As escrituras e a oração

As escrituras e Cristo
15/12/2013
Autoridade – Liderança Com Espírito de Servo
26/12/2013

Um crente que não ora é uma contradição de termos. Tal como um aborto é uma criança morta, assim também o crente professo que não ora está destituído de vida espiritual. A oração é como que a respiração da nova vida dos santos, do mesmo modo que a Palavra de Deus é o seu alimento. Quando o Senhor quis assegurar ao Seu discípulo de Damasco que Saulo de Tarso verdadeiramente se convertera, disse-lhe: “… pois ele está orando” (Atos 9:11). Em muitas ocasiões anteriores aquele fariseu, tão justo a seus próprios olhos, tinha dobrado os joelhos diante de Deus em suas “devoções”; mas aquela era a primeira vez em que ele realmente orava. Essa importantíssima distinção precisa ser frisada nesta nossa época de formalidades externas mas sem poder (II Timóteo 3:5). Aqueles que se contentam em dirigir-se formalmente a Deus, na realidade não o conhecem; e isso porque “o espírito de graça e de súplicas” (Zacarias 12:10) jamais poderão ser separados. Deus não possui filhos mudos em Sua família de regenerados: “Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a Ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los?” (Lucas 18:7). Sim, os escolhidos “clamam” ao Senhor, e não meramente “rezam”.

Mas, ficará o prezado ouvinte surpreendido se este pregador lhe disser que a sua profunda convicção é que o povo do Senhor, com toda a probabilidade, peca mais em seus esforços para orar do que em conexão com qualquer outra coisa que costumam fazer? Quanta hipocrisia existe, onde deveria haver sinceridade! Quantas exigências presunçosas, onde deveria haver submissão! Quanta formalidade, onde deveria haver quebrantamento de coração! Quão pouco realmente sentimos os pecados que confessamos, e quão superficial é nosso senso de necessidade das misericórdias que buscamos! E até mesmo nos casos em que Deus nos confere certa medida de livramento desses tremendos pecados, quanta frieza de coração, quanta incredulidade, quanta atitude voluntariosa e quanto desejo de agradar a nós mesmos deveríamos lamentar! Aqueles que não têm consciência dessas coisas são inteiramente estranhos para o espírito de santidade.

Ora, a Palavra de Deus deveria ser o nosso manual de orações. Infelizmente, porém, com quanta freqüência as nossas próprias inclinações carnais servem de regra para as nossas petições. As Sagradas Escrituras nos foram outorgadas a fim de que “… o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (II Timóteo 3:17). Visto que de nos é requerido orar “… no Espírito Santo… ” (Judas 20), segue-se que as nossas orações deveriam seguir o padrão das Escrituras, pasto que Ele é o Seu autor do princípio ao fim. E disso se conclui, por semelhante modo, que segundo a medida em que estiver habitando em nós ”ricamente” (Colossenses 3:16) a Palavra de Deus – ou então com pobreza – as nossas orações estarão mais ou menos em harmonia com a mente do Espírito, porquanto “… a boca fala do que está cheio o coração” (Mateus 12:34). Na proporção em que entesourarmos a Palavra, em nossos corações, e na medida em que ela limpar, amoldar e regulamentar nosso homem interior, assim também as nossas orações serão aceitáveis aos olhos de Deus. E então seremos capazes de dizer, conforme fez Davi em outra conexão: “Porque tudo vem de ti, e das tuas mãos to damos” (1 Crônicas 29:14).

Por conseguinte, a pureza e a potência de nossa vida de oração servem de um outro índice mediante o qual podemos determinar até que ponto nos estamos beneficiando de nossa leitura e pesquisa bíblicas. Se, debaixo da bênção do Espírito Santo, nossos estudos da Bíblia não nos estão convencendo de que não orar é pecado, e nem nos estão revelando o papel que a oração deveria ocupar em nossas vidas diárias, para que dediquemos mais tempo real a nos abrigarmos no lugar secreto do Altíssimo; a menos que isso nos esteja ensinando como orar de maneira mais aceitável a Deus, como nos apossarmos de Suas promessas e como fazer-lhe os nossos rogos, como nos apropriarmos de Seus preceitos para que os transformemos em petições, então não somente o tempo que gastamos com a Bíblia em pouco ou nada tem contribuído para o enriquecimento da alma, mas também o próprio conhecimento que tivermos adquirido com a letra das Escrituras contribuirá para a nossa condenação, naquele dia vindouro. “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tiago 1:22). Essa declaração se aplica às admoestações da Bíblia relativas à oração, como a todas as demais instruções que nela há. Desejamos, em seguida, salientar sete critérios a respeito.

 

1.Tiramos proveito das Escrituras quando somos levados a perceber a importância profunda da oração.

É de temer-se que, de fato, muitos dos ouvintes (e até mesmo estudiosos) da Bíblia não tenham qualquer convicção formada de que uma definida vida de oração é absolutamente essencial para andarmos e comungarmos diariamente com Deus, tal como é essencial para que sejamos libertados do poder do pecado no íntimo, das seduções do mundo e dos assédios de Satanás. Se tal convicção realmente se tivesse apossado de seus corações, não passariam muito mais tempo de rosto em terra, perante Deus? É mais do que em vão dizer: “Uma multidão de deveres impedem que eu me entregue à oração, embora isso seja contra os meus desejos”. Porém, permanece de pé o fato de que cada um de nós dedica tempo para qualquer coisa que consideramos imperativo. Quem jamais viveu uma vida tão atarefada como o nosso Salvador? No entanto, quem encontrava mais tempo do que Ele para orar? Se verdadeiramente anelamos por ser súplices e intercessores perante Deus, e usamos todo o tempo disponível, Ele porá as coisas em tal ordem que nos sobrará mais tempo.

A falta de convicção positiva sabre a profunda importância da oração se evidencia claramente na vida coletiva dos crentes professos. Deus declarou com toda a clareza: “A Minha casa será chamada casa de oração” (Mateus 21:13). Notemos que não se trata de uma casa para “pregar” ou para “cantar”, e, sim, uma casa de oração. No entanto, na maioria até mesmo das chamadas igrejas ortodoxas, o ministério da oração se tem reduzido a um ponto desprezível. Continua havendo campanhas evangelísticas e conferências bíblicas, mas quão raramente se ouve falar na dedicação de duas semanas a orações especiais! E quanto bem podem fazer essas “conferências bíblicas”, se a vida de oração das igrejas não for fortalecida?

Porém, quando o Espírito Santo aplica poderosamente aos nossos corações palavras como “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação” (Marcos 14:38), “. . . em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça” (Filipenses 4:6), e “Perseverai na oração, vigiando com ações de graça” (Colossenses 4:2), então é que estamos nos beneficiando de nossos estudos das Escrituras.

 

2. Tiramos proveito das Escrituras quando somos levados a refletir que não sabemos como orar.

“. . .não sabemos orar como convém… ” (Romanos 8:26). Quão poucos crentes professos realmente acreditam nisso! A idéia mais generalizada entre os homens é que eles sabem bem acerca do que devem orar, mas que por serem descuidados e ímpios, não oram em favor daquilo que sabem com certeza ser o seu dever. Esse conceito, entretanto, está em total desarmonia com a inspirada declaração de Romanos 8:26. Devemos também observar que essa afirmação, tão humilhante para a carne, não diz respeito aos homens em geral, tão-somente, mas dirige-se particularmente aos santos de Deus, entre os quais o apóstolo não hesitou em incluir a si próprio: “… não sabemos orar como convém…. ”

Ora, se essa é a condição que prevalece entre os regenerados, quanto mais no caso dos não regenerados! Contudo, uma coisa é lermos e assentirmos mentalmente ao que este versículo assevera; mas é coisa inteiramente diversa perceber experimentalmente a sua verdade, pois, para que o coração seja levado a sentir aquilo que Deus requer de nós, é necessário que Ele mesmo opere em nós e por nosso intermédio.

Com freqüência digo minhas orações,

Mas, realmente chego a orar?

E harmonizo os desejos do coração

Com as palavras que profiro?

Eqüivaleria a ajoelhar-me

E a adorar deuses de pedra,

Se apenas ofereço ao Deus vivo

Orações que são somente palavras.

Faz muitos anos que essas linhas foram ensinadas a um teólogo pela sua mãe – que já é falecida – mas a sua perscrutadora mensagem ainda o impressiona muitíssimo. O crente não pode orar sem a aptidão dada diretamente pelo Espírito Santo, como também não pode criar um mundo. Assim realmente deve ser, pois a oração verdadeira é uma necessidade sentida e despertada em nós pelo Espírito, porquanto pedimos a Deus, em nome de Cristo, aquilo que está de conformidade com a Sua santa vontade. “E esta  é a confiança que temos para com ele, que, se pedirmos alguma cousa segundo a sua vontade, ele nos ouve” (I Joio 5:14). Por outro lado, pedir qualquer coisa que não esteja de acordo com a vontade de Deus não é oração, é presunção.

É verdade que a vontade revelada de Deus se faz conhecida em sua Palavra; mas não da mesma maneira que um livro de receitas de cozinha contém receitas para o preparo de vários pratos. As Escrituras freqüentemente enumeram princípios que exigem um contínuo exercício do coração, bem como a ajuda divina, para que nos seja mostrada a sua aplicação a diferentes casos e circunstâncias.

Portanto, estamos realmente tirando proveito das Escrituras quando nos é ensinada a nossa profunda necessidade de clamar: “Senhor, ensina-nos a orar” (Lucas 11:1). Porque então é que realmente somos constrangidos a pedir dEle o espírito de oração.

3. Beneficiamo-nos de nossos estudos bíblicos quando ficamos conscientes da necessidade que temos da ajuda do Espírito Santo. 

Em primeiro lugar, para que Ele nos torne conhecidas as nossas autênticas necessidades. Tomemos, par exemplo, as nossas necessidades temporais. Com quanta freqüência achamo-nos em alguma situação aflitiva; externamente falando, as coisas nos pressionam fortemente, e desejamos muito ser libertos desses testes e dessas dificuldades. Certamente que, nesse caso, sabemos, por nós mesmos, acerca do que nos convém orar.

Mas não! De fato, as coisas são bem diferentes disso! Pois a verdade é que, a despeito de nosso desejo natural de alívio, tão ignorantes somos nós e tão embotado é o nosso discernimento, que (até mesmo quando nossa consciência está desperta) não sabemos em que ponto Deus quer que nos submetamos à Sua vontade, ou de que modo poderemos ser santificados nessas aflições, fazendo-as redundar em nosso bem interno. Por conseguinte, Deus designa as petições da maioria daqueles que buscam alívio, devido a aflições externas, de “uivos”, e não “clamores de coração” (Oséias 7:14). “Pois quem sabe o que é bom para o homem, durante os poucos dias da sua vida de vaidade os quais gasta como sombra?” (Eclesiastes 6:12). Ah, a sabedoria celestial se torna necessária, para ensinar-nos a orar acerca das nossas “necessidades” temporais, de conformidade com a mente de Deus.

Talvez algumas poucas palavras precisem ser acrescentadas àquilo que acabamos de dizer. Podemos orar, com sanção bíblica, pelas coisas temporais (Mateus 6:11ss.); mas isso com a seguinte tríplice limitação: Incidentalmente, mas não primariamente, podemos orar par elas, pois não são essas as coisas que mais preocupam o crente (Mateus 6:33). As realidades celestiais e eternas (Colossenses 3:1) é que devem ser procuradas primeira e principalmente, por serem de muito maior importância do que as coisas de valor meramente temporal.

Também podemos orar subordinadamente, como um meio para obtenção de um fim qualquer. Ao pedirmos as coisas materiais da parte de Deus, não devemos fazê-lo a fim de obter satisfação própria, e, sim, como ajuda que nos permita agradar melhor ao Senhor. Por fim, podemos orar de maneira submissa, e não como ditadores, porquanto isso importaria no pecado de presunção. Outrossim, não sabemos dizer com certeza se qualquer misericórdia temporal realmente contribuiria para nosso maior bem (Salmo 106:18), pelo que também devemos permitir que Deus decida a questão.

Temos desejos internos; tanto quanta desejos externos. Alguns desses desejos podem ser discernidos à luz da consciência, tal como a culpa e a contaminação do pecado, como os pecados contra a luz e contra a natureza de acordo com a clara letra da lei. Não obstante, o conhecimento que temos de nós mesmos, através da consciência, é tão obscuro e confuso que, à parte do auxílio do Espírito Santo, de forma alguma seremos capazes de descobrir a verdadeira fonte da purificação. As coisas a respeito das quais os crentes devem tratar primariamente com Deus, e geralmente o fazem, em suas súplicas, são as atitudes intimas e as disposições espirituais de suas almas.

Assim é que Davi não se satisfez somente em confessar todas as transgressões conhecidas e o seu pecado original (Salmo 51:1-5), nem ainda em reconhecer que ninguém poderia compreender os seus erros próprios, em razão de que almejava ser purgado de suas ”faltas ocultas” (Salmo 19:12); mas também implorou a Deus que levasse a efeito a sondagem profunda de seu coração, para que desvendasse o que havia de errado ali (Salmo 139:23,24), porque sabia que Deus, antes de tudo, requer a “… verdade no íntimo… ” (Salmos 51:6).

Portanto, em face do trecho de I Coríntios 2:10-12, devemos buscar, de maneira bem definida, a ajuda do Espírito Santo, a fim de podermos orar de modo aceitável a Deus.

 

4. Extraímos benefícios das Escrituras quando o Espírito Santo nos ensina a correta finalidade da oração.

Deus determinou a ordenança da oração com, pelo menos, um designo tríplice. Primeiro, para que o grande Deus triuno seja honrado, já que a oração é um ato de adoração, a prestação de uma homenagem – a Deus Pai, como o Doador, em nome do Filho, o Único por intermédio de quem nos aproximamos dEle, devido ao poder impulsionador e orientador do Espírito Santo. Segundo, para humilhar os nossos corações, já que a oração foi determinada para levar-nos a uma posição de dependência, para que em nós se desenvolva o senso de incapacidade reconhecendo que sem o Senhor nada podemos fazer, porquanto também dependemos da Sua caridade por tudo quanto somos e temos. Porém, quão debilmente isso é percebido (se é que é percebido) por qualquer de nós, até que o Espírito Santo nos tome em Sua mão, remova de nós o orgulho e dê a Deus o lugar que a Ele compete, em nossos corações e em nossos pensamentos. Terceiro, como meio pelo que obtenhamos para nós mesmos as coisas boas que pedimos.

É de temer-se grandemente que uma das principais razões pelas quais tantas de nossas orações ficam sem resposta é que temos alguma finalidade errônea e indigna em mira. Nosso Salvador disse: “Pedi, e dar-se-vos-á” (Mateus 7 :7). No entanto, Tiago ensina a respeito de certos homens: “. . . pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres” (Tiago 4:3). Orar em prol de qualquer coisa, mas não expressamente para a finalidade designada por Deus, é “pedir mal”, e, portanto, é pedir sem propósito algum. Qualquer que seja a confiança que podemos ter em nossa própria sabedoria e integridade, se formos abandonados aos nossos próprios recursos, nossos alvos jamais se harmonizarão com a vontade de Deus. A menos que o Espírito Santo refreie a natureza carnal que há em nós, nossos próprios afetos naturais e insubmissos se imiscuirão em nossas súplicas, e estas se tomarão vãs. “Quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (I Coríntios 10:31). Contudo, somente o Espírito pode capacitar-nos a subordinar todos os nossos desejos à glória divina.

 

5. Tiramos proveito das Escrituras quando ali somos ensinados sobre como devemos pleitear as promessas de Deus.

Toda a oração deve ser feita na atmosfera da fé (Romanos 10:14), pois, do contrário, Deus não a ouvirá. Ora, a fé diz respeito às promessas de Deus (Hebreus 4:1; Rom. 4:21); por conseguinte, se não entendermos o que Deus Se comprometeu a dar-nos, não poderemos nem ao menos orar. As promessas de Deus contêm a matéria da oração e definem as suas dimensões. Aquilo que Deus tem prometido, tudo quanto Ele tem prometido, e nada mais, sobre isso podemos orar. “As cousas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus. . .” (Deut. 29:29), mas aquilo que Ele tem mostrado ser de Sua vontade, como revelação de Sua igreja, pertence a nós; e isso nos serve de regra.

Não há nada de que tenhamos necessidade que Deus não tenha prometido suprir; mas o faz de tal maneira e sob tais limitações que sejam boas e úteis para nós. Por semelhante modo, nada há que Deus tenha prometido, e de que não tenhamos necessidade, ou que, de um modo ou de outro, não se refira a nós, na qualidade de membros do corpo místico de Cristo. Portanto, quanto melhor estivermos familiarizados com as promessas divinas, e quanto mais formos capazes de compreender a bondade, a graça e a misericórdia preparadas e propostas naquelas promessas, tanto melhor equipados estaremos para fazer orações aceitáveis ao Senhor.

Algumas das promessas de Deus são gerais, e não específicas; algumas delas são condicionais, ao passo que outras são incondicionais; algumas se cumprem ainda nesta vida, mas outras, somente no mundo vindouro. Por nós mesmos não somos capazes de discernir qual promessa se adapta melhor para nosso caso específico e para nossa presente urgência e necessidade, para que dela nos apropriemos pela fé e façamos um apelo correto perante Deus. É por isso que nos é expressamente dito: “Porque qual dos homens sabe as cousas do homem, senão o seu próprio espírito que nele está? Assim também as cousas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e, sim, o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dada gratuitamente” (I Coríntios 2:11,12).

Se porventura alguém replicar: “Se tanta coisa é exigida para que se façam orações aceitáveis, e se não se podem fazer súplicas corretas a Deus sem tanta dificuldade como aqui é indicado, poucos se dedicarão por muito tempo a este mister”, então a resposta é que a pessoa que assim objeta não sabe o que é orar, e nem está disposta a aprender a fazê-lo.

 

6. Tiramos real proveito das Escrituras quando somos levados a uma completa submissão a Deus.

Conforme foi declarado acima, uma das finalidades divinas, ao determinar a ordenança da oração, é que assim fôssemos humilhados. Isso é externamente denotado quando nos prostramos de joelhos perante o Senhor. A oração é o reconhecimento de nossa incapacidade e impotência, em que olhamos para Aquele de onde chega toda a nossa ajuda. Isso reconhece a Sua suficiência para suprir cada uma das nossas necessidades. Orar é tornar conhecidas as nossas “petições” (Filipenses 4:6) a Deus; mas petições são bem diferentes de exigências. “O trono da graça não foi erigido para que ali cheguemos e descarreguemos nossos sentimentos indignados perante Deus” (Wm. Gurnall). Compete-nos expor o nosso caso na presença de Deus, mas permitir que a Sua sabedoria superior prescreva como a questão deve ser solucionada. Não podemos ditar a Deus, e nem podemos “reivindicar” qualquer coisa da parte de Deus, porquanto somos esmoleiros que dependem de Sua pura misericórdia. Em todas as orações devemos acrescentar: “No entanto, não seja feita a minha vontade, e, sim, a Tua”.

Porém, não pode a fé pleitear as promessas de Deus e esperar a resposta? Certamente, mas deve ser a resposta de Deus. O apóstolo Paulo rogou ao Senhor, por três vezes, que lhe removesse certo espinho na carne; ao invés de fazê-lo, o Senhor lhe conferiu a graça para suportar tal espinho (II Coríntios 12:7-9). Muitas das promessas de Deus são coletivas, e não pessoais. Ele prometeu dar à Sua Igreja pastores, mestres e evangelistas; no entanto, muitas das comunidades de Seus santos tem definhado por longo tempo sem esses ministérios. Outras promessas divinas são indefinidas e gerais, ao invés de serem absolutas e universais. Isso se verifica, por exemplo, no trecho de Efésios 6:2,3. Deus jamais Se comprometeu a dar-nos bens definidos em espécie ou tipo, a conferir-nos aquela coisa específica que pedimos, embora a peçamos com fé.

Outrossim, Ele reserva para Si mesmo o direito de determinar o tempo próprio, a ocasião certa, para derramar sabre nós a Sua mercê. “Buscai o SENHOR, vós todos os mansos da terra… porventura lograreis esconder-vos no dia da ira do SENHOR” (Sofonias 2:3). Justamente porque “pode” fazer parte da vontade de Deus proporcionar-me determinada bênção temporal, é meu dever lançar-me aos Seus cuidados e pleitear essa bênção; mas sempre com inteira submissão ao Seu beneplácito, para que isso se realize.

 

7. Beneficiamo-nos das Escrituras quando a oração se torna uma alegria real e profunda.

Meramente “dizer as orações” a cada manhã e tarde é uma tarefa enfadonha, um dever que produz um suspiro de alívio ao ser realizado. Porém, realmente chegar à presença consciente de Deus, contemplar a luz gloriosa de Sua face, ter comunhão com Ele diante do propiciatório, é prelibação da bem-aventurança eterna que nos espera nos Céus. Aquele que é abençoado com essa experiência pode dizer juntamente com o salmista: “Quanto a mim, bom é estar junto a Deus… ” (Salmo 73:28). Sim, é bom para o coração, porque esse é aquietado; é bom para a fé, pois essa é fortalecida; é bom para a alma, pois ela é abençoada. A ausência dessa comunhão de alma com Deus é a raiz que impede a resposta às nossas orações: “Agrada-te do SENHOR, e Ele satisfará aos desejos do teu coração” (Salmo 37:4).

Qual é o fator que, sob a bênção do Espírito Santo, produz e promove essa alegria na oração? Em primeiro lugar, é o deleite do próprio coração em Deus, como o grande Objeto da oração; e, mais particularmente, o reconhecimento e a percepção de Deus como nosso Pai. Por essa razão é que quando os discípulos pediram ao Senhor Jesus que lhes ensinasse a orar, Ele respondeu: “… vós orareis assim: Pai nosso que estás nos Céus…” (Mateus 6:9). E também se lê : “E, porque vós sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba (termo hebraico que significa “Pai”) Gálatas 4:6. E isso inclui um deleite filial e santo em Deus, tal como as crianças têm em seus progenitores, quando se dirigem de maneira mais amorosa a eles. Por essa razão, por semelhante modo, é que nos é dito, em Efésios 2:18, para fortalecimento da fé e para consolo de nossos corações que “…por Ele (ou seja, Cristo), ambos temos acesso ao Pai em um Espírito”. Que paz, que certeza e que liberdade isso nos confere à alma – sabermos que nos aproximamos de nosso Pai!

Em segundo lugar, a alegria na oração é promovida pelo fato de que o coração aprende e a alma vê a Deus, como Alguém assentado no trono da graça – uma visão de expectação, conferida, não pela imaginação carnal, e, sim, pela iluminação espiritual, já que é pela fé que vemos “…aquele que é invisível” (Hebreus 11:27), porque também a fé é “… a convicção de fatos que se não vêem” (Hebreus 11:1), o que faz com que o seu objeto se torne evidente e presente para aqueles que crêem. Tal vista de Deus sobre um “trono” não pode deixar de arrebatar a alma. Por isso mesmo, somos exortados: “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hebreus 4:16).

Em terceiro lugar, e isso com base no último trecho bíblico citado, a liberdade e o deleite na oração são estimulados polo consciência de que Deus, por intermédio de Jesus Cristo, está disposto e pronto a dispensar graça e misericórdia aos pecadores súplices. Não há nEle qualquer relutância que precisamos vencer. Por esse motivo é que ele é representado, em Isaías 30:18, do seguinte modo: “Por isso o SENHOR espera, para ter misericórdia de vós, e se detém para se compadecer de vós, porque o SENHOR é Deus de justiça; bem-aventurados todos os que nele esperam”.

Sim, Deus espera ser solicitado por nós; Ele espera que depositemos fé em Sua pronta disposição para abençoar-nos. Seus ouvidos estão perenemente abertos para os clamores dos justos. Assim sendo, “… aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé… ” (Hebreus 10:22). E também se lê em Filipenses 4:6,7 : “… em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus”.

Pr.Raul
Pr.Raul
Pastor do Ministério Nascido de Novo e coordenador do Seminário Teológico Nascido de Novo, Youtuber e marido da Irmã Vanessa Ângelo.

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