2- PSICOLOGIA E CRISTIANISMO – Psicologia da Religião
O que é a verdade? “Quid est veritas”? Todas as filosofias têm procurado a resposta a esta pergunta fundamental para a religiosidade humana. As pessoas têm apresentado a sua verdade em contraposição àquilo que consideram falsidade; cada uma possui a sua verdade em matéria de religião. Por isso se diz que religião não se discute. A alternativa verdade-falsidade é uma das medidas mais primordiais e da qual o ser humano não pode prescindir nem tampouco a consegue definir.
Outro conceito difícil de definir, mas que importa para a discussão da religiosidade, é a realidade. O que é real? O que é ilusório? As descobertas
científicas têm trazido a lume algumas realidades. Entretanto, quando são feitas novas descobertas, aquelas já se consideram apenas aparências e não realidade. Hoje não existem respostas científicas absolutas, pois os cientistas sempre estão descobrindo novas realidades.
Os psicólogos, por sua vez, confrontam-se com outro problema: subjetividade ou objetividade? Subjetivo seria aquilo que é diretamente vivido e que está, de certo modo, confinado à própria pessoa. Objetivo seria tudo aquilo que pode ser comprovado e observado também por outras pessoas. Nem sempre os fatos objetivos interferem do mesmo modo na vida das pessoas, pois cada uma reage de certa forma aos mesmos fatos; daí o subjetivo. Em matéria de percepção, todos concordam que varia conforme a luminosidade, as substâncias, o ângulo da observação, de modo que cada pessoa pode perceber a realidade de determinada forma.
Por isso, a Psicologia se limita a estabelecer em que condições e de acordo com que relações ocorrem um determinado fato psíquico, mas não pode estabelecer se tal fato ocorre ou não realmente: a percepção do movimento ou da causalidade pode ocorrer com movimentos e relações causais tanto reais quanto aparentes. Um sonho se distingue da realidade, mas apenas quando estamos acordados, pois quando estamos dormindo, o sonho parece realidade.
O comportamento emotivo é muito importante para valorizarmos uma situação, pois podemos nos comportar levados pelos sentimentos e não pela realidade em si. Jung afirmou que a realidade é tudo aquilo que atua: “es ist wirklich, was wirkt”. O que está carregado de significado emotivo isso é o real. Daí, o psicólogo não poder afirmar se há ou não uma realidade distinta da realidade psíquica; ele se limita a estabelecer como se constrói o real na realidade psíquica. Isso marca os limites das possibilidades do psicólogo como estudioso dos fatos psíquicos.
Para a Psicologia, todos os fatos religiosos são explicáveis em termos psicológicos e na concatenação psicológica deles não há lacunas que exijam outras causas além das psicológicas. Essa afirmativa acaba excluindo a possibilidade de causas extra-psicológicas ou extra-subjetivas. A religião, neste caso, apenas expressa necessidades humanas. Entretanto, a religião não é apenas uma realidade subjetiva; é uma instituição social. Além disso, no ato religioso se estabelece a comunicação com algo ou alguém que está fora do sujeito.
A experiência religiosa é vivenciada como ação de algo estranho, que a pessoa admira e com o qual trata de estabelecer comunicação. Não se trata de objetos aos quais se dirijam atos psíquicos ou tendências, e sim de um objeto distinto daqueles aos quais se dirigem atos ou tendências, que se apresenta como o fundamento de todos os objetos, ao qual não pode escapar nem mesmo o sujeito. Na religião há indicações que não devem ser subestimadas:
• Sua exigência de dirigir-se a algo real, independente e não fantástico, fictício;
• A nota de presença de algo nitidamente distinto da experiência comum;
• A posição receptiva, não ativa, diante desse algo operante;
• O esforço de comunicar-se com ele e de compreendê-lo racionalmente;
• A relação com o mistério, imediata, misteriosa, regozijante, terrível, para alguns, e imperceptível, doce e persuasiva, para outros. Portanto, a religiosidade não pode ser avaliada apenas do ponto de vista psicológico, mas também deve considerar as observações da Filosofia, da História, das ciências da natureza e das diversas religiões existentes, que mostrarão uma possibilidade a mais: a revelação. A religião não pode ser avaliada apenas objetivamente, mas também subjetivamente. Há a presença de um mistério e a necessidade de uma participação nele. Por isso, constroem-se os símbolos que significam a substituição da realidade por um sinal. O mundo religioso não se apresenta com a frieza do mundo da ciência, mas com o fervor dramático e até mesmo trágico do mundo humano.