os segmentos da política nacional e internacional. As CPIs destampam os esgotos nauseabundos de contínuos atos de corrupção nos corredores do poder, em que transitam desavergonhadamente as ratazanas esfaimadas que mordem sem piedade o erário público. Os escândalos se multiplicam. Políticos sem escrúpulo se abastecem das riquezas da nação e deixam os pobres de estômago vazio.
Há falta de integridade na família. A fidelidade conjugal está ameaçada.
A multiplicação dos divórcios por motivos banais é proclamada como uma conquista. O Brasil realizou, com ufanismo, a maior parada gay do mundo, com 1,5 milhão de pessoas, em São Paulo, no ano de 2004, sob os aplausos de eminentes políticos da nossa nação.
Há falta de integridade moral nos vários segmentos da sociedade. A integridade está ausente na escola, no namoro, no casamento, no comércio, na vida financeira, nas palavras e nos acordos firmados, nos palácios e até nas igrejas. Rui Barbosa, o grande tribuno brasileiro, chegou mesmo a vaticinar que chegaria o tempo em que os homens teriam vergonha de ser honestos. Esse tempo chegou.
A história, porém, nos mostra que em meio à corrupção há pessoas que se mantêm íntegras. O homem não é produto do meio como pensava o filósofo John Locke. Há abundantes exemplos dignos de serem seguidos nessa área da integridade. O jovem José, do Egito, foi íntegro ao preferir a prisão à liberdade do pecado. O profeta Jeremias preferiu a prisão à popularidade. João Batista, o precursor de Jesus, por ser íntegro, preferiu perder a cabeça a perder a honra.
Um homem íntegro num meio encharcado de corrupção (Dn 6.1-6)
A Babilônia tinha caído, um novo império tinha se levantado, mas os homens que subiram ao poder continuavam corruptos. O absolutismo do rei no império babilônico mudou para a descentralização do poder no império medo-persa. O regime de governo mudou, mas não o coração dos homens.
É um grande engano pensar que as coisas vão mudar para melhor em virtude das mirabolantes promessas dos políticos. Mudam-se os partidos. Mudam-se as figuras, mas o espírito e a cultura do aproveitamento são os mesmos.
O rei Dario estava preocupado com o problema da corrupção, por isso, constituiu 120 prefeitos e três governadores. Constituiu fiscais do erário público. Mas aqueles que deveriam vigiar e fiscalizar se corromperam. As riquezas caíram no ralo dos desvios. A corrupção estava instalada dentro do palácio, nas rodas mais altas do governo de Dario.
Nesse mar de lama, floresce um lírio puro. A vida de Daniel nos mostra que é possível ser íntegro mesmo cercado por um mar de lama de corrupção. Daniel mantém-se íntegro a despeito do ambiente. O homem não é produto do meio. Daniel não vende sua consciência. Ele não negocia os seus valores absolutos. Ele não se corrompe. A base de sua integridade é sua fidelidade a Deus. Concordo com a afirmação de Stuart Olyott: “A espiritualidade de Daniel é o alicerce de sua fidelidade diante dos homens”.47 Sua fé é a pedra de esquina de sua moralidade privada e pública. Os amigos de Daniel apagaram as chamas do fogo pela fé. Agora, Daniel fecha a boca dos leões pela fé.
A vida de Daniel nos prova que um homem pode permanecer íntegro mesmo quando é vítima de conspiração (Dn 6.4-5). O versúculo 4 nos informa que eles procuravam uma “ocasião” para acusar Daniel. Essa palavra significa aqui que eles buscavam um pretexto, um motivo.48 Procuraram também uma brecha na vida de Daniel. Assim, tentaram pegá-lo em seu ponto forte.
As circunstâncias adversas não alteraram as convicções de Daniel. A promoção e a honra dos íntegros incomodam as pessoas invejosas. A Bíblia diz: “Cruel é o furor, e impetuosa é a ira; mas quem pode resistir à inveja?” (Pv 27.4).
Porque Daniel era fiel a Deus, ele era fiel ao seu senhor terreno. Porque era diferente dos outros líderes foi perseguido, e conspiraram contra ele para matá-lo. Os inimigos de Daniel queriam afasta-lo do caminho deles. Mas como? Nada encontraram para atacar em sua vida moral, assim, conspiraram contra ele por intermédio de sua religião.
A vida de Daniel nos ensina que a mesma pessoa que bajula é aquela que também maquina o mal contra os justos (Dn 6.5-9). Sabiam que Daniel era um homem de oração, bajularam o rei Dario, elevando-o ao posto de divindade por um mes. O projeto trazia como isca a exaltação e a lealdade ao rei. Mas a intenção era outra. O rei tornou-se refém de seu próprio orgulho e, por conseguinte, de seu próprio decreto. E assim, sentenciaram à morte o homem de confiança do rei. Além da bajulação, usaram a mentira (v. 7). Atingiram Daniel com essa maniobra em que ele era o alvo e a vítima.
A vida de Daniel prova que um homem pode ser íntegro tanto na adversidade como na prosperidade. Muitos fraquejam quando passam pelo teste da adversidade. Daniel foi integro quando chegou a Babilônia como escravo. Ele resolveu firmemente não se contaminar. Agora ele passa pelo teste da prosperidade. Foi o primeiro ministro da Babilônia e agora e um governador do reino medo-persa. Sua integridade e a
mesma. Ele não se deixa seduzir pela fama nem pela riqueza. Ele é um homem absolutamente confiável. A integridade nem sempre nos ajuda a granjear amigos. Gente íntegra é uma ameaça ao sistema de corrupção. Daniel incomodava a equipe de governo de Dario. Um funcionário honesto é uma ameaça para o sistema viciado pela corrupção. Uma jovem que não transige em seu namoro é vista como alguém antiquado. Um comerciante íntegro é uma ameaça para o sistema de propinas.
A vida de Daniel prova que a integridade implica em você fazer o que é certo quando ninguém olha ou mesmo quando todos transigem. Uma pessoa íntegra procura agradar a Deus mais que aos homens. Ela não depende de elogios nem muda sua rota por causa das críticas. Uma pessoa íntegra cumpre com a palavra empenhada e seu aperto de mão vale mais que um contrato. Daniel mantém-se íntegro apesar de haver uma debandada geral no governo de Dario. Ele sabia que sua integridade o tornava impopular diante dos outros líderes, mas sua consciência era cativa ao Senhor e comprometida com a verdade. Os opositores de Daniel odiaram-no não porque ele praticara o mal, mas porque ele praticara o bem. Eles bajularam e se tornaram hipócritas para alcançar o fim que desejavam, a morte de Daniel. Eles agiram em surdina, maquinaram nos bastidores, tramaram na escuridão.
Por ser fiel, voce pode ser perseguido com maior rigor. As trevas aborrecem a luz. Os que andam na verdade perturbam os que vivem no engano. O íntegro é uma ameaça aos corruptos.
Um homem que prefere morrer a transigir com sua integridade (Dn 6.10-17)
Daniel não muda sua agenda ao saber que estava sentenciado à morte. Ele foi perseguido não por ser corrupto, mas por ser íntegro. Tramaram contra ele para afastá-lo do poder.
Dario caiu na armadilha da bajulação e se tornou refém de suas próprias leis. Daniel, seu homem de maior confiança, foi sentenciado à cova dos leões por causa de sua irretocável integridade. Daniel não foge nem transige, mas continua orando ao Senhor como costumava fazer (v. 10). As circunstâncias mudaram, mas não Daniel. Aprendeu a ser íntegro na mocidade e jamais mudou sua rota. Mesmo ancião, prefere a morte a transigir com sua consciência.
Estou de acordo com a afirmação de Olyott: “A verdadeira cova dos leões de Daniel foi seu quarto”.49 Ali foi seu Getsêmani, em que certamente foi tentado. Ele sabia que poderia ser destroçado pelos leões. O diabo prefere que preservemos nossas vidas e percamos nosso testemunho. Certamente, ele deve ter sido tentado a transigir ao se ajoelhar para orar: “Por que não facilitar as coisas? Veja a posição de privilégios de que goza. Pense na influência que continuará exercendo se transigir só nesse ponto. Assegure seu futuro. Não ore a Deus em público apenas durante este mês. Ore secretamente em seu coração, se quiser, mas por que fazê-lo como sempre fez? Certamente, você será notado e perderá tudo, inclusive a vida”.
Daniel foi denunciado, preso e jogado na cova dos leões. Sua integridade não o livrou da inveja, fúria, astúcia e perseguição dos corruptos. Mas Deus o sustentou em seu quarto de oração e fechou a boca dos leões na
cova da morte. Mesmo que você morra por causa de sua integridade, você ainda é bem-aventurado porque felizes são aqueles que sofrem por causa da justiça!
Daniel enfrenta a conspiração de seus inimigos não com armas carnais, mas com oração (Dn 6.10,11). Dario assina uma sentença irrevogável, pois a lei é maior do que o rei. Dario caiu na arapuca da lei e da ordem. Não havia motivo para acusar Daniel, então arranjaram um. Ao fim, os culpados seriam os inocentes e Daniel seria morto pelas mãos do próprio rei, um inocente. O destino de Daniel estava lavrado. Sua sentença de morte foi assinada.
Como Daniel enfrentou aquela situação humanamente irreversível? Ele orou. Como ele orou? Do mesmo jeito que sempre orara. Não mudou a postura, nem o lugar, nem o conteúdo da oração. Vejamos algumas marcas de sua oração: em primeiro lugar, sua oração foi constante. Daniel tinha o hábito de orar. Ele não suspendeu sua prática de oração quando foi informado de que as circunstâncias eram desfavoráveis a ele. As circunstâncias mudaram, mas Daniel não.
Em segundo lugar, sua oração foi regular. Daniel ora três vezes ao dia (SI 55.17). Ele não se escondeu nem diminuiu seu ritmo de oração. Se não agendarmos nossa vida de oração, não orarmos. Tudo aquilo que é importante para nós deve estar em nossa agenda.
Em terceiro lugar, sua oração foi confiante. Ele orava com a janela aberta para as bandas de Jerusalém. Ele acreditava na promessa de 1 Reis 8.46-49, quando o templo foi consagrado. Ele orou com fé. Ele sabia que Deus podia intervir. Ele já tivera experiências com Deus.
Em quarto lugar, sua oração foi corajosa. Ele abre a janela como costumava fazer. Ele não se preocupa em
fechar a janela. Ele sabe que é Deus quem nos livra. DEle vem nosso socorro.
Em quinto lugar, sua oração foi cheia de gratidão. Daniel está sentenciado à morte, mas agradece a Deus em sua oração.
Finalmente, sua oração foi cheia de intensidade. Daniel não apenas orou e deu graças, ele também fez súplicas. Ele pôs toda a intensidade de sua alma em seu clamor a Deus. Súplica é oração com forte grau de intensidade.
Daniel não foi poupado dos problemas, mas nos problemas (Dn 6.11-17). Seus inimigos agiram com maldade, orquestrando e tramando nos bastidores. Nesse processo, quatro coisas acontecem: em primeiro lugar, a descoberta (Dn 6.11). Os orquestradores contra Daniel encontraram-no orando. Era tudo que eles precisavam para levar adiante o plano de matá-lo.
Em segundo lugar, a informação (Dn 6.12-15). A informação estava cheia de veneno: 1) acentuava o preconceito, falando de Daniel como um exilado, mesmo depois de setenta anos de integridade como o homem mais importante do governo; 2) acrescentava uma informação falsa, afirmando que Daniel não fazia caso do rei; e 3) ressaltava que tanto Daniel como o rei foram vítimas de uma trama.
Em terceiro lugar, a execução (Dn 6.16,17). A cova dos leões era a forma mais cruel de sentença de morte no reino medo-persa. Babilônia matava numa fornalha, o reino medo-persa na cova dos leões.
Em quarto lugar, o livramento (Dn 6.18-23). Você não pode evitar que os homens maus tramem contra você, mas você pode orar, e Deus pode frustrar o propósito dos ímpios. Os perversos não contavam com a intervenção de
Deus, com o livramento do anjo do Senhor. Stuart Olyott narra essa situação da seguinte maneira:
Naquela noite, Satanás não incomodou Daniel, porque este lhe havia resistido. Daniel teve a companhia do Senhor Jesus Cristo! O anjo do Senhor que guiou Jacó do início ao fim de sua longa vida, o anjo que andou com Sadraque, Mesaque e Abednego na fornalha de fogo — esse mesmo anjo abençoou Daniel, ficando ao seu lado durante aquela noite. Aquele que, anos depois, mostraria Sua autoridade sobre os ventos e as ondas do mar, naquela noite demonstrou Sua autoridade sobre os leões ao restringir todos seus instintos naturais, a fim de não matarem brutalmente a vítima que lhes fora apresentada!50
Um homem honrado por Deus por sua integridade (Dn 6.18-28)
Quando cuidamos de nossa integridade, Deus cuida de nossa reputação. Daniel não podia administrar a orquestração dos seus inimigos, nem fazer o rei retroceder, nem mesmo se recusar a ir para a cova dos leões. Ele não podia tapar a boca dos leões, mas podia manter-se íntegro. Ele podia orar e pôr sua confiança em Deus. Isso ele fez. Cabe a nós manter-nos fiéis, velar pelo nosso testemunho e honrar a Deus com nossa vida. Cabe ao Senhor nos livrar das garras do inimigo. Daniel creu em Deus e o anjo fechou a boca dos leões.
Deus livrou Daniel em meio do problema e não do problema. Muitas vezes, Deus não nos poupa das aflições, mas nos livra nelas ou mesmo na morte.51
Quando cuidamos de nossa integridade, Deus defende nossa causa contra nossos inimigos (Dn 6.24). Daniel saiu da cova dos leões. A maldição dos seus inimigos caiu sobre a cabeça deles (v. 24). Daniel foi exaltado e honrado, enquanto seus inimigos foram desmascarados e destruídos.
Quando cuidamos de nossa integridade, Deus nos exalta (Dn 6.28). Daniel viu a Babilônia cair. Ele foi promovido no reino de Dario, o medo, e também no reino de Ciro, o persa. Deus honra aqueles que o honram. Deus é quem exalta e também quem humilha.
Quando cuidamos de nossa integridade, o nome de Deus é exaltado (Dn 6.26,27). Mais do que o nome de Daniel, o nome de Deus foi proclamado e exaltado em todo o império medo-persa. O fim último de nossa vida é glorificar a Deus. Devemos viver de tal maneira que os homens vejam nossas boas obras e glorifiquem ao nosso Pai que está nos céus.
Dario exaltou a Déus dizendo: 1) Ele é o Deus vivo; 2) Ele é o Deus eterno que vive para sempre; 3) Seu reino jamais será destruído; 4) o domínio de Deus jamais terá fim; 5) Ele é o Deus que livra, salva e faz maravilhas; e 6) Ele é o Deus que livrou Daniel.