Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne. HEBREUS 10.20
Porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito. EFÉSIOS 2.18
Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno. HEBREUS 4.16
Imagine uma pessoa em frente à Casa Branca. Ainda melhor, imagine você mesmo em frente à Casa Branca.
É, você na calçada, olhando através da grade, sobre a grama, a casa do presidente dos Estados Unidos. É você — em plena forma — cabelos penteados e sapatos encerados, entrando pelos portões. Seu passo é firme e os passos largos. Deveriam ser. Você veio para encontrar-se com o presidente.
Existem alguns assuntos a discutir com ele.
Primeiro, há um hidrante bem em frente à porta de sua casa. Será que daria para amenizar um pouquinho o vermelho dele? É muito berrante.
Então vem a questão da paz mundial. Você é a favor — seria possível?
E, por último, a mensalidade da faculdade do seu filho está muito cara. Será que ele poderia ligar para lá e pedir um desconto? Ele deve ter alguma influência.
Todas questões importantes, certo? Não tomariam mais do que poucos minutos. Além do mais, você trouxe alguns biscoitos para ele dividir com a primeira dama e o primeiro cãozinho. Então, com a pasta na mão e um sorriso nos lábios, você adentra os portões e anuncia ao guarda:
— Eu gostaria de ver o presidente, por favor.
Então o seu nome é requerido. Ele olha a lista, volta-se para você e diz: – Não existe registro sobre a sua visita.
— É preciso marcar visita?
— Sim.
— Como consigo uma?
— Através do escritório dele.
— Qual o número deles?
— Não posso dar, é restrito.
— Então como entrar?
— É melhor esperar que eles te chamem.
— Mas eles não me conhecem!
O guarda dá de ombros.
— Então provavelmente não ligarão.
Você vai embora e começa sua jornada para casa. Suas perguntas ficam sem resposta e as necessidades sem atendimento.
E pensar que estava tão perto! Se o presidente saísse até o gramado, você poderia ter acenado, e ele respondido. Eram apenas alguns metros até a porta da frente… mas a distância era também quilométrica. Vocês dois estavam separados por uma grade e um guarda.
Então vem o problema do Serviço Secreto. Caso conseguisse entrar, eles o teriam impedido. Os funcionários teriam feito o mesmo. Haveria muitas barreiras.
E quanto às barreiras invisíveis? Barreiras do tempo (o presidente está muito ocupado), barreira do status (você não tem influência) e barreiras do protocolo (é preciso utilizar os canais certos). Assim, você sai da Casa Branca com nada mais do que uma dura lição aprendida. Não há acesso ao presidente. Sua conversa com o comando? Não acontecerá. Seus problemas sobre a paz e a solicitação sobre o hidrante continuam com você.
Quer dizer, a menos que ele tome a iniciativa. A menos que ele aponte para você na calçada, tenha pena de sua petição e diga ao chefe da guarda: “Vê aquela pessoa com o saco de biscoitos? Diga a ele que quero falar-lhe por um minuto”.
Se este comando for dado, todas as barreiras cairão. O Salão Oval chamará o chefe da segurança. O chefe da segurança chamará o guarda, que por sua vez chamará a você: “Sabe de uma coisa? Não sei como explicar, mas as portas do Salão Oval estão abertas”.
Você pára, endireita os ombros e entra pelo mesmo portão onde, minutos antes, lhe fora negado o acesso. O guarda é o mesmo, mas a situação é diferente. Agora lhe é permitido entrar onde antes lhe fora proibido.
E, ainda melhor, você não é mais o mesmo. Sente-se especial, escolhido. Por quê? Porque o homem lá de cima o viu aqui em baixo e permitiu que você entrasse.
É, é isto mesmo. É uma história de fantasia. Você e eu sabemos que, quanto ao presidente, não haverá convites. Mas quanto a Deus, apanhe seus biscoitos e entre, pois já foi convidado.
Ele apontou para você. Ele já te ouviu e já te convidou. O que uma vez o separou já foi removido: “Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto” (Ef 2.13), Nada pode estar entre você e Deus a não ser uma porta aberta.
Mas como pode ser isto? Se não conseguimos chegar perto do presidente, quanto mais uma audiência com Deus? Como pode ser? Em uma palavra, alguém abriu as cortinas. Alguém rasgou o véu. Algo aconteceu na morte de Cristo que abriu as portas para você e para mim. E este algo é descrito pelo escritor aos Hebreus.
Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne (Hb 10.19-20).
Para os cristãos primitivos, aquelas palavras finais foram explosivas: “pelo véu, isto é, pela sua carne”. De acordo com o escritor, o véu é igualado à carne de Jesus. Por conseguinte, o que quer que tenha acontecido à carne de Jesus aconteceu também ao véu. O que aconteceu a sua carne? Foi rasgada. Rasgada pelos chicotes, rasgada pelos espinhos. Rasgada pelo peso da cruz e pela ponta dos cravos. Mas no horror de sua carne rasgada, encontramos o esplendor da porta aberta.
“E Jesus, clamando outra vez com grande voz, entregou o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras” (Mt 27.50-51).
O véu do templo que ficava diante do santuário, você se lembrará, era a parte do templo onde ninguém podia entrar. Os adoradores judeus tinham acesso ao átrio externo, mas apenas ao sacerdote era permitido entrar no santuário. E ninguém, exceto o sumo sacerdote em um dia do ano, podia lá entrar. Ninguém. Por quê? Porque a glória de shekinah —a glória de Deus — estava presente naquele local.
Se tivessem dito que a entrada no Salão Oval da Casa Branca era livre, você teria balançado a cabeça e dito: “você deve estar louco, colega”. Multiplique sua descrença por mil, e terá uma idéia de como se sentiria um judeu caso alguém dissesse que ele poderia entrar no Santo dos Santos.
Ninguém além do sumo sacerdote podia entrar no Santuário.
Ninguém. Fazer isto significava a morte. Dois dos filhos de Arão morreram ao entrar no lugar do Santo dos Santos para oferecer sacrifícios ao Senhor (Lv 16.1-2). Em outros termos, o véu declarou:
“Até aqui. Não mais do que isto”.
Qual seria a mensagem que um véu de 1.500 anos do santuário poderia comunicar? Simples. Deus é Santo… Separado de nós e inacessível. Até mesmo Moisés ouviu: “Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá” (Êx 33.20). Deus é Santo, nós, pecadores, e esta é a distância entre nós.
Não é este o nosso problema? Sabemos que Deus é bom. Sabemos que nós não somos bons, e nos sentimos distantes de Deus. Fazemos nossas as antigas palavras de Jó: “Não há entre nós árbitro que ponha a mão sobre nós ambos” (Jó 9.33).
Mas há! Jesus não nos deixou com um Deus inacessível. Sim, somos pecadores. Mas, sim, sim, sim, Jesus é o nosso mediador. “Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo” (1 Tm 2.5). Não é apenas um mediador que “fica entre”? Não foi Jesus o véu entre nós e Deus? Não foi sua carne rasgada?
O que parecia ser a crueldade do homem era, na verdade, a soberania de Deus. Mateus nos diz: “E Jesus, clamando outra vez com grande voz, entregou o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras” (Mt 27.50-51).
É como se as mãos dos céus tivessem segurado o véu, aguardando este momento. Tenha em mente o tamanho do véu — dezoito metros de altura por nove metros de largura.! Em um momento ele estava inteiro; no outro foi rasgado em dois, de alto a baixo. Sem demora. Sem hesitação.
Qual o significado do véu rasgado? Para os judeus significava o fim das barreiras entre eles e o santuário. Era o fim dos sacerdotes entre Deus e eles. O fim do sacrifício de animais para a expiação dos pecados.
E para nós? O que este ato significa para nós?
Somos convidados para entrar na presença de Deus – qualquer dia, a qualquer momento. Deus removeu as barreiras que nos separavam dEle. A barreira do pecado? Caiu. Ele removeu o véu.
Mas a nossa tendência é levantar barreiras. Embora o véu não mais exista, há um véu em nosso coração. Assim como os ponteiros do relógio são os enganos do coração. E, algumas vezes, não, sempre, permitimos que estes enganos nos separem de Deus. Nossa consciência de culpa torna-se o véu que nos separa de Deus.
Como resultado nos escondemos de nosso Mestre.
É exatamente isto que faz o meu cão, Salty. Ele sabe que não pode mexer no lixo. Mas deixe a casa sem a presença de humanos e o lado obscuro de Salty vem à tona. Se houver comida na lata do lixo, a tentação é muito grande. Ele a encontra e faz a festa.
Foi o que ele fez dia destes. Quando cheguei a casa, não consegui encontrá-lo. Vi a lata caída, mas não achei o Salty. A princípio fiquei louco de raiva, mas superei. Se eu tivesse apenas ração de cachorro para me alimentar durante todo o dia, talvez esquadrinhasse o local para conseguir algo diferente. Limpei a bagunça, prossegui o meu dia e esqueci o assunto.
Mas Salty não. Ele manteve distância. Quando finalmente o vi, seu rabo estava entre as pernas, e suas orelhas caídas. Então percebi, “ele pensa que estou bravo. Não sabe que já superei seu erro”.
Posso estabelecer a aplicação óbvia? Deus não está bravo com você. Ele já perdoou seu engano.
Em algum lugar, em algum momento, e de alguma forma você foi apanhado no lixo, e tem evitado Deus. Você permitiu que o véu da culpa fosse colocado entre você e seu Pai. Fica pensando se um dia se sentirá perto de Deus novamente. A mensagem da carne rasgada é: você pode. Você é bem-vindo para Deus. Deus não está te evitando. Deus não está resistindo a você. O véu foi rasgado, a porta aberta, e Deus o está convidando.
Não confie em sua consciência. Confie na cruz. O sangue foi derramado e o véu rasgado. Você é bem-vindo à presença de Deus. E nem precisa trazer biscoitos.