E Pilatos escreveu também um título e pô-lo em cima da cruz; e nele estava escrito: JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS. João 19.19
De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus. ROMANOS 10.17
Estou certo de que, quando subo ao púlpito para pregar ou para fazer a leitura da Palavra, não são as minhas palavras, mas minha língua é a pena do escritor preparado. MARTINHO LUTERO
Antes de me casar eu sabia a importância da leitura dos sinais de uma esposa. Sábio é o homem que aprende as linguagens não verbais de sua esposa, que nota os acenos e os gestos de discernimento. Não se trata apenas do que é dito, mas como. O bom marido é um bom decifrador. É preciso ler os sinais.
Eu pensei estar fazendo um ótimo trabalho naquele fim de semana em Miami. Casados havia apenas alguns meses, estávamos recebendo uma visita em nosso apartamento. Convidei um pregador do culto de domingo para estar conosco no sábado à noite. O perigo apontou para mim, uma vez que este convidado não era um amigo da faculdade; ele era mais velho, um distinto professor. Não um professor qualquer, mas um especialista em relacionamentos familiares!
Quando Denalyn recebeu a notícia, deu-me um sinal, um sinal verbal:
– É melhor fazermos uma faxina no apartamento.
Na noite de sexta-feira, ela deu o segundo sinal, não verbal. Ajoelhou-se na cozinha e começou a esfregar o chão. Superando a mim mesmo, uni os dois sinais, compreendi a mensagem e levantei-me do sofá.
“Em que eu poderia ajudar?”, pensei. Descartando os trabalhos mais simples, como tirar o pó, passar aspirador, passei a procurar pela tarefa mais desafiadora possível. Após uma diligente busca, encontrei uma perfeita. Eu colocaria as fotografias nos porta-retratos. Um de nossos presentes de casamento havia sido um porta-retratos, e ainda estava fechado. Mas tudo isto mudaria nesta noite.
Então, mãos à obra! Com Denalyn esfregando o chão atrás de mim e uma cama por fazer ao meu lado, abri e espalhei uma caixa de fotografias e comecei a arrumá-las. (Não sei o que eu estava pensando. Acho que eu teria dito ao convidado: “Ei, tire os olhos do chão da lavanderia e olhe para nossa coleção de fotos” .)
Não compreendi a mensagem. Quando Denalyn, com uma voz gélida que teria congelado a morte, perguntou-me o que eu estava fazendo, ainda não havia compreendido a mensagem.
— Estou fazendo uma seleção das fotografias. — respondi alegremente.
Durante os trinta minutos seguintes, ela nada disse. Sem problema. Pensei que ela estivesse orando, agradecendo a Deus pelo marido dedicado. Imaginei-a pensando: “Quem sabe ele vai cuidar do álbum de recortes depois”.
Porém não eram aqueles os seus pensamentos. Minha primeira pista de que havia algo errado foi seu último pronunciamento da noite. Após ter limpado todo o apartamento sozinha, ela anunciou: — Vou para a cama. Estou muito chateada. Amanhã pela manhã conversamos.
Uhhhhh.
Algumas vezes não compreendemos os sinais. (Mesmo agora, algum marido bem intencionado, leitor destas páginas, pode estar indagando: “Por que ela ficou chateada?”)
O moldador de nosso destino conhece a nossa estupidez. Deus sabe que às vezes não entendemos os sinais. Talvez seja este o motivo pelo qual Ele nos dê tantos. O arco-íris após a chuva significa o pacto de Deus. A circuncisão identifica a escolha de Deus, e as estrelas mostram o tamanho de sua família. Mesmo hoje, vemos os sinais da igreja do ovo Testamento. A ceia é um sinal de sua morte, e o batismo um sinal de nosso nascimento espiritual. Cada um destes sinais simboliza uma grande verdade espiritual.
No entanto, o sinal mais pungente foi encontrado na cruz. Um sinal comissionado romano, trilíngüe e pintado à mão.
E Pilatos escreveu também um título e pô-lo em cima da cruz; e nele estava escrito: JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS. E muitos dos judeus leram este título, porque o lugar onde Jesus estava crucificado era próximo da cidade; e estava escrito em hebraico, grego e latim. Diziam, pois, os principais sacerdotes dos judeus a Pilatos: Não escrevas, Rei dos judeus, mas que ele disse: Sou Rei dos judeus. Respondeu Pilatos: O que escrevi, escrevi (Jo 19.19-22).
Por que há um sinal colocado acima da cabeça de Jesus? Por que esta frase incomodou os judeus e por que Pilatos recusou-se a modificá-la? Por que as palavras foram escritas em três línguas diferentes, e por que este sinal é mencionado nos quatro evangelhos?
De todas as possíveis respostas a estas questões, focalizemos apenas uma. Seria possível ser este pedaço de madeira uma imagem da dedicação de Deus? Um símbolo de sua paixão para anunciar ao mundo a história de seu Filho? Um lembrete de que Deus fará o impossível para compartilhar conosco a mensagem deste sinal? Penso que este sinal revela duas verdades sobre o desejo de Deus para alcançar o mundo.
Não há pessoa que Ele não use.
Note que o sinal gera fruto imediato. Lembra-se da resposta do ladrão? Momentos antes da sua morte, em meio à terrível dor, ele olha para Jesus e pede: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino” (Lc 23.42).
Que escolha interessante de palavras. Ele não suplica: “Salva-me”. Tampouco, “Tenha misericórdia da minha alma”. Seu apelo é o de um servo a um rei. Por quê? Por que ele fez referência ao reino de Jesus? Talvez por ter ouvido seu discurso. Talvez estivesse familiarizado com as reivindicações de Jesus. Ou, mais provável, ele tenha lido o sinal: “Jesus de Nazaré, o Rei dos Judeus.”
Lucas parece fazer uma conexão entre a leitura deste escrito e a oferta da oração. Em uma passagem ele escreve: “E também, por cima dele, estava um título, escrito em letras gregas, romanas e hebraicas: ESTE É O REI DOS JUDEUS” (Lc 23.38). Após três versículos, lemos a petição do ladrão: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino.”
O ladrão sabia que estava em meio a uma bagunça real. Ele vira-se e lê uma proclamação real, e pede por uma ajuda real. Deve ter sido simples assim. este caso, o sinal foi a primeira ferramenta utilizada para proclamar a mensagem da cruz. Inúmeros outros se seguiram, da palavra impressa ao rádio, às cruzadas nos estádios e ao livro que você está segurando. Mas o rústico sinal da cruz precedeu a todos os outros. E, por causa deste sinal, uma alma foi salva. Tudo porque alguém colocou um sinal na cruz.
Não sei se os anjos fazem algum tipo de entrevista na entrada do céu, mas caso isto aconteça, esta seria engraçada de ver. Imagine o ladrão chegando nos Portões Perolados do Centro de Processamentos.
ANJO: Sente-se. Agora diga-me, Sr…. hum… Ladrão, como você foi salvo?
LADRÃO: Apenas pedi que Jesus se lembrasse de mim em seu Reino. É claro que eu não esperava isto tão cedo.
ANJO: Entendo. E como você soube que Ele era o Rei?
LADRÃO: Havia um sinal sobre a sua cabeça: “Jesus de Nazaré, Rei dos judeus.” Eu acreditei naquela frase e — aqui estou!
ANJO: (Tomando nota num bloco) Creu… em um… sinal.
LADRÃO: Certo. O sinal foi colocado ali por um homem chamado João.
ANJO: Acho que não.
LADRÃO: Hmmm. Talvez tenha sido o outro discípulo, Pedro.
ANJO: Não foi Pedro.
LADRÃO: Então qual dos apóstolos fez isto?
ANJO: Bem, se você realmente quer saber, o sinal foi idéia de Pilatos.
LADRÃO: Não brinque! Pilatos?
ANJO: Não se surpreenda. Deus usou um arbusto para falar com Moisés e um jumento para convencer um profeta. Para atrair a atenção de Jonas, Deus usou um grande peixe. Não existe uma pessoa sequer que Ele não possa usar. Bem, está terminado. (carimbos nos papéis) Entregue isto no próximo guichê. (o ladrão começa a sair) Apenas siga as setas.
A intenção de Pilatos não era pregar o Evangelho. a verdade, o sinal é dito de tantas formas e em tantas palavras: “Isto é o que acontece a um rei judeu; isto é o que os romanos fazem com ele. O rei desta nação é um escravo; um criminoso crucificado: e se este foi o final do rei, o que será da nação deste rei?”! Através daquele sinal, Pilatos tencionava amedrontar e maltratar os judeus. Mas Deus tinha um outro propósito… Pilatos foi o instrumento de Deus para proclamar o Evangelho. Sem saber, Pilatos serviu de escrivão dos céus. Ele escreveu esta frase ditada por Deus. E este sinal mudou o destino de um leitor.
Não há uma pessoa sequer que Deus não possa usar.
Esta não era a sua intenção, pasme, pois ele mesmo não era crente. Seu nome era T. D. Weldon. Ele, assim como Lewis, era polêmico. De acordo com um biógrafo, ele “escarnecia de todas as crenças e de quase todas as declarações positivas.” Lewis escreveria que Weldon “acredita já ter visto de tudo e vive os fundamentos.” Weldon foi um intelectual, um cínico descrente. Mas, certo dia, um comentário seu redirecionou a vida de Lewis. Ele estava estudando a defesa teológica dos evangelhos. “Inebriante”, comentou (com a peculiaridade de um britânico), “este assunto do… Deus que morreu. É quase como se tivesse realmente acontecido.” Lewis mal pôde crer no que ouvira. A princípio pensou que Weldon estivesse bêbado. A afirmação — tão brusca e casual — foi suficiente para fazer com que Lewis acreditasse que Jesus poderia ser realmente quem ele declarava ser.2
Um ladrão foi levado a Cristo por alguém que rejeitou a Cristo. Um aluno foi levado a Cristo por alguém que não acreditava em Cristo.
Não há pessoa que Ele não possa usar. E,
Não há linguagem que Ele não possa falar.
Qualquer transeunte poderia ler os sinais, pois qualquer um conseguia ler hebraico, latim ou grego — os idiomas mais importantes do mundo antigo. “Hebraico era o idioma de Israel, a linguagem da religião; o latim, idioma dos romanos, a linguagem da lei e dos governos; e o grego, idioma da Grécia, a linguagem da cultura. Cristo foi declarado rei em todas elas.”3 Deus tem uma mensagem para cada uma. “Cristo é o Rei.” A mensagem era a mesma, porém em diferentes idiomas. Uma vez que Jesus era o Rei de todos estes povos, a mensagem teria de ser no idioma de cada um deles.
Não há língua que Ele não fale. O que nos leva a uma maravilhosa questão. Em que linguagem Ele está falando com você? Não me refiro a um idioma ou dialeto, mas ao seu cotidiano. Como já é sabido, Deus fala. Ele fala conosco em qualquer língua que entendamos.
Há momentos em que utiliza a “linguagem da abundância”. Como está o seu tempo? Suas contas estão pagas? Tem alguns tostões em sua carteira? Não fique tão orgulhoso pelo que você possui, pois pode acabar não ouvindo o que precisa. Será que você pode ofertar muito porque possui muito? “E Deus é poderoso para tornar abundantemente em vós toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, toda suficiência, superabundeis em toda boa obra” (2 Co 9.8).
Deus está utilizando a “linguagem da abundância”? Ou você está ouvindo o “vernáculo da necessidade”? Preferimos quando a linguagem da abundância é utilizada, mas não é sempre assim.
Posso compartilhar uma época em que Deus me deu uma mensagem utilizando a necessidade? O nascimento de nossa primeira filha coincidiu com o cancelamento de nosso plano de saúde. Ainda não compreendo como isto aconteceu. Este fato estava relacionado com o fato de a empresa ter sede nos EUA e Jenna ter nascido no Brasil. Denalyn e eu fomos surpreendidos pela alegria de uma menina de 3,5 quilos e o fardo de uma conta hospitalar de, na época, duzentos e cinqüenta dólares. Pagamos a conta raspando toda a nossa poupança.
Gratos por termos podido pagar a dívida, mas desnorteados pelo problema do seguro-saúde, pensei: “Estará Deus tentando nos dizer algo?”
Após algumas semanas veio a resposta. Fui convidado para falar em um retiro para uma pequena, porém muito alegre, igreja na Flórida. Um membro da congregação entregou-me um envelope e disse:
— Isto é para a sua família.
Tais presentes não eram incomuns. Estávamos acostumados a isto e gratos por estes solícitos donativos, que geravam entre cinqüenta a cem dólares. Eu esperava que a oferta estivesse em torno disto. Mas, quando abri o envelope, o cheque era (você já pode adivinhar) de duzentos e cinqüenta dólares.
Embora fosse através da linguagem da necessidade, Deus falou comigo. Foi como se dissesse: “Max, estou envolvido em sua vida. Vou tomar conta de você”.
Você está ouvindo a “linguagem da necessidade”? Quem sabe a “linguagem da aflição”? Falando sobre um idioma que evitamos, você e eu sabemos que Deus fala em corredores de hospitais e leitos de enfermidades. Sabemos o que Davi quis dizer com as palavras: “Deitar-me faz em verdes pastos” (Sl 23.2). Nada parece voltar nossos ouvidos à voz de Deus como um corpo enfermo.
Deus fala todas as linguagens — incluindo a sua. Não disse Ele, “Instruir-te-ei e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir” (Sl 32.8)? Em Jó 22.22 somos advertidos: “Aceita, peço-te, a lei da sua boca e põe as suas palavras no teu coração”. Qual linguagem Deus tem utilizado para falar a sua vida?
E você não está grato por isso? Não está feliz por Ele se importar a ponto de falar contigo? Não é bom saber que “o segredo do Senhor é para todos que o temem” (Sl 25.14)?
Meu tio Carl ficou grato por alguém ter falado com ele. Um caso de sarampo na infância o deixou surdo e mudo. Quase todos os seus sessenta e tantos anos foram vividos em impassível silêncio. Poucas pessoas falavam sua linguagem.
Meu pai foi um deles. Talvez o fato de ser o irmão mais velho o fizesse sentir-se protetor. Após a morte de seu pai, provavelmente ele tenha se sentido abandonado. Qualquer que tenha sido o motivo, meu pai aprendeu a linguagem dos sinais. Papai não era um aluno ávido. Ele não terminou o colegial. Tampouco freqüentou a faculdade. Nunca sentiu necessidade de aprender espanhol ou francês. Mas a linguagem de seu irmão foi um aprendizado em que meu pai se empenhou profundamente.
Era só papai entrar no aposento e o rosto de Carl brilhava. Os dois encontravam um canto, as mãos voavam e eles se divertiam muito. E, embora nunca tivesse ouvido Carl dizer obrigado (ele não podia), seu grande sorriso não deixava dúvidas de sua gratidão. Meu pai aprendera a sua linguagem.
Seu Pai também aprendeu a falar a sua linguagem. “Por que a vós é dado conhecer os mistérios do Reino dos céus.” (Mt 13.11). Seria possível encontrar uma palavra de agradecimento a Ele? E, enquanto isto, pergunte a Ele se você pode estar perdendo quaisquer sinais que Ele esteja colocando em seu caminho.
Uma coisa é não compreender a mensagem de sua esposa sobre limpar a casa. Outra completamente diferente é não compreender a mensagem de Deus sobre o destino de sua vida.