Vamos dar continuidade a análise da perícope da mulher adúltera, que em algumas bíblias não constam ou pelo menos estão entre colchetes (trazendo a ideia de que a passagem não é original)
Depois que conferimos as testemunhas que não trazem a história da mulher adúltera, e que são usadas como base para que o texto crítico (eclético) egípcio não concorde com a mesma, passemos agora a analisar se existe alguma antiguidade comprovada e que confirme a legitimidade da passagem de João 7:53 – 8:11.
No quadro abaixo as informações foram extraídas do NT Grego da SBB 4ª edição. Nesse quadro (resumido, por questão de espaço) iremos colocar apenas aquelas testemunhas mais antigas e outras nem tanto, mas que, na minha opinião, são mais relevantes nesse momento. Vejamos:
Atestam a história da mulher adúltera
TESTEMUNHAS SÉCULO
PAPIRUS, UNCIAIS E MINÚSCULOS
D V
GIX
H IX
892 IX
1006 XI
1424 IX
LECIONÁRIOS E VERSÕES ANTIGAS
Itaur, c, d, e, ff2 VII, XII, V, V, V
Vg IV
Sir VI
copbo(pt) IX
armmss a partir do quinto século
geo V
esl a partir do nono século
constituições apostolicas II
PAIS DA IGREJA
Ambrosiastro IV
Ambrósio IV
Paciano IV
Rufino V
Fausto de Mileves IV
Agostinho V
Jerônimo V
Na parte que se refere aos códices, unciais e minúsculos, destaca-se o códice Bezae, do século V, que é um dos cinco manuscritos mais importantes para a reconstrução do texto do Novo Testamento. O interessante é quando chegamos nas traduções antigas, como é o caso das ítalas (It na tabela). Das cinco ítalas citadas acima, pelo menos três delas pertencem ao século V, ou seja, tão antigas quanto as testemunhas que não atestam a passagem e que são descritas como “os melhores manuscritos do Novo Testamento”.
Em seguida, destaque também para a Vulgata (Vg) de Jerônimo, do século IV. Constituições Apostólicas também remete ao século IV, e nesse documento antigo consta a perícope da mulher adúltera. Para mais informações de testemunhas, é necessário a consulta de um aparato crítico encontrado no rodapé do Novo Testamento Grego da SBB usado na tabela, dentre outros materiais.
Dos pais da igreja citados na tabela, praticamente todos são da tradição latina e que datam dos séculos IV e V. Interessante é a argumentação de Paulo Anglada em seu livro “Manuscritologia do Novo Testamento: história, correntes textuais e o final do evangelho de Marcos”:
“Quanto aos Pais da Igreja, embora Westcott-Hort afirmem que não existam variantes sírias anteriores a Crisóstomo, (falecido em 407), estudos posteriores têm contrariado esta declaração. Mesmo Wallace, apesar de negar que haja Pais da Igreja anteriores a essa data que citem consistentemente o texto bizantino, reconhece, pelo menos, que leituras bizantinas são encontradas em alguns Pais da Igreja dos três primeiros séculos.” (ANGLADA, 2014).
Percebe-se a importância dos Pais da Igreja, principalmente em seus escritos antigos e como os mesmos servem para os estudos da Manuscritologia hoje. Até ecléticos respeitados (como Daniel Wallace) reconhecem a utilidade dos manuscritos da patrística e como eles atestam leituras defendidas pelo Texto Majoritário, como no exemplo abordado pelo artigo.
O Dr Wilbur Pickering também faz seu protesto à argumentação eclética com respeito a omissão desta passagem:
“Qual é o antecedente de ‘lhes’, e qual é o significado de ‘outra vez’? Pelas regras normais da gramática, se 7:53 – 8:11 estão faltando, então ‘lhes’ tem que referir aos ‘fariseus’ e ‘outra vez’ significa que [nesta conversação], Jesus já lhes dirigia a palavra pelo menos uma vez. Mas 7:45 deixa claro que Jesus não estava lá com os fariseus”.
Embora bem técnico, está claro para Pickering que, ao retirar esta passagem do evangelho de João o texto fica totalmente sem nexo. Ele ainda deixa claro no aparato crítico do texto grego Família 35 (elaborado pelo próprio Pickering) que os manuscritos que confirmam a passagem da mulher adúltera equivalem a 85% de todos os manuscritos gregos existentes hoje.
Não colocamos os demais documentos mais tardios, pois, como falamos acima, preferimos destacar apenas os mais antigos ou mais importantes para os acadêmicos.
Enfim, dizer que esta passagem não constava originalmente no autógrafo de João é uma alegação um tanto perigosa, frente a tantas provas citadas acima defendendo sua originalidade. O texto Majoritário, o texto da Família 35 assim como o texto Recebido (Receptus) trazem esta perícope como original, assim como encontrado na bíblia ACF e na BKJ. Reconhecemos os textos oriundos da massa bizantina como sendo aqueles mais próximos dos autógrafos, ao contrário do texto baseado na região egípcia, que, por sinal, é o mais divulgado hoje pelas sociedades bíblicas.
Recomendamos aos estudiosos e curiosos do assunto uma análise profunda sobre os temas abordados em nossos artigos, visto que temos hoje alguns materiais que trabalham essas questões, e não simplesmente dar ouvidos a propagadores do texto eclético que, na maioria das vezes, são desonestos em suas informações (ou falta delas) ao público.
Que Deus abençoe a todos!
No vídeo abaixo trabalho sobre o tema:
Referências
ALMEIDA, João Ferreira. A Bíblia Sagrada Revista e Atualizada, 2ª edição 1993, SBB, São Paulo;
ANGLADA, Paulo. Manuscritologia do Novo Testamento – História, Correntes Textuais e o Final Longo de Marcos, 1ª edição: Knox Publicações, Ananindeua – PA;
GOMES, Paulo Sérgio e OLIVETTI, Odayr. O NOVO TESTAMENTO INTERLINEAR ANALÍTICO GREGO-PORTUGUÊS – texto majoritário com aparato crítico. São Paulo: Cultura Cristã, 2ª ed. 2015;
O NOVO TESTAMENTO GREGO (vários autores), 4ª edição revisada, 1993, SBB: 13ª impressão, 2007;
PAROSCHI, Wilson. ORIGEM E TRANSMISSÃO DO NOVO TESTAMENTO. Barueri, SP; SBB, 2012;
PICKERING, Wilbur N. QUAL O TEXTO DO NOVO TESTAMENTO? Papper. Dallas. 1990.
_________________. THE GREEK NEW TESTAMENT: According to the Family 35. Second Edition, 2015.
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Me chamo Leydson Oliveira. Sou formado em Pedagogia e pós-graduado em Gestão Escolar. Também tenho Bacharel em Teologia e atualmente sirvo na Igreja Batista da Adoração (IBA) na cidade de Mata Roma - MA.